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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 25, 2012

Irmandade Muçulmana elege presidente do Egito, a contragosto dos EUA e Israel

 

vi no osamigosdopresidentelula

O candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, venceu a eleição presidencial no Egito.

Ele conquistou 51,7% dos votos na disputa contra o ex-premiê do antigo presidente Mubarak (o preferido dos EUA e Israel).

A Irmandade Muçulmana opõe-se às tendências seculares de algumas nações islâmicas e rejeita influências ocidentais. Defende a jihad (guerra santa), que inspirou desde grupos insurgentes islâmicos, até os mais radicais classificados pelos EUA como terroristas.

Há décadas, a Irmandade Muçulmana está muito envolvida na política, mas também atua fortemente no campo social, da caridade e nos sindicatos profissionais.

Mohamed Mursi fez campanha se apresentando como o "único candidato com um programa islamita" e partidário de um "projeto de renascimento" baseado nos princípios do islã. Mas prometeu garantias de governar respeitando a todos, para conquistar o voto das minorias cristãs e de jovens seculares.

Prometeu:
- preservar as conquistas da primavera árabe;
- trabalhar pela liberdade, pela democracia e pela paz;
- garantir os direitos da minoria cristã;
- servir a todos os egípcios, seja qual for sua opção política ou religiosa.
- não obrigar as mulheres a utilizar o véu;
- relações "mais equilibradas" com Washington;
- revisar o tratado de paz com Israel se os Estados Unidos bloquearem sua ajuda ao Egito;

Venceu o "PIG" egípicio

"Resistimos (à campanha negativa) dos meios de comunicação", explica à AFP Essam al-Eriane, vice-presidente da estrutura política da Irmandade, o Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ).

Mursi dirige o PLJ, de longe o principal partido do país, e que obteve quase a metade dos assentos do parlamento após as recentes eleições legislativas.
A eleição foi invalidada em meados de junho pelo Tribunal Constitucional devido a irregularidades na lei eleitoral.

Perfil:

Mursi tem 60 anos, engenheiro graduado em 1975 na Universidade do Cairo. Em 1982 completou um doutorado na Universidade da Carolina do Sul (Estados Unidos).

CPI obtém todas as
gravações. Civita, tremei !


 

Quem sabe não há outras conversas do Demóstenes com o Carlinhos, como aquela “o Gilmar mandou subir”?

Íntegra de gravações da PF está liberada à CPMI de Cachoeira


A partir desta sexta-feira, a íntegra das gravações das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, estará à disposição de integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a ligação do contraventor Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados. O material estava com a Justiça Federal em Goiânia e foi trazido até a secretaria da comissão na noite de quinta-feira pelo próprio relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG).


Como se trata de documentação protegida por regras de preservação de sigilo, o material lacrado foi depositado no cofre da secretaria da CPMI. As mídias serão abertas ainda nesta sexta e inseridas no banco de dados referente às operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. A partir daí, poderão ser consultadas por deputados e senadores que integram a comissão e seus assessores credenciados.


Segundo informações do presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), procedimentos adotados por ele e por Odair Cunha possibilitaram a liberação do material em 48 horas. O senador explicou que, até então, a CPMI só tinha acesso a gravações editadas, contendo as partes de interesse da operação policial. Com o recebimento do novo material, os parlamentares poderão consultar outros trechos que podem ser úteis ao trabalho da comissão.

