A bomba israelense em Berlim
Via CartaMaior
Segundo
o Der Spiegel, o governo israelense está equipando submarinos comprados
à Alemanha com ogivas nucleares armadas em mísseis de longo alcance.
Declaração do ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, equivale a um
reconhecimento explícito de que Israel detém ogivas nucleares, coisa
nunca reconhecida oficialmente.
Flávio Aguiar
Ainda
não houve tempo para verificar a repercussão internacional, nesta
segunda-feira, mas já se sabe que a notícia caiu como uma bomba em
Berlim. Segundo o semanário alemão Der Spiegel, em matéria de capa, o
governo israelense está equipando submarinos comprados à Alemanha com
ogivas nucleares armadas em mísseis de longo alcance. O nome dessa
cooperação é de “Operação Sansão”.
Causou maior
perplexidade o comentário do ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, à
revista, de que os alemães deviam se orgulhar por terem assegurado a
existência do estado de Israel “durante tantos anos”.
Orgulhos
à parte, uma declaração dessas, nesse contexto, equivale a um
reconhecimento explícito de que Israel detém ogivas nucleares, coisa
nunca dantes navegada ou reconhecida oficialmente. Resta saber se Barak
vai confirmar a declaração/reconhecimento.
Como
fontes alemãs a revista cita Lothar Rühl, conhecido jornalista,
professor e político, que foi secretário de estado junto ao Ministério
da Defesa de 1982 a 1989, servindo sob ministros de ambos os principais
partidos alemães, a CDU e o SPD, e Hans Rühle, ex-chefe de pessoal do
Ministério. Ambos reconheceram que o governo alemão sabia da presença
desse equipamento nos submarinos que fabricava para Israel. Rühl admitiu
que discutiu o assunto diretamente com militares israelenses em Tel
Aviv.
Segundo a reportagem, o governo alemão
começou a cooperação militar com Israel em 1957, ainda sob o governo do
chanceler Konrad Adenauer. A partir de 1961 ele saberia da capacitação
(ou da sua busca) nuclear israelense. E a última evidência dessa
colaboração pro-ativa no setor estaria numa conversa em 1977 entre o
então chanceler alemão Helmut Schmidt e o então ministro de Relações
Exteriores israelense Moshe Dayan.
A Alemanha já
forneceu três submarinos a Israel, construídos no estaleiro HDW em
Kiel, no norte do país. Tem mais três sob encomenda, para entrega em
2017, e o governo israelense cogita encomendar outros três na seqüência.
As condições são muito favoráveis, com o governo alemão pagando por um
terço do preço de cada submarino, no valor de 135 milhões de euros, e
aceitando que Israel só comece a pagar pelo fornecimento a partir de
2015.
Segundo a mesma reportagem, ao assinar o
contrato para a construção do sexto submarino, a chanceler Angela Merkel
teria imposto, como condições, a suspensão da construção de colônias
irregulares em território palestino, e a liberação do término da
construção de uma estação de tratamento de esgotos em Gaza, sem que o
governo de Benyamyn Netanyahu tenha se pronunciado a respeito até agora.
Segundo a própria revista o governo alemão
reagiu “com reserva” diante da notícia. Dois porta-vozes, um da
chancelaria e outro do Ministério da Defesa, deram declarações
comentando o direito de Israel assegurar sua defesa, mas sem entrar na
matéria específica das ogivas nucleares.
A
matéria, que é espinhosa na Alemanha inteira, como demonstra a recente
polêmica em torno de poema do escritor alemão Günther Grass, é também
particularmente espinhosa para a oposição formada pela coligação
SPD/Partido Verde, que esteve no poder de 1998 a 2005, sendo impossível
que ignorasse o assunto. O SPD ainda permaneceu no poder até 2009, em
coligação com a CDU, quando esta, vitoriosa na eleição, formou uma nova
coligação com a CSU bávara e o FDP. De todo modo, líderes do SPD e do PV
afirmaram que vão questionar o governo alemão a respeito. A política de
exportação de armamentos pela Alemanha está na berlinda desde que o
governo de Berlim autorizou a venda de 200 carros de combate para o
governo da Arábia Saudita em plena “Primavera Árabe”, enquanto o governo
de Riad invadia o vizinho Barhein para sufocar a revolta popular.
Apesar
da conhecida política de dois pesos e duas medidas por parte das
potências do Ocidente, a revelação e o assunto são complicados para os
Estados Unidos, que dão uma ajuda militar bilionária ao governo de
Israel, sendo que sua legislação proíbe prestar tal ajuda a países que
desenvolvam armamento nuclear em condições irregulares diante da
legislação internacional – o que seria o caso, uma vez que Terl Aviv
jamais reconheceu sequer a existência de armamento dessa espécie, não
havendo, portanto, inspeções pela ONU.
Outra
complicação está no curso das negociações entre as potências ocidentais
(incluindo neste caso, a Alemanha), mais a Rússia e a China, com o Irã, a
respeito do programa nuclear deste último. As negociações, reabertas
recentemente em Bagdá, sob o impacto da notícia de que a Agência
Internacional para Energia Nuclear da ONU chegara a um acordo comTeerã
para inspecionar as usinas do país, eram vistas com cauteloso otimismo.
Entretanto essa revelação certamente reforçará a linha mais dura entre o
aiatolado iraniano, que vê com reservas qualquer concessão e está em
atrito com o próprio presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Last, but not least, fica a preocupação de que alguém, algum dia, vai apertar um gatilho desses.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
*GilsonSampaio