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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 23, 2012

Divulgação de grampos expõe Rosalba e Agripino

Gravações do Ministério Público revelam como funcionava caixa 2 para eleição de senadora pelo RN; áudios comprometem a governadora do Estado, Rosalba Ciarlini, e o senador José Agripino, presidente nacional do DEM; assista vídeos
Um blog do Rio Grande do Norte está fazendo um barulhão: o jornalista Daniel Dantas divulgou, em seu blog homônimo, um acervo de interceptações telefônicas legais, geradas em 2006, um ano eleitoral – e que agora botaram em maus lençóis a atual governadora Rosalba Ciarlini (DEM). Na época, ela era candidata ao Senado; e as gravações revelam a maquinaria financeira de como se faz uma senadora. Ou não.
São 42 as interceptações originárias de Galbi Saldanha. Ele aparece conversando com o marido da governadora Rosalba Ciarlini, Carlos Augusto, com o senador José Agripino Maia (DEM-RN) e com outros interlocutores, tratando de assuntos relacionados à movimentação financeira da campanha de Rosalba para o Senado em 2006. Na maioria das escutas, o "primeiro-damo" Carlos Augusto Rosado e o então assessor Galbi Saldanha tratam das negociações financeiras pesadérrimas.
Na gravação, o senador José Agripino Maia, presidente nacional do DEM, trata de pagamentos. O advogado Felipe Cortez, que defende a governadora Rosalba Ciarlini, diz que tudo é besteira: sustenta que a Procuradoria-Geral da República (PGR) promoveu o arquivamento do processo que tratava dos vídeos em 2009 por falta de indícios de crime. Na maioria deles, o "primeiro-damo" Carlos Augusto Rosado e o então assessor Galbi Saldanha tratam das negociações.
As conversas já ganharam repercussão nacional. Em seu blog, o jornalista Cláudio Humberto repercutiu nota de José Agripino negando qualquer irregularidade. O conteúdo das conversas chegou a ser encaminhado à Procuradoria Geral da República, que arquivou o material por falta de substância. As conversas, contudo, expõem as articulações de bastidores eleitorais.
- Galbi, é só para saber se já tinha... se já deu a parcela dele... é... - começa o senador José Agripino
- A do menino, né? - interpela Galbi Saldanha.
- Salatiel, isso - confirma Agripino.
- Ok. Eu falei com ele naquela mesma hora e tudo ok.
- Tá. Eu tava em Maceió, mas minha satisfação era ser cumprido logo aquilo que eu prometi.
O trecho acima é reprodução de uma conversar travada entre os interlocutores em 17 de setembro de 2006. No mesmo dia, Galbi Saldanha e Salatiel de Souza diálogo sobre apoios eleitorais:
- Eu tô ligando pra você... doutora Rosalba tem uma encomenda pra você. Aí essa encomenda vai ser venho pra ela via PFL, você tá me entendendo né? - Diz Galbi.
- Certo. - confirma Salatiel, ao que Galbi continua:
- Tarcisinho tá autorizado de passar pra você essa encomenda. Como já veio pra ela, ela quer passar via PFL pra você.
A negociação está chancelada no TSE, que registra ter o comitê do então PFL transferido R$ 60 mil para Salatiel de Sousa.
Em outro trecho, Carlos Augusto comenta que vai transferir R$ 100 mil para a conta de campanha de Betinho Rosado, mas o que dinheiro não pertecence a ele, mas que apenas passará na conta dele. "Esse dinheiro é de Rosalba", destaca Carlos Augusto, que continua: "Quando entrar, a gente vê como volta para Rosalba".
As interceptações ainda flagram citações envolvendo montantes ao presidente da AL, Ricardo Motta e à deputada Gesane Marinho, o presidente da Câmara de Vereadores, Edivan Martins, e o ex-vereador Renado Dantas.
O Democratas emitiu, sobre o assunto, a seguinte nota:
NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE DOAÇÕES PARTIDÁRIAS DO PFL-RN EM 2006
O então PFL - RN fez nas eleições de 2006 doações oficiais a todos os seus candidatos a deputado, conforme atesta relação em anexo da prestação de contas já aprovada pelo TRE-RN.
Dessas doações partidárias fazem parte três parcelas de R$ 20 mil (comprovadas pela cópia de recibos oficiais em anexo) repassadas ao então candidato a deputado estadual Salatiel de Souza.
Atenciosamente

Ouça os grampos legais

As eleições de 2006, em seu primeiro turno, ocorreram em 01 de outubro. A partir daí, o grupo da campanha de Rosalba Ciarlini, liderado por Carlos Augusto Rosado, passa a se preocupar como pagar os débitos de compromissos assumidos.
O arquivo a seguir traz três interceptações diferentes, de ligações realizadas nos dias 09 e 10 de outubro. Na primeira dessas ligações, Galbi Saldanha conversa com um homem, identificado como Daniel, representante de Itamar Rocha. Daniel cobra uma posição. O pagamento do esquema a Itamar seria feito por meio de um contrato, que não tinha sido assinado. Como o contrato dizia respeito ao período eleitoral, haveria um problema.
"Não sei a forma como ele vai pagar, porque se era um contrato para pagar com cheque eu não posso pagar mais porque a eleição já passou", diz Galbi na segunda ligação do pacote, em conversa com uma mulher no escritório do PFL.
Na última ligação, Galbi diz que Carlos Augusto orientou a rasgar o contrato. O atual primeiro-cavalheiro reconhece a dívida, mas vai pagar apenas quando puder.
Outras dívidas são relatadas. Para o fim do mês, por exemplo, segundo Galbi, já estavam previstos pagamentos em torno de R$ 60 mil e ele não sabe como serão feitos os pagamentos, com o fim da campanha.
Nas gravações aparecem indícios relativos à compra de apoio e Caixa 2.
Ouça:
 