Navalha
Como se sabe, a PF do Zé Cardozo dificultou (propositadamente ?) o acesso às informações obtidas na Operação Monte Carlo.
Agora, a CPI e todos os seus membros obtém as informações originais.
Mete a mão naquele precioso material que estava na casa do Carlinhos Cachoeira (do Carlinhos ou do Perillo ?).
Vamos ver os detalhes de como o Demóstenes e o Carlinhos montaram a operação que deu origem ao mensalão (petista, porque o mensalão tucano se segue com a mesma rapidez).
E que permitiu à TV Record “melar o mensalão”.
Vamos ver se dessa vez, com a íntegra das gravações, a “bancada da Globo” consegue impedir o depoimento do Robert(o) Civita e seu diretor em Brasília.
O Requião vai pode repetir da tribuna do Senado: a Veja é agente do Diabo.
Quem sabe não há outras conversas do Demóstenes com o Carlinhos, como aquela “o Gilmar mandou subir”?
O logging dos vôos – será que o Carlinhos “importava” jatinhos daquele jeito que o Zé Cardozo demorou a descobrir ?
E as pegadas da Globo, que o Leandro achou na Carta Capital: haverá outras no crime organizado ?
Teremos o Cerra e o Paulo Preto com o Cavendish na marginal (sic) de São Paulo ?
E o Gurgel, os procuradores, a mulher do Juiz ?
Tem mais prevaricação acoitada, como disse o Collor ?
Como se vê, a CPI já foi longe.
Agora, vai mais ainda.
Ela dura até novembro.
E pode explodir em cima da eleição, não é isso, Paulo Preto ?




Paulo Henrique Amorim

“Não podemos viver numa tragédia e achar normal”

Lenha na fogueira

No Brasil, apenas 8% dos homicídios são solucionados e 63% da população não confia na polícia. A Pública foi ouvir quem convive no dia-a-dia e quem estuda o fracasso das nossas forças policiais 
Aos 30 anos, Humberto Ramos é o que chamam de linha de frente da polícia civil paulista. Escrivão, trabalha no plantão policial com a arma na cintura no 49º Distrito, em São Mateus, o mais movimentado de São Paulo, e quiçá do Brasil. Desde janeiro até maio foram registradas nove mil ocorrências. Ali Humberto passa até mesmo as suas férias.
“Vim para ajudar, tem muito serviço”, explicou. Naquele dia também estava ali para dar uma entrevista sobre o livro que está lançando, “Dê um novo poder ao policial”, o primeiro escrito por um policial brasileiro sobre neurolinguística, neurociências e as técnicas de Reid, processo desenvolvido pelo policial de Nova York, John Reid, que integra entrevista e interrogatório. É aí que o escrivão quer colocar o dedo. “A polícia não precisa usar a força desnecessária, basta usar o poder de persuasão. O verdadeiro poder policial está na habilidade de conquistar e influenciar pessoas”, diz ele, que garante querer ser escritor e palestrante “para melhorar a polícia brasileira”.
Não é uma tarefa fácil. Segundo diagnóstico da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), traçada pelo Ministério Público, Conselho Nacional de Justiça e Ministério da Justiça com o objetivo de reduzir a impunidade dos crimes de homicídio no país, o treinamento técnico da polícia deve ser prioridade para melhorar a segurança pública. A Enasp realizou um mutirão nacional com as policiais estaduais para levantar os inqúeritos de homicídios não solucionados até 2007 – 135 mil – e conseguiu denunciar suspeitos em 19% dos casos. A porcentagem parece pequena, mas é grande quando comparada à média nacional de elucidação de homicídios: de 5 a 8%. Os mais de 90% restantes ficam sem solução.
São 50 mil homicídios por ano no país, o maior do mundo em termos absolutos, segundo relatório da ONU de 2011, que colocou o Brasil no 3º lugar em violência na América Latina, e 26o do mundo. Desses, apenas 4 mil por ano têm seus autores presos, segundo estimativa de Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa Mapas da Violência.

