Os novos gladiadores
Zoroastro Sant’Anna - Jornalista e cineasta
Nosso Homem nº 21
Ilustrações e legendas - redecastorphoto
Chegaram
os gladiadores eletrônicos do UFC. Todos os sistemas totalitários da
história do mundo mesclaram pão e diversão numa estratégia perversa de
dominação, o conhecido método panis et circenscis, pão e circo,
ou seja, não deixar faltar pão nem diversão. Ainda está na memória de
muitos brasileiros o general Médici fazendo embaixadinhas e o advento da
televisão em cores para a transmissão da Copa do Mundo de 1970, TV
colorida na sala e sessão de pau-de-arara nos porões.
Bandeira dos desgovernos MILICANALHAS
Durante
mais de 700 anos, de 300 A.C. a 400 D.C., os imperadores romanos
utilizaram os gladiadores como forma de “diversão” pública. Gladiadores
porque usavam uma espada curta, chamada gladius e eram guerreiros
capturados e treinados, ou mesmo cidadãos falidos, que recorriam as
armas do circo romano para conseguir algum dinheiro ou a morte. Muitos
mercadores enriqueceram alugando e vendendo gladiadores, os primeiros
empresários do mundo do entretenimento.
Gladiadores no Coliseu romano
Tudo
começou por volta de 288 A.C. quando o império romano enfrentou a
primeira Guerra Púnica, contra a poderosa Cartago, hoje república árabe
da Tunísia, no norte da África, perto da ilha da Sicília. Um exército de
mercenários havia tomado a cidade italiana de Messina, matando todos os
homens e tomando as mulheres como suas, controlando o estreito que
ligava a Itália à ilha, causando sérios prejuízos comerciais ao império
de Roma. Cartago enviou tropas para fortalecer os mercenários enquanto
os romanos enviaram novos exércitos para retomar a região.
Esta
guerra custou muito ao império criando grande descontentamento entre os
romanos e o imperador Diocleciano decretou então as temporadas de
“jogos” que duravam até oito meses, com uma agenda de combates na grande
arena de Roma, depois conhecida como Coliseu. Sangue humano para
ensopar o pouco de pão, eterna e infalível receita para acalmar as
multidões sedentas de liberdade e diversão. A guerra durou mais de 100
anos e terminou com a destruição de Cartago e o trágico espetáculo dos
gladiadores ficou mais 600 anos em cartaz.
Gladiador romano
Desde
a antiguidade a humanidade cria brigas, muitas sangrentas e mortais,
sob a capa do esporte, briga de cães, peixes, galos, pássaros, cobras,
insetos e até mesmo a briga de aranhas. Os homens brigam desde os tempos
imemoriais, sejam por mulheres, terras, dinheiro, honra, vingança ou
poder. Há algo de atávico e imperioso no ato de brigar, característica
aguçada pelo espírito de competição estimulado pelo capitalismo enquanto
forma de produção e organização social, onde a pior humilhação que se
pode impor a um ser um humano é a de qualificá-lo como um loser, um perdedor, quando na verdade perder é apenas uma probabilidade lógica ao se disputar.
Tenta-se
desde os tempos longínquos transferir o sentimento de disputa esportiva
e saudável das Olimpíadas para as raias menores da violência física,
como o box clássico e agora a temível MMA-Mix Martial Arts, esse
sarapatel de pancadarias explícitas do UFC, com sanguinolência ao vivo e
em cores pelos maiores canais de televisão do mundo ocidental e agora
do Brasil, onde corpulentos brutamontes espancam seus adversários com
técnicas misturadas até que um deles desabe humilhado e sangrando ou
desista por dor insuportável. A técnica e a força de machucar pessoas,
cobertas de aplausos, dor e dinheiro.
A
banalização da violência faz com que se encare a questão de uma mulher
enciumada, detonar a cabeça do marido com uma pistola P 380, esquartejar
seu corpo, ensacar e distribuir num terreno baldio como apenas mais um
crime do cotidiano urbano de uma cidade atormentada. O fato do rico
marido assassinado ter em casa mais de 40 armas de fogo modernas,
inclusive fuzis, e mais de 10 mil munições não é sequer discutido,
afinal era tudo legal, ricamente registrado.
Novo gladiador
Uma
emissora brasileira de televisão brasileira está investindo milhões no
MMA, esse novo “esporte” que, certamente, será um sucesso de audiência.