Essa gravação é a mais explícita de todas. E envolve dois vereadores em Natal na época, que eram candidatos - Edvan Martins, atual presidente da Câmara, e Renato Dantas, condenado por vender seu voto na Operação Impacto:



Ouça aqui o grampo feito contra o senador José Agripino Maia:

 

Em mais três gravações, Carlos Augusto fala claramente sobre a compra do apoio de três deputados estaduais:
E outros grampos cabeludos:
Claudio Julio Tognolli
No 247
*comtextolivre


Agronegócio, agrotóxico e “agrocâncer”

 

Via Brasil de Fato
As consequências desse modelo, que se tornou hegemônico nos últimos dez anos, já apresentam resultados perversos para o meio ambiente, para a economia e para a saúde dos brasileiros

Editorial da edição 482
As três palavras acima não são mera propaganda. Nos últimos dez anos tomou conta da forma de produzir na agricultura brasileira, o chamado agronegócio. Ele é um modelo de produção de mercadorias agrícolas, subordinado agora aos interesses do capital financeiro e das grandes empresas transnacionais. Aliados aos fazendeiros brasileiros, que entram com a natureza.
Nesse modelo, o capital financeiro entra com o capital. Do valor bruto de produção agrícola ao redor de 160 bilhões de reais, os bancos entram com aproximadamente 110 bilhões todos os anos, financiando a compra dos insumos e cobrando os juros, sua parte na mais-valia agrícola. E as empresas transnacionais fornecem os insumos agrícolas, máquinas, fertilizantes químicos e, sobretudo, os venenos agrícolas. A produção agrícola depois se destina ao mercado mundial, as chamadas commodities agrícolas.
Esse modelo construiu então uma forma de produzir, uma matriz tecnológica que combina grande propriedade, que vai aumentando a escala de produção a cada ano, monocultivo, se especializando num só produto de exportação, mecanização intensiva, pouco emprego de mão-de-obra direta e uso intensivo de venenos agrícolas. As conseqüências desse modelo que se tornou hegemônico nos últimos dez anos, e que atua independente de tudo, já apresentam seus resultados perversos, para o meio ambiente, para a economia brasileira, para o rendimento econômico dos próprios fazendeiros e, sobretudo para a saúde dos brasileiros.
Em termos econômicos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), esse padrão de exploração econômica levou a uma matriz básica de custo de produção, em que os fazendeiros capitalistas brasileiros gastam em média, 24% com fertilizantes químicos, quase todos importados, 15% de todo capital investido em venenos, e mais 6% em sementes transgênicas. Pagam em média 2% de royalties para as empresas de sementes, totalizando 47% de todo seu custo. E gastam apenas 4% com mão-de-obra de trabalhadores rurais brasileiros e ficam, no final, com 13% de lucro. Ou seja, a conta é clara. Nossa agricultura está totalmente subordinada aos interesses do capital financeiro e estrangeiro e transfere a eles a maior parte do valor de produção.
Os resultados no meio ambiente são catastróficos. Hoje 80% de todas as terras cultivadas são utilizadas no monocultivo da soja/milho, cana de açúcar, algodão e na pecuária extensiva. Isso tem gerado um desequilíbrio da biodiversidade na natureza, que se agrava com aplicação dos venenos agrícolas, que matam tudo.
Com essa destruição da biodiversidade pelo monocultivo e pela aplicação dos venenos se gera um desequilíbrio também no regime das chuvas e nas condições climáticas de todo território brasileiro. Essa é a razão fundamental da ocorrência mais freqüente de secas mais duras e de enchentes mais torrenciais em todas as regiões do país.
Também se percebe as conseqüências na saúde humana e animal. O Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Consumimos sozinhos 20% de todos os venenos do mundo. As dez maiores empresas mundiais produtoras de venenos, que começaram na primeira e segunda guerra mundial produzindo bombas químicas, agora produzem venenos. São elas: Sygenta, Bayer, Basf, Dow, Monsanto, Dupont, Makhteshim (de Israel) Nufarm (Austrália) e Sumimoto e FMC (Japão). São todas empresas transnacionais que controlam os venenos no mundo e aqui no Brasil. Os fazendeiros gastaram 7,3 bilhões de dólares comprando venenos nessas empresas.
Os venenos, por serem de origem química, não se degradam na natureza. Eles matam os insetos, as bactérias no solo, afetam a fertilidade, contaminam as águas subterrâneas, contaminam as chuvas - muitos desses venenos secantes evaporam e ficam na atmosfera e depois retornam com as chuvas. E contaminam os alimentos que as pessoas consomem.
No organismo das pessoas estes venenos geram todo tipo de distúrbio, vão se acumulando, afetam órgãos específicos, até produzirem câncer com a destruição das células.
O Instituto Nacional do Câncer tem denunciado e o Brasil de Fato repercutido que no país devem ocorrer ao redor de um milhão de novos casos de câncer por ano. A maior parte deles originários de alimentos com agrotóxicos. Destes, se diagnosticados com tempo, os médicos podem salvar 40%. Portanto, estamos diante da iminência de um verdadeiro genocídio provocado pelos agrotóxicos: o “agrocâncer”. Inclusive o câncer de mama, agora aparece entre mulheres de todas as idades e tem entre suas causas principais os agrotóxicos!
Isso e muito mais foi agora denunciado por um extenso e profundo relatório produzido pela Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). O documento alerta para os riscos e conseqüências que o uso generalizado de venenos agrícolas está provocando na saúde dos brasileiros.
O Brasil de Fato publica matérias – leia nas páginas 4, 5 e 6 – sobre estas graves questões que a chamada grande imprensa, macomunada com os interesses do agronegócio e das empresas de venenos, silenciou.
Somamo-nos, assim, à Campanha Nacional Contra o uso de Agrotóxico e pela Vida que reúne mais de 50 entidades nacionais da sociedade brasileira, em sua missão permanente de conscientizar a população, os verdadeiros agricultores, as entidades e os parlamentares para que se ponha um fim ao uso de venenos em nosso país. E que, sobretudo, se penalize as empresas transnacionais fabricantes. Essas empresas deveriam, inclusive, serem obrigadas a pagar ao SUS o custo do tratamento do câncer e de outras enfermidades comprovadamente originarias do uso de venenos em nossa alimentação.
*GilsonSampaio