CSI brasileiro

A fragilidade das investigações policiais é regra do norte ao sul do país. Em Alagoas, o grupo de trabalho do Enasp descobriu o sumiço de mil dos 4.180 inquéritos instaurados entre 1990 e 2007 para apurar homicídios dolosos. No Rio Grande do Sul, o Relatório de Controle Externo da Atividade Policial, encaminhado à cúpula da Secretaria de Segurança Pública, constatou que delitos com “repercussão na imprensa” têm preferência nas delegacias da grande Porto Alegre, enquanto os demais permanecem parados. Em 2008, apenas 16% dos inquéritos tornavam-se processos judiciais em Porto Alegre. O restante era devolvido ou arquivado pelo Ministério Público por insuficiência de provas técnicas para denunciar os réus.
E por que o Ministério Público devolve e arquiva tantos inquéritos? Porque em muitos casos as investigações são insuficientes ou incompletas, diz a promotora de Justiça da área criminal e professora doutora em Ciências Penais, Ana Luiza Almeida Ferro. Ela explica que o Ministério Público só pode apresentar denúncia para o juiz – abrindo assim um processo judicial – se houver suporte “testemunhal, pericial ou documental” que mostre que houve um crime e indícios que apontam para o suspeito. Senão, o processo será rejeitado pelo juiz.
Em sua rotina de promotora, Ana Luiza raramente encontra inquéritos consistentes: “Enfrento esta realidade cotidianamente. Em expressiva parte dos casos, o inquérito chega incompleto, deficiente, sem provas suficientes para a formulação da denúncia e a fundamentação de uma futura condenação. Então o Ministério Público não tem outra escolha que não se manifestar pela devolução do inquérito à polícia para o cumprimento dessas necessárias diligências complementares. O Judiciário, de sua parte, nada pode fazer sem a denúncia. Se os inquéritos fossem mais fundamentados, menos incompletos, haveria maior rapidez”, diz.
O vai-e-vem de inquéritos entre Ministério Público e polícia acaba facilitando a vida dos autores dos assassinatos. “A prescrição lhes favorece. Fica mais difícil localizar testemunhas. Vestígios se apagam. Provas esmaecem. Por outro lado, denunciar sem dispor de provas suficientes para tal e, sobretudo, para alicerçar uma futura condenação também interessa aos criminosos e àqueles que torcem pela impunidade”, reconhece Ana Luiza, para quem “a Justiça tardia e, pior, a impunidade são negações da democracia.”
O sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita que a divisão de funções entre Ministério Público e polícia civil entre investigação (feita pela polícia civil), e a denúncia (a cargo do MP, que é o titular da ação penal) é o principal problema: “É o chamado pingue-pongue, o vai e vem entre o delegado e o MP, um modo de o inquérito não ficar em lugar nenhum até que, passados meses e, em vários casos anos, ele venha a ser arquivado”.
Segundo a Constituição, a investigação também é atribuição do MP. “Apenas no Brasil encontramos uma solução ambivalente na persecução criminal”, diz Misse. Em qualquer outro país, diz, a fase destinada a apurar se houve crime e a identificar o autor pode ser exclusiva da polícia ou do Ministério Público. Ou seja, o Ministério Público pode investigar e apresentar a denúncia e não apenas encampar o inquérito policial ou devolver ao delegado.
A promotora Ana Luiza acredita que reforçar a capacidade de investigação da polícia também ajudaria a reduzir o “pingue-pongue” que favorece a impunidade: “Uma deficiência crônica, por exemplo, está na parte pericial, nos casos em que tal prova é exigida. E há casos complexos, particularmente aqueles que envolvem crimes do colarinho branco e de lavagem de dinheiro, além de atividades do crime organizado”, pondera.

“Não podemos viver numa tragédia e achar normal”

Apesar da ineficiência do sistema, os gastos do país em segurança atingem R$ 60 bilhões por ano. “Em relação ao PIB gastamos mais que a França e estamos no mesmo patamar da Alemanha”, compara Renato Sérgio de Lima, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.“Só que o serviço é muito pior”, constata.
Renato, como a maioria dos especialistas ouvidos pela Pública, acredita que é preciso pensar em um novo modelo de segurança pública no Brasil. Porque este que está aí “é caro e ineficiente, com altas taxas de violência”, diz. O maior problema, diz, é que “a polícia que temos não está voltada para o cidadão, está preparada para defender os interesses do Estado”.
“Precisamos saber o que a gente quer”, afirma o secretário do Fórum. “O governo, o Estado tem que ter responsabilidade, não é só punir quem está na ponta. Tem que punir quem autoriza, quem delega poderes. Não podemos viver numa tragédia e achar normal, precisamos de política pública”.
O relatório da Enasp enfatiza a necessidade de contratar mais peritos e obter mais equipamentos para os órgãos periciais de algumas regiões do país – a distribuição de recursos e expertising é bastante desigual, já que os Estados têm capacidade financeira e prioridades políticas diferentes. Mas dá maior ênfase à necessidade de treinamento dos que participam da elucidação dos crimes, de estimular a meritocracia na carreira policial e estabelecer o controle externo das investigações nos crimes de homicídio.
Uma conclusão parecida à que chegou em seu dia-a-dia na polícia o escrivão Humberto, que investiu as economias dos nove anos de carreira em cursos de treinamento. Nos últimos dez anos, ele diz, os investimentos que viu na polícia civil paulista ficaram concentrados em armamentos e tecnologias digitais. “Nesse mesmo tempo quase nada foi aplicado em desenvolvimento humano”, lamenta.