Da mesma forma que são sucessos de audiência imbecilidades como o BBB, o
programa do Ratinho, Pânico na TV e outras aberrações. Não se trata
aqui de ser contra ou a favor do UFC-MMA, o fato está aí e o que cabe é
discutir o porque da sua existência e que forças e interesses estão por
trás dessa iniciativa.
Não é apenas mais um
esporte inocente. É a violência física entrando por nossa casa a dentro.
É fácil argumentar que se não quer ver, mude de canal, mas as coisas
não são tão simples assim. Existe todo um marketing, toda uma motivação
introdutória, uma cooptação quase indefensável praticada pela mass mediadirigida
aos jovens e aos menos avisados. Existe uma apologia explícita da
técnica exercida com força bruta para domínio e submissão do próximo.
Além do mais, os maiores campeões mundiais são brasileiros, verdadeiros
ícones de uma cultura do vencer, nem que seja na porrada.
Arena de UFC-MMA, o novo Coliseu romano
As
lutas consideradas esportivas com o box, judô, taikwondô, jiujitsu,
mai-tai e tantas outras não foram suficientes para satisfazer aquele
gostinho de sangue na boca que toda sociedade saboreia com maior ou
menor prazer. Foi preciso retirar a elegância de um Muhamed Ali, Sugar
Ray Robson ou Rocky Marciano, diminuir o tamanho de suas luvas de box,
para proteger menos e machucar mais. Foi preciso juntar todas as formas
de combate físico conhecidos numa briga só para tornar o espetáculo mais
atraente e sangrento. Não há um único round do UFC em que o sangue não jorre, não seja aparente, provocante e rico. E, atrás de tudo, o dinheiro, muito dinheiro.
Em
cada golpe, soco ou ponta pé desferido no outro, cada cidadão esmurra e
se vinga do guarda de trânsito achacador, do flanelinha indevido, do
político corrupto, da sogra incômoda, da mulher desamada, do vizinho mau
caráter e do Estado injusto e incompetente. Cada gota de sangue
derramada no ringue é uma lágrima derramada neste triste viver no mundo
inóspito do século XXI. Os novos gladiadores eletrônicos chegaram para o
delírio da plebe. Enfim.
· Travesti – O
ator Antônio Fagundes está fisicamente travestido do falecido político
Antônio Carlos Magalhães, na novela “Gabriela” que estréia na próxima
semana. ACM foi um dos últimos coronéis da política brasileira, Vice-Rei
da Bahia, responsável por vários escândalos como o dos grampos no
Congresso e o da distribuição de concessões de rádios e televisões para
políticos corruptos enquanto Ministro das Comunicações do governo
Sarney.
· Safado – Sucesso
absoluto a peça de Paulo Lobo “O Anjo Safado”, com a participação do
ator Antônio Leite e direção de Jorge Lins, exibida no Atheneo.
· Era outro – Já
virou piada a CMPI do Cachoeira. Todo mundo mente, até quem pergunta.
São tantos os fios a serem puxados nesse novelo, que não há tantos dedos
possíveis e muito menos onde guardar tanta lã. Agora, o vereador que
intermediou a casa que o governador Marcondes Perillo vendeu por R$ 2,4
milhões ao criminoso Cachoeira, diz que não foi ele quem pagou em
dinheiro vivo, que o negócio dele foi de R$ 1,6 e pago em dinheiro. Quem
comprou não foi um e nem quem pagou foi o outro. Ninguém entende mais
nada.
· Mengão – Roubaram o
Flamengo e não foi em campo, foi na tesouraria mesmo, aqui no Leblon.
Dois homens armados levaram quase R$ 15 mil dos cofres do clube. O
comentário é que o roubo teve a participação de funcionários pois um dos
ladrões chamou o tesoureiro pelo nome. Dizem que não tem a nada a ver
com Ronaldinho Gaúcho a quem o time deve mais de R$ 40 milhões.
· Igualzinho – O
atual presidente do Uruguai, Jose Pepe Mujica, tem 77 anos, é
ex-guerrilheiro tupamaro, vive em casa própria, uma chácara a 20 km de
Montevidéu, doa 90% do salário e faz um bom governo, segundo a imprensa.
Mujica saiu sozinho outro dia para comprar uma tampa de privada, quando
foi reconhecido pelos jogadores do time local, Huracán, que o
convidaram para um churrasco e lá foi ele com a tampa da privada debaixo
do braço.
*GilsonSampaio