Uma reflexão e uma proposta (espero) polêmica
O Dia Sem Carro foi coberto por vários veículos de comunicação e amplamente comemorado. É o tipo de ação que quase ninguém se opõe. Mas ontem um amigo me chamou a atenção: em seguida das notícia sobre o dia sem carro, quase todas as propagandas eram de carro.
Lembrando de um post recente no excelente blog do Sakamoto, é muita cara de pau vender um carro falando que ele vai a 300 km/h e tem um bilhão de cavalos de potência quando não há um pedaço de estrada no Brasil cuja velocidade máxima seja superior a 120 km/h.
Penso nisso quando vejo pessoas usando SUVs para se locomover até o mercado, a dez minutos, ou para ir na academia (!!!!) usando um carro enorme, super poluente e super caro. Penso nisso quando as pessoas parecem cada vez mais preocupadas em “consumir de maneira mais consciente”, o que se traduz em consumir mais, na verdade.
Seria bem melhor para o “verde” se as pessoas, em vez de consumir mais carros, mais poderosos, mais poluentes, mais espaçosos, de empresas que gastam uma triliardária verba publicitária para mostrarem como estão tão preocupados com o meio ambiente, levantassem a bundinha do banco do carro e andassem até a academia ou a padaria. Ou fossem de bicicleta, metrô, ônibus, bonde, teleférico...
Tenho perfeita noção do tamanho do fetiche que é o carro no mundo de hoje. O valor de um carro, é muito claro isso, não se resume ao seu valor de uso, ou seja, não basta um carro levar de um lugar pro outro. Para o consumidor médio, o carro é muito mais que isso. Por isso mesmo quero deixar aqui uma proposta que vai de encontro a isso e que pode, de fato, impactar esse mercado e os hábitos das pessoas:
- E se só fosse permitida a venda de carros com, no máximo, 1000 cilindradas?
- E que viessem com todos os itens de segurança, como air bag e freios ABS, de fábrica (isso já foi aprovado e entra em vigor em 2014 – hoje, esses itens são opcionais).
- E se todos os carros viessem com um sistema que restringe a velocidade máxima que ele atinge a 120 km/h?
- Estariam excluídos disso os carros de polícia, bombeiro e ambulâncias, claro. Além dos carros de corrida, etc.
Não seria mais efetivo que as elitistas e sempre presentes propostas de tirar os carros "mais poluentes" (leia-se velhos, de pobre), além de mais democrático?
Claro que as pessoas, com o dinheiro que têm, devem comprar o que bem entenderem. Mas quando falamos de um carro, falamos de algo que não diz respeito só à pessoa, mas também a todo mundo à sua volta que respira o ar, que tem que conviver com carros em alta velocidade ameaçando se descontrolarem e sendo projetados para pontos de ônibus, matando, mutilando, com o trânsito absurdo de milhares de carros, cada um com uma pessoa dentro, entre outros problemas... Nada contra quem gasta milhões com jóias, relógios, seja lá o que for.
Rodrigo Mendes de Almeida é jornalista e colunista do NR
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