Deleite A Rosa de Hiroshima dos Secos e Molhados

A Paz é o caminho

O caos em São Paulo

Segundo os múltiplos e variados portais de que dispomos para ler exatamente as mesmas opiniões, um tal de "caos" teria tomado conta da cidade hoje. Ônibus lotados, engarrafamentos enormes, pessoas levando horas para chegar ao trabalho. Aquilo que temos todo dia, hoje é culpa dos terríveis grevistas do metrô.

Aparentemente ninguém lembra que é isso que acontece quando chove ou na véspera de feriados prolongados ou quando UM caminhão sofre um acidente numa avenida importante ou quando temos alguma manifestação na Paulista ou quando...

São Paulo vive no caos e do caos, depois que a greve terminar nada vai mudar.

*esquerdopata

O PIG é o verdadeiro chapa-branca 

 

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

Leio no blog do Eduardo Guimarães que foi discutido, numa reunião do Barão de Itararé, instituição que representa a blogosfera progressista, o ódio crescente, nas redações, aos blogueiros. Então imagino que este humilde escriba também deva ser alvo de hostilidade em alguns ambientes da grande imprensa. Pelo que tenho observado nos próprios jornais, a constatação é autêntica. 
Na sexta-feira passada, Nelson Motta publicou um texto que flerta com o nazismo. Sim, nazismo. Ele faz chacota de todo o universo popular. Ele zomba da própria democracia. Movimentos sociais, partidos de esquerda, sindicatos e, claro, blogueiros progressistas, ele junta tudo num balaio de sarcasmo vulgar. Acho interessante aliás que a figura do blogueiro progressista (com esse nome estranho, progressista, que muita gente caçoou, mas que acabou pegando bem) entrou de vez no imaginário do conservadorismo autoritário. Sim, conservadorismo autoritário, porque é uma turma que simplesmente não aceita que haja setores sociais que discordam das opiniões da grande mídia.

Não consigo entender Nelson Motta: o cara podia estar de bem com a vida; escreve sua biografias; ganha bem na Globo; de onde vem seu ódio contra Dirceu, contra a esquerda, contra os movimentos sociais. É o mensalão? Ora, mesmo que se aceite a tese esquizofrênica do mensalão, pela qual o Professor Luizinho, deputado pelo PT é chamado de “mensaleiro” porque um assessor sacou 20 mil reais para pagar dívidas de campanha, mesmo assim, é tudo muito ridículo. Ora, mensalão pra valer foi o processo da reeleição de FHC, um chavismo sem consulta popular e por isso ditatorial. De maneira que se Motta e seus colegas realmente acham que o mensalão foi um terrível e imperdoável crime contra a democracia, por uma questão de coerência deveriam ter mais ódio ainda de FHC e do PSDB.

A imprensa não quer fazer um debate político transparente sobre o mensalão. O que foi o mensalão? O governo subornava deputados para que estes votassem com ele? Ora, a teoria tem muitos furos. Em primeiro lugar, são 513 deputados. Não é comprando meia dúzia que se muda uma votação. Segundo, o voto é secreto, justamente para proteger o parlamentar desse tipo de pressão. O voto secreto permite que o deputado trapaceie o corruptor, no caso o governo. Ele pega o dinheiro do mensalão, e vota contra o governo. Quem vai saber? Em terceiro lugar, a mídia jamais discutiu que leis ou reformas foram votadas naqueles dois primeiros anos de governo que eram tão importantes a ponto de levar o PT a comprar “consciências”. 
Para se tipificar um crime, é preciso saber o motivo do crime. Qualquer leitor iniciante de Agatha Christie sabe disso. No caso de FHC, é fácil: a emenda da reeleição, que significava, como significou, ampliação de poder do Executivo e do grupo que o dominava. No caso do mensalão, não houve nenhuma “lei” ou “reforma” revolucionária. E, sobretudo, nada que ampliasse o poder do Executivo. Houve caixa 2, isso sim. É grave, é, mas sejamos minimamente precisos: foi caixa 2 de campanha, cujas sobras são distribuídas durante os meses que sucedem o pleito.

Caixa 2 é um crime menor? É. É considerado uma infração eleitoral, mas não é tipificado como crime. No entanto, o caixa 2 costuma acontecer, por razões óbvias, conjuntamente a crimes de lavagem de dinheiro. Se esses crimes forem detectados, com provas cabais, que os réus sejam condenados. O que não compreendo é esse ódio seletivo. Será que é prerrogativa para escrever no jornal Globo demonstrar ódio ao PT? Acho que sim.

Mas ainda assim não entendo. O PT é um partido cheio de problemas, mas é uma legenda que abandonou há tempos – se é que teve algum dia – qualquer prurido de violência institucional. Tudo bem não concordar, não gostar, mas sentir ódio?