63% da população não confia na polícia

A curva ascendente da violência acompanha a da impunidade. Entre 1992 e 2009, a taxa de homicídios cresceu 41% de acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE em junho. Os números de 2009, os mais recentes, mostram uma média de 27,1 mortes para cada 100 mil habitantes. De acordo com parâmetros internacionais, a violência em um país pode ser considerada endêmica a partir de 10 mortes para cada 100 mil.
Números que contribuem para a má imagem da polícia junto à população. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas realizada no primeiro trimestre de 2012 apontou que 63% da população de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal não confia na polícia. Conforme o levantamento, coordenado pela professora Luciana Gross Cunha, a população com renda inferior a dois salários mínimos (R$ 1.244) é a que mais desconfia dos policiais: 77% disseram-se “muito insatisfeitos” ou “um pouco insatisfeitos” com os policiais. “São as pessoas que sofrem mais discriminação e preconceito da polícia”, diz ela.
São as mais frequentes vítimas da violência policial que fez o Conselho de Direitos Humanos da ONU pedir a extinção da PM e a Anistia Internacional denunciar a tortura como “método” de interrogatório nas delegacias paulistas e as execuções extrajudiciais praticadas por forças policiais.
“Precisamos urgentemente discutir que tipo de polícia a gente tem”, diz a professora.
As conclusões do relatório mais recente da Anistia Internacional convergem para a percepção da violência policial entre os mais pobres. A prática da tortura, afirma a entidade só joga mais lenha na fogueira; é usada nas ruas, em delegacias, presídios, centros de recolhimento de adolescentes “como meio de obter confissões, subjugar, humilhar e controlar pessoas sob detenção, ou com frequência cada vez maior, extorquir dinheiro ou servir aos interesses criminosos de policiais”.
Como agravante, relata a Anistia, “a grande maioria das vítimas é composta de suspeitos criminais de baixa renda, com grau de instrução insuficiente, frequentemente de origem afro-brasileira ou indígena, setores da sociedade cujos direitos sempre foram ignorados no Brasil”.
Já o Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu ao Brasil maiores esforços para “combater a atividade dos esquadrões da morte” (compostos por policiais civis e militares) e que trabalhe para “suprimir a Polícia Militar, acusada de numerosas execuções extrajudiciais”.
O relatório também pediu que o Brasil garanta que “todos os crimes cometidos por agentes da ordem sejam investigados de maneira independente”.
Seguir essa recomendação significa mexer em outro ponto crítico do sistema de segurança pública: o corporativismo que substitui a rivalidade entre as polícias e departamentos policiais quando o réu é agente do sistema de segurança. No estado de São Paulo, por exemplo, a Secretaria de Segurança Pública determinou em abril de 2011 que mortes em confrontos com PMs fossem investigadas pelo departamento de homicídios da Polícia Civil. De lá para cá, nenhum policial foi punido. Dos 500 casos analisados, todos na região metropolitana, 40% foram esclarecidos e em nenhum deles constatou-se desvio de conduta, ou seja, em todos os casos os PMs teriam tido motivo para atirar.
O que fez o relatório da Enasp incluir como medida a ser adotada imediatamente a “definição de parâmetros específicos para o controle externo nas investigações dos crimes de homicídio”.