Quanto à teoria do chapa-branquismo da blogosfera, isso é uma cachorrada sem tamanho. A blogosfera ainda vive as dores de seu próprio nascimento. Não tem financiamento, não tem dinheiro, não tem nada. A mídia, portanto, quer sufocá-la desde o berço, pois é evidente que um setor de comunicação ligado a ideologias de esquerda terá enorme dificuldade de entrar no ambiente publicitário altamente monopolista e conservador das grandes agências que operam as contas das empresas privadas. Aliás, hoje, o setor é dominado por agências norte-americanas, cujas ideologias neoliberais a gente conhece muito bem.

O próprio discurso desqualificador da grande mídia dificulta ainda mais o acesso da blogosfera às contas privadas. E aí eles também não querem que sequer tenhamos banners das empresas estatais? Por quê, se eles por décadas ganharam milhões e milhões e milhões de verbas publicitárias das agências estatais? A própria fundação das empresas de mídia no Brasil se deu através de empréstimos milionários que esses grupos conseguiram junto aos bancos públicos. 
Lembro que estudando a campanha do jornais lacerdistas contra Getúlio Vargas, topei com historiadores que observavam a ironia. Eles (os jornalões) acusavam Vargas de corromper a opinião pública (era quase igual a história do mensalão) através de empréstimos ao Último Hora, que era varguista. No entanto, esses mesmos jornalões haviam obtido financiamentos igualmente polpudos junto aos bancos públicos, em governos anteriores. Ou seja, o lacerdismo era hipócrita.

No caso dos jornalões que chamam a blogosfera de chapa-branca, a acusação assume ares de uma tenebrosa farsa, porque essas mesmas empresas consolidaram-se como grandes grupos de mídia através não apenas de empréstimos do governo militar – elas também se beneficiaram enormemente do esmagamento dos jornais mais “independentes”. Quando a ditadura chegou ao fim, o Globo imperava solitário no Rio de Janeiro. A ditadura o ajudara a derrotar seus concorrentes. E por quê? Porque o Globo era chapa-branca, os outros o eram menos. Mesmo nos governos democráticos, eles continuaram recebendo milhões, até mesmo bilhões, em empréstimos públicos. É público e notório o empréstimo de 1 bilhão de reais que os tucanos deram ao Globo no apagar das luzes de seu reinado. Veja, Estadão, Folha, todos chapa-brancas da ditadura, primeiro, e mais tarde do governo mensaleiro e protochavista de FHC.

Quem é chapa-branca? Quem recebeu mais dinheiro do governo?

Quer dizer que ser amigo de ditador pode, receber dinheiro de ditadura pode, mas apoiar governo democrático e receber publicidade de um governo popular, aí não pode? Que palhaçada é essa?

Eu não vou cair nessa armadilha moralista da grande mídia. Para mim, o Estado tem sim de ampliar cada vez mais a destinação de verba à blogosfera (ainda não dá praticamente nada), de maneira a promover a desconcentração da mídia e a pluralidade das ideias. A grande mídia sempre continuará recebendo a maior parte das verbas, por razões lógicas: ela atinge um grande público. O Estado brasileiro é democrático e, portanto, tem legitimidade ética e republicana para escolher em quais blogs ele vai anunciar. Os governos tucanos não compram milhares de assinaturas da Veja, não doam horários nobres para Folha e Estadão terem programa em canais públicos? Agora somente Globo, Estadão, Abril e Folha, só eles podem receber verbas do governo?

A estratégia deles é simples: eles querem evitar a todo custo uma evolução profissional da blogosfera. Se o Estado fizesse anúncios de maior vulto na blogosfera, permitiria que esta se profissionalizasse, ganhasse qualidade e status, abrindo caminho para os anunciantes privados. Isso é muito claro para mim. Se o Estado ajudasse os blogueiros a dar um pontapé inicial, poderia haver a criação de uma rede de blogs profissionais.

Claro, nem todo mundo quer ser profissional. O lado mais forte da blogosfera é seu amadorismo jovial, engajado, libertário. Os blogueiros fazem um trabalho excepcional sem precisar de nenhum financiamento, e muitos jamais precisarão. O problema é que essa realidade acabou por envelhecer o movimento. Há encontros de blogueiros em que a presença da juventude é absolutamente minoritária. E por quê? Porque os jovens não podem se dar ao luxo de trabalhar de graça por muito tempo. Eles montam blogs, mas a sua vida profissional ainda está começando, eles precisam abraçar cargas de trabalho e estudo extremamente pesadas, e as perspectivas financeiras de um jovem intelectual no Brasil são sempre algo sinistras mesmo que ele não seja “de esquerda”. Se for de esquerda, então, o bicho pega mais ainda, em função do preconceito ideológico que a nossa própria mídia vem inoculando na sociedade desde muito tempo, desde o golpe de 1964. Então ele vai ser professor, advogado, engenheiro, jornalista em grande empresa, qualquer coisa que lhes dê estabilidade financeira. Só os malucos como eu decidem ser blogueiros.

Outro erro grave da mídia e de seus lacaios é subestimar a autenticidade da blogosfera enquanto movimento social, como se fosse possível ao governo ou ao PT controlar algo que é monstruosamente livre e anárquico por natureza. As razões políticas que levam muitos blogueiros a apoiar o PT e o governo federal deve ser procurada nas pesquisas de popularidade. Ou a mídia não acha que seria bizarro que uma presidenta gozasse de popularidade recorde, olímpica, e não houvesse quem a defendesse nas redes sociais e na blogosfera?

Toda a teoria política da mídia é falha, débil, absurda. Seu ódio demonstra medo, insegurança, fraqueza, covardia. A mídia corporativa é um poder político. Ela sabe disso. São empresas que possuem enormes interesses financeiros e por isso lutam para eleger seus aliados. Agora vimos que não hesitam sequer em se valer do auxílio espúrio do mais perigoso mafioso já aparecido nas últimas décadas. Carlinhos Cachoeira deixou PC Farias no chinelo. PC Farias não tinha ligações com vários governadores, não tinha senador, deputados, prefeitos, jornalistas da Veja, comendo em sua mão.

As pessoas não são trouxas. A blogosfera não nasceu de uma estratégia do PT para aniquilar a “imprensa independente”. Surgiu naturalmente, como evolução necessária da consciência política da sociedade. Eu frequentei eventos de blogueiros desde início. Blogueiros e comentaristas de blogs são pessoas pacatas, generosas, democráticas, atentas, bem informadas, cultas, curiosas. Não são bestas feras querendo destruir a “imprensa livre” como idiotas como Merval tentam fazer crer.

São brasileiros cuja opinião política merecia ser mais respeitada pelas grandes empresas de mídia, já que elas se arvoram em “paladinas” da liberdade de expressão.

É incrível. O Globo amordaça seus empregados, ninguém pode falar de política em rede social (leia-se: não pode falar bem do PT, claro; falar mal pode). O Estadão demitiu sumariamente a Maria Rita Kehl porque ela ousou publicar um artigo em que, embora muito sutilmente, defendia Lula. Os mesmos colunistas ocupam vários jornalões. Gaspari, Jabor, Nelson Motta, os caras estão em todas. Alguns parecem que são legião, não indivíduo, como é o caso da Miriam Leitão, do Jabor e do Merval Pereira. Estão no jornal impresso, na TV, no rádio, na internet. Só falta surgirem embaixo da nossa cama, gritando mensalão.

Ou seja, eles conseguiram – nos últimos anos – criar um verdadeiro conglomerado ideológico, uma frente de batalha unida, coesa e poderosa. Tudo bem. O que eu acho incrivelmente autoritário da parte deles é que, além de não darem liberdade a seus jornalistas, criando um ambiente opressivo e totalitário, eles querem, com sua campanha de desqualificação, tolher a liberdade dos blogueiros independentes?

Quer dizer que ninguém no Brasil pode mais pensar com sua própria cabeça? Todo mundo tem que comer na mão do pensamento da grande mídia?

Ora, os blogueiros não querem destruir a “imprensa livre”. Eles querem um espaço ao sol para mostrar à sociedade brasileira que esta imprensa não é livre coisa nenhuma, e em alguns momentos duvidamos se pode ser chamada de imprensa. A liberdade não tem dono! Meia dúzia de mafiosos não podem se apropriar da liberdade de expressão! Ela é de todos!

É uma imprensa corporativa, que tem suas qualidades e tem seus vícios. O brasileiro tem que ser informado de que a imprensa tem vícios, porque se o leitor/espectador dotar-se de senso crítico, ele estará vacinado, e aí poderá se informar sem ser manipulado. Poderá assistir quantos Jornais Nacionais quiser, ler os jornais, e arriscar-se até mesmo a uma olhadinha no último escândalo da Veja, mas saberá separar o joio do trigo. A imprensa corporativa tem recursos para levar adiante reportagens investigativas de longo alcance. Ela tem força, de fato, para derrubar ministros corruptos. Mas também tem para derrubar ministros não-corruptos, sobretudo se este for inimigo de seus amiguinhos mafiosos de Goiás… Fomentar uma consciência crítica na sociedade, essa é uma missão nobre, histórica, da blogosfera!

A imprensa corporativa tem estrutura para enviar repórteres ao exterior e entrevistar chefes de Estado. Talvez, no futuro, a blogosfera política também tenha esse status. A blogosfera de moda, por exemplo, já é bastante capitalizada e independente. Por enquanto, porém, a mídia corporativa ainda é um enorme Golias, insuportavelmente arrogante, que ataca verbalmente seus adversários, denotando um desprezo monumental e aristocrático, visando humilhar sobretudo o jovem e frazino David, que é a blogosfera, um movimento sem recursos financeiros, sem poder político e inclusive sem nenhuma base sindical ou partidária. Chega ser engraçado que a mídia, com seus milhões, seus milhares de empregados, seus poderosos lobbies em Brasília, sinta-se ameaçada por um grupo tão singelo.

A importância da blogosfera se torna evidente em momentos como este, em que temos a grande imprensa distorcendo diariamente as informações e notícias acerca da CPI do Cachoeira. Em outros momentos, os parlamentares eram heróis, mesmo acusando sem provas. Demóstenes era um mosqueteiro da ética. Hoje, a mídia bate nos parlamentares porque eles têm provas e setores da imprensa estão envolvidos. A imprensalona jamais irá admitir que seus membros se envolveram com bandidos. A estratégia de tratar jornalistas e donos da mídia como deuses intocáveis é, todavia, um vício antidemocrático. Numa democracia, todo mundo é igual. Acabou-se o tempo em que os amigos do Rei (leia-se Roberto Marinho) não podiam ser interrogados.

No domingo, por exemplo, Merval Pereira escreveu em sua coluna uma sucessão de mentiras e ilações. É preciso haver blogueiros que o contestem!

Vamos à análise de seu texto. O de Merval segue em negrito, o meu em fonte normal.

*****

Tiro no pé

Merval, um dos porta-vozes da imprensa corporativa, continua apostando na técnica de chantagem e amedrontamento. A CPI foi um erro porque vai respingar no governo. Ora, Merval se trai com essa tese. Se a CPI respingar no governo e derrubar corruptos do PT, então será ótimo para o Brasil e para a população, não?

Por MERVAL PEREIRA, no Globo

20.05.2012 12h08m

O flagrante da mensagem do deputado petista Candido Vacarezza garantindo imunidade ao governador do Rio Sérgio Cabral é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoeira está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder.


O tropeço de um petista era o que a mídia queria para melar a CPI. O Noblat também dedica sua coluna desta segunda-feira ao SMS de Vacarezza. Ora, é um recado baixo nível de um petista aloprado, mas não indica crime algum, nem sequer menciona blindagem. Ao contrário, a mensagem tem um tom até meio ameaçador.

“A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu (sic)”

Ora, quantas toneladas de ilações será possível fazer com uma mensagem assim? Vacarezza não fala precisamente em blindar, embora seja possível interpretar assim, mas sim que PT continuará sendo aliado de Cabral mesmo se a relação entre os dois partidos azedarem.

Convocada estranhamente pela maioria governista, a CPI tinha objetivos definidos pelo ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu: apanhar a oposição com a boca na botija nas figuras do senador Demóstenes Torres e do governador de Goiás Marconi Perillo, e desestabilizar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, responsáve lpela acusação dos mensaleiros no julgamento do Supremo Tribunal Federal.

De passagem, queriam certos petistas criminalizar a revista Veja para criar um clima político que favorecesse a aprovação de uma legislação de controle da mídia, como vêm tentando sem sucesso desde o início do governo Lula.


Convocada “estranhamente”? Que tipo de análise é essa? Merval omite um ponto fundamental. A CPI do Cachoeira foi a que recebeu o maior número de adesões da história da república. Vamos dar esse pequeno crédito ao parlamento brasileiro, por favor. Lula pode ter incentivado, mas Lula não é deputado. Quem instalou a CPI foi o povo brasileiro, através de seus representantes políticos. Os motivos que os levaram a criar a CPI são vários; certamente cada parlamentar poderá apresentar um motivo, uma interpretação pessoal. Mas estamos lidando com um fato de extrema gravidade. 
Um mafioso possuía lacaios na esfera mais alta da república: um senador da república, um governador, vários parlamentares, prefeitos, policiais federais; a revista de maior tiragem no país manteve relações íntimas com esse mafioso, publicando matérias de seu interesse. Enfim, era um esquema grandioso, e os parlamentares tem obrigação de esclarecer esse imbróglio para o país. Como o caso envolve altos nomes da política, não pode ser um trabalho exclusivamente técnico da Polícia Federal. É preciso fazer uma investigação e um debate em termos políticos também. O delegado da PF não tem condições intelectuais ou políticas de saber que Policarpo Júnior, por exemplo, ou o editor da Veja, cometeu crimes ao se relacionar de maneira tão espúria com Carlinhos Cachoeira. Isso é uma conclusão que somente uma CPI pode apontar.

Merval podia ler o próprio jornal. Avançando um pouco as páginas, encontraria artigo de Elio Gaspari, que senta o pau no procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Gaspari, colunista do Globo, também estaria mancomunado ao PT?

Por enquanto está dando tudo errado. A tentativa de constranger os ministros do Supremo resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência.

É prematuro falar que “está dando tudo errado”. Não houve tentativa nenhuma de constranger ministros do Supremo. Aliás, de que diabos Merval está falando? Ele está maluco? Quem tentou constranger ministros do Supremo?

A vontade de procrastinar o julgamento, quem sabe deixando-o para o próximo ano, quando dois novos ministros estarão no plenário para substituir Cezar Peluso e Ayres Britto, ficou tão explícita que o revisor do processo, o ministro Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ainda no primeiro semestre, permitindo que o julgamento comece logo em seguida.

Os imbróglios do mensalão dizem respeito aos vinte e pouco réus, o Brasil tem 200 milhões de habitantes, 99,99% dos quais não está nem aí para eles. O mensalão é um processo acabado. Será votado e ponto final. A CPI do Cachoeira é uma investigação que acabou de começar. Há pontos de interseção entre os crimes de Cachoeira e o mensalão, alguns importantes, mas em essência eles tratam de duas coisas completamente distintas.

Até mesmo uma frase banal, que queria dizer outra coisa, teve o efeito de levantar suspeitas. Quando Lewandowski disse que o julgamento ocorreria “ainda este ano” sabe-se agora que não estava pensando em outubro ou novembro, mas a partir de junho, como fez questão de esclarecer.

Paranóia besta de direitistas doidos. Só meia dúzia de alucinados fica vendo mensaleiro dentro do armário do quarto, embaixo da cama, no elevador. A maioria do povo, inclusive a maioria que deseja a CPI quer que os mensaleiros se explodam. A direita trata o tema como se o PT ou o governo fossem acabar se os réus forem condenados. Ora, mesmo que fossem todos condenados à prisão perpétua, em que isso afetaria o governo? Nem a Dilma nem nenhum de seus ministros não tem relação nenhuma com mensalão. O “mervismo pigal”, para usar a divertida expressão de PHA, atingiu o clímax da insanidade conspiratória.

Com relação à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o “laranja” da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando, na definição de Vacarezza, por que o PMDB não está disposto a embarcar nessa aventura petista de tolher a liberdade de imprensa.

Que mané tramóia petista, Merval! O PT está sendo puxado à fórceps para dentro desse debate. Se fôssemos depender do PT, não haveria nem CPI! A sociedade brasileira é que está por trás da pressão para investigar a imprensa, e não toda a imprensa, mas setores mafiosos, ou setores que mantinham relações com máfias políticas. Pára de choramingar, Merval! Nos EUA, na Europa, jornalista apanha que nem adulto quando faz merda. Não perdoaram nem o bilionário Rupert Murdoch. A troco de que os jornalistas do Brasil devem ser tratados como representantes sagrados da “imprensa livre”? Quer dizer que não existe jornalista safado, jornalista bandido? O vice do Agnelo pagava 100 mil reais por mês ao Mino Pedrosa para ele plantar matérias que derrubassem ou enfraquecessem o governador, tudo mancomunado com o esquema Cachoeira. Há gravações que revelam que Claudio Humberto também levava grana do esquema. E Cachoeira plantava o que queria na Veja. Tem que investigar sim, Merval. Não é tramóia petista. É vontade soberana do povo. A ditadura acabou, meu filho. Numa democracia, todo mundo é igual. Todo mundo pode ser preso. Jornalista ou não.

Por fim, a blindagem explícita do governador do Rio pode se transformar em uma facade dois gumes, tornando inevitável sua convocação.

Que blindagem explícita? A mídia é muito esperta. Não há uma só gravação envolvendo Sérgio Cabral no esquema Cachoeira, e olha que são milhões de telefonemas sobre Deus e o mundo. A Delta tinha contrato com o governo do Rio assim como tinha com o governo de São Paulo. Se chamar Cabral então tem que chamar o Alckmin, o Serra e o Kassab. Ora, a CPI tem que investigar os nomes que aparecem nas investigações, e não virar palco para salafrários como Garotinho fazerem proselitismo partidário. Festejar em Paris pode parecer uma coisa terrível para a classe média lacerdista, mas felizmente ainda não foi tipificado como crime. Melhor festejar em Paris do que nas ilhas Cayman, como Serra e os tucanos fizeram, conforme se pode comprovar lendo o livro Privataria Tucana.

Bancos cortam juros e elevam tarifas

Por Altamiro Borges
Os banqueiros – sejam os dos EUA, da Europa ou do Brasil – não têm jeito mesmo. Com a desregulamentação neoliberal, eles hoje exercem a ditadura do capital financeiro e não aceitam qualquer redução nos seus lucros estratosféricos. Diante das iniciativas da presidenta Dilma Rousseff para baixar as taxas de juros, eles já tomaram outras medidas compensatórias para manter os seus altos rendimentos.

Rafael Correa desmascara os truques dos EUA


El efecto dominó de WikiLeaks, los trucos de los líderes de EE. UU. y el futuro de América Latina. Todo de la mano de una persona que siempre ha acertado en sus pronósticos y en el análisis: el invitado del programa de Julian Assange es el presidente de Ecuador, Rafael Correa.
“Vea, como dice Evo Morales, el único país que puede estar seguro que nunca va a tener golpes de estado es Estados Unidos, porque no tiene Embajada estadounidense”. Con esta frase, Rafael Correa inició su entrevista con el creador de WikiLeaks.
*SoaBrasil


EUA autorizam China a negociar diretamente com o Tesouro, a compra de títulos norte-americanos

 


Wall Street dançô!
21/5/2012, Emily Flitter (Martin Howell e Steve Orlofsky, Eds.), Reuters, New York, EUA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
22/5/2012, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
“Obama sabe que, num aperto, não pode contar com Índia, Vietnã, Arábia Saudita, Brasil, Turquia para “resgatar” os EUA. Ainda pode, embora não muito, contar com alguns europeus, poucos. Só lhe restou a China. Mas a pergunta é: como se faz para “conter” a galinha dos ovos de ouro?” 
(Reuters) – A China já pode ignorar Wall Street, ao comprar títulos da dívida dos EUA: foi autorizada a negociar diretamente com o Tesouro dos EUA, na primeira vez, em toda a história, em que governo estrangeiro recebe autorização semelhante – segundo documentos aos quais Reuters teve acesso.
As novas regras de relacionamento significam que o Banco do Povo da China compra agora papéis da dívida dos EUA por método exclusivo, diferente do autorizado para qualquer outro banco central no mundo.
Os demais bancos centrais, inclusive o Banco do Japão, que tem ávido apetite pelos chamados Treasuries, os compram através de opções depositadas nos grandes bancos de Wall Street designados pelo governo dos EUA como corretores primários. Esses corretores vão aos leilões de venda de títulos da dívida dos EUA e negociam em nome dos interessados.
A China, proprietária de $1,17 trilhões em papéis da dívida dos EUA, os Treasuries, ainda compra alguns desses papéis mediante os corretores primários, mas desde junho de 2011, essa via já não é necessária.
Documentos aos quais a Reuters teve acesso mostram que o Departamento do Tesouro dos EUA deu ao Banco do Povo da China um link de computador direto para seu sistema de leilões. Os chineses o usaram pela primeira vez, para comprar títulos com vencimento para dois anos, no final de junho de 2011.
A China pode agora concorrer nos leilões de compra de títulos da dívida dos EUA, sem contato com os corretores primários. Mas, se quiser vendê-los, ainda tem de fazê-lo no mercado.
A mudança não foi anunciada publicamente, nem em mensagem de qualquer tipo dirigida aos corretores primários.
“A compra direta é aberta a vários tipos de investidores, mas como questão de política geral, não comentamos sobre interessados individuais” – disse Matt Anderson, um dos porta-vozes do Departamento do Tesouro.
Apesar de não haver qualquer proibição que impeça governos estrangeiros de comprar diretamente, o arranjo feito exclusivamente com a China é sem precedentes.
A venda de títulos da dívida dos EUA à China tornou-se tema de debate público carregado de forte conteúdo político sobre o papel da China como principal exportador para os EUA e, ao mesmo tempo, como maior credor do país.
O privilégio pode ajudar a China a comprar a dívida dos EUA por melhor preço, reduzindo ao mínimo a informação acessível a Wall Street sobre suas compras.
Os corretores primários não podem cobrar dos clientes, pelo serviço de disputar, em nome deles, nos leilões do Tesouro. A China, portanto, não está economizando dinheiro algum.
Em vez disso, a China está podendo garantir o sigilo de informações específicas valiosas sobre seus hábitos de compra. Podendo negociar diretamente com o Tesouro, a China impede os bancos de Wall Street de tentar explorar a presença chinesa num ou noutro específico leilão – forçando os preços para cima.
É uma dentre várias cortesias garantidas a um comprador único, em termos de poder de compra. Embora os japoneses, por exemplo, possuam cerca de $1,1 trilhões em Treasuries, as comprar japonesas têm sido menos centralizadas. O Japão compra mediante várias instituições, incluindo fundos de pensão, bancos japoneses e o Banco do Japão, sem que qualquer delas domine as demais.
Não é a primeira vez que o Tesouro dos EUA mostra grande empenho em manter satisfeito seu principal cliente.
Em 2009, quando funcionários do Tesouro descobriram que a China tinha contatos especiais com corretores primários, para manter ocultas suas compras de papéis da dívida dos EUA, o Tesouro mudou os métodos, para impedir esse tipo de negócio – como a Reuters noticiou em junho passado. Mas, simultaneamente, o Tesouro afrouxou uma de suas exigências de notificação, para manter o conforto dos chineses, no novo regime de regras.
Outro traço do relacionamento especial entre EUA e China nesse campo é a discrição: o Tesouro tentou manter sob sigilo os seus motivos para mudar as regras, em 2009 – como observou a agência Reuters.
Outra vez, documentos que tratam do novo status da China, como comprador direto, mostram o mesmo desejo de sigilo – em relação a Wall Street. E, para proteger o sistema contra hackers, o sistema do Tesouro que dá à China acesso direto aos leilões de títulos foi upgraded.
Em seguida, os técnicos do Tesouro discutiram meios para desviar as perguntas que viriam, dos corretores de Wall Street, no momento em que os resultados dos leilões começassem a mostrar a inegável presença de um comprador direto estrangeiro.
“A maioria entende que compradores estrangeiros só apresentam “ofertas indiretas” pelos corretores primários. A novidade provavelmente causará boatos significativos na rua, e muitas perguntas provavelmente chegarão até nós” – escreveu um funcionário do governo, em e-mail que Reuters leu.
No mesmo e-mail, o mesmo funcionário sugeria que se oferecessem respostas básicas, gerais, a perguntas sobre quem está autorizado a participar de leilões dos títulos da dívida dos EUA.
“Parece-me que será prudente, no caso de perguntas mais complexas ou de natureza mais sensível, que as perguntas sejam encaminhadas à área de Relações Públicas do Tesouro” – escreveu o funcionário.
Dar à China status de comprador direto pode gerar controvérsias, porque alguns funcionários do governo dos EUA já se preocupam por a China ter alcançado posição muito alavancada, sobre os EUA, graças à sua gorda carteira de papéis do Tesouro.
Por exemplo, o economista Brad Setser, membro do Conselho Econômico Nacional e que também trabalhou para o Conselho Nacional de Segurança, já disse que o fato de a China ser proprietária de grande quantidade de Treasuries implica ameaça à segurança nacional.
Em carta ao Conselho de Relações Exteriores em 2009, Setser argumentou que o fato de a China ter em seu poder quantidades massivas de papéis da dívida dos EUA dava ao país poder sobre os EUA, pelo risco de um movimento massivo de venda daqueles papéis, o que criaria perigosa agitação nos mercados e faria subir as taxas de juros.
Mas funcionários do Tesouro sustentam, há muito tempo, que a venda de papéis da dívida à China é assunto mantido à parte, separado de considerações políticas, numa relação negocial que beneficia os dois países. Os chineses usam os Treasuries para manter a cotação dos dólares que recebem em pagamento dos produtos que vendem para os EUA; e ao governo dos EUA interessa que haja essa forte demanda pelos títulos de sua dívida, porque assim se mantêm baixas as taxas de juro.
Porta-voz da embaixada da China em Washington não respondeu aos telefonemas e e-mails com pedidos para que comentassem a notícia.
Mas os EUA já mostraram crescente ansiedade em relação à China, como ameaça à “cibersegurança”. A mudança que o Tesouro introduziu no sistema computacional de leilões, antes de dar acesso direto à China, visou limitar o acesso apenas a um único sistema, a uma conexão de rede privada, controlada pelo Tesouro.
A China é um dos tópicos mais sensíveis para banqueiros e funcionários do governo que vivem a cortejá-la como cliente financeiro, pelo tamanho e importância e ninguém quis comentar essa matéria.
Mas um ex-gerente da dívida, no Tesouro, que pediu para não ser identificado, disse que, aos poucos, a China foi adquirindo experiência no mercado dos papéis da dívida dos EUA; e que os chineses sentem-se provavelmente mais confortáveis na nova situação, com melhor controle sobre a administração de sua carteira.
A solicitação para apresentarem suas propostas de compra diretamente, desse ponto de vista, seria resultado de uma maior confiança de que os chineses poderiam comprar papéis da dívida, mais eficientemente, em negociação direta, do que através dos bancos de Wall Street, que frequentemente inflam os preços dos Treasuries em leilões, quando sabem quanto os grandes clientes estão dispostos a gastar. Não é prática especificamente ilegal, mas a maioria dos corretores as considerariam pouco ética.
Prova de que a China vai-se tornando operadora cada vez mais sofisticada, como gestora de dinheiro, nos mercados dos EUA é a evidente expansão de suas operações em New York. O braço chinês de administração do dinheiro, Administração Estatal do Câmbio [orig. State Administration for Foreign Exchange (mais conhecido como SAFE), mantém escritório em Midtown Manhattan, e um experiente gestor de investimentos – Changhong Zhu, ex-presidente de investimentos e derivativos da Pacific Investment Management Co. – em Pequim.
Uma voz feminina que atendeu ao telefone no escritório da SAFE em New York, disse que ninguém, no escritório, tinha autorização para falar à imprensa.