Armas que vão e voltam

A corrupção também está entre os ingredientes que enfraquecem a segurança pública e multiplicam os homicídios. Armas de criminosos recolhidas pela polícia voltam a circular e o comércio ilegal de armas raramente é investigado, menos ainda punido. Policiais fazem bicos, aceitam propinas e vendem proteção para comerciantes, o que dá origem à formação de esquadrões da morte e à circulação ilegal de armas, como aponta o relatório da Anistia. Mais de 80% das armas apreendidas em situação ilegal é de fabricação brasileira, ou seja, foram comercializadas aqui.
“O debate da segurança pública é frequentemente contaminado por considerações de ordem ideológica, impedindo a implementação de medidas importantes nessa seara. Falta a sensibilidade de entender que deve haver um equilíbrio entre o interesse da garantia dos direitos dos cidadãos (e dos investigados) e o interesse da segurança pública”, defende a promotora Ana Luiza.
Junte-se a isso o apelo à força policial, a ideia de que “bandido não tem direitos humanos”, rotineiramente defendidos por uma parte da sociedade, também são vistos como fatores que enfraquecem a segurança pública de acordo com especialistas e estudiosos do tema.
Em março de 2012, confrontado com os indíces de homícidio haviam aumentado 50% em comparação com o mês anterior, o coronel Josiel Freire, subsecretário de operações da secretaria de segurança de Brasília – cuja polícia é a mais bem paga do país –declarou à imprensa: “Quase 70% das vítimas de homicídios estão envolvidas com crime e tráfico. O transeunte mesmo não está sendo vítima”. É digno de nota que a declaração não tenha causado escândalo – e nem mesmo muitas críticas.
Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, que há mais de uma década vem fazendo mapas de violência no Brasil, a situação da violência chegou a um ponto do que ele chama de pandemia. “É um problema estrutural, mais difícil de cuidar. A violência está incorporada”.
“A identificação do brasileiro como ‘homem cordial’ não se sustenta mais”, lamenta ele.
Décio Viotto
No Pública
*comtextolivre

AQUÍFERO GUARANI - Invasão gota a gota

do Burgos
Os EUA cada vez mais tem cercado a América do Sul com suas bases militares. indica um perigo futuro aos habitantes desse continente. Principalmente aos modadores da região do Aquífero Guarani, o maior reservatório de água doce do Mundo, localizado numa região que engloba imenso território no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
O governo dos EUA sempre bate na tecla que na tríplice fronteira há "terrorismo internacional".
Se lembrarmos que, historicamente, para quase todos os conflitos que entraram os norte-americanos, foi usado um motivo inventado, isso no mínimo deveria nos deixar de orelhas em pé.


*GilsonSampaio

AHMADINEJAD – “ATACAM E INVADEM OUTROS TERRITÓRIOS PARA ESCRAVIZAR OS POVOS”


 

Laerte Braga
“Os norte-americanos e sionistas têm bombas de todas as espécies e as usam contra as pessoas”. A afirmação é do presidente do Irã Mahamoud Ahmadinejad em entrevista que concedeu num hotel do Rio, um dia depois de discursar na RIO+20 defendendo uma nova ordem mundial “baseada na paz e no respeito entre os povos”.
Sem citar uma única vez o nome da presidente Dilma Roussef, mas classificando de “definitivo” o documento firmado entre os governos do Brasil, da Turquia e do seu país sobre a questão nuclear, Ahmadinejad lembrou Lula, à época desse acordo o presidente da República.
Lúcido e seguro em sua análise o presidente iraniano não teve dúvidas em falar da guerra midiática, uma das frentes do complexo terrorista ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A. “Mostram nosso povo como pobre e atrasado. Somos a décima sétima economia do mundo, breve seremos a décima quinta e temos posição de ponta nas questões que envolvem biotecnologia”.
Distorcem para criar uma realidade que não existe, mas agrade aos seus interesses.
“Querem as nossas riquezas naturais, explorar nossos povos”.
Mahamoud Ahmadinejad fez alusão ao regime anterior à revolução islâmica, que definiu como de submisso aos interesses dos EUA. “Tínhamos uma população de 35 milhões de iranianos e 90% vivia na pobreza”. Hoje somos bem mais e a realidade é diferente daquela”. Enfatizou que quatro milhões de iranianos são judeus e muitos “foram tentar a vida em Israel após a revolução, mas voltaram, pois não conseguiram viver naquele país”.
Um estado islâmico não significa necessariamente restrição de liberdade religiosa. A Noruega, por exemplo, não é um estado laico e isso está escrito em sua constituição.
O presidente do Irã reuniu-se com intelectuais brasileiros e representantes dos movimentos sociais destacando a história de luta pela democracia, da qual todos foram partes.
Denunciou mais uma vez que a ONU faz o jogo dos EUA, através do controle do Conselho de Segurança. Com isso, países que dispõem de arsenais nucleares não são punidos com sanções, caso de Israel, com mais de 300 artefatos, enquanto o Irã que usa energia atômica para fins pacíficos sofre sanções severas e constantes ameaças.
“Temos sete mil anos de história e não nos submetemos nunca. Querem nos escravizar, voltar à ordem antiga, do regime antigo e assim explorar nossas riquezas. Por isso nos satanizam. Transformar o povo em escravo”.
“Os que querem o monopólio da energia nuclear são os que têm bombas e já usaram em tempos passados, na Segunda Guerra, contra seres humanos. Energia nuclear para todos, bombas para ninguém. São os mesmos desse passado”.
“Seis milhões de barris de petróleo dia os Estados Unidos tiravam do Irã no regime antigo e nosso povo estava na miséria”, disse Ahmadinejad. “É o que querem fazer de novo”.
O presidente lembrou a guerra Iraque e Irã. “Armaram Saddam contra nós, inclusive com armas químicas e biológicas, numa guerra que custou milhares de vidas e depois destruíram o Iraque para ficar com o petróleo”. “Não têm respeito pelos seres humanos”.
Citou o fato dos EUA apoiarem ditaduras no Oriente Médio como forma de assegurar o controle da região, de ignorar o arsenal nuclear de Israel e permitir a opressão contra o povo e o território palestinos.
Sobre a questão síria o presidente declarou que “tem que ser resolvida entre os sírios, pelo povo sírio e não com intervenção de outros países”.
“Não existem pessoas, seres humanos para os norte-americanos e sionistas, só interesses. Querem dominar para explorar”
Ahmadinejad deixou claro que só uma nova ordem mundial poderá assegurar a todos os povos “paz e respeito” e isso passa por contrariar os negócios das grandes potenciais mundiais, de Israel e dos Estados Unidos.
Citou a fome na África, as guerras do Afeganistão e travadas mundo afora pelos “colonizadores”, inclusive na América Latina, onde lembrou a exploração das riquezas pelos países que colonizaram a região e agora, pelos interesses norte-americanos diante das dificuldades com vários governos contrários a essa exploração.
“É uma luta de todos os povos oprimidos a nova ordem”.
A entrevista do presidente Ahamadinejad, ao contrário das normalmente concedidas por chefes de governo e estados, não registrou nenhuma paranóia típica de agentes norte-americanos e israelenses. Foi descontraída, a segurança limitou-se aos procedimentos normais e nenhum deles constrangedores. Nem o hotel onde estava hospedado e nem as ruas nas imediações foram fechadas, nada de franco atiradores. E pela primeira vez jornalistas das mídias alternativa e virtual lado a lado com os da mídia de mercado, fato que, numa certa medida, inibe a costumeira mentira de GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, etc.
Foram poucos os comentários sobre a RIO + 20, levando em conta que seu discurso abrangeu bem mais que as questões que ali estavam sendo discutidas. Foi um documento de amplo teor político com diagnóstico da conjuntura atual e a posição de seu país, sob constante ameaça de ataques tanto por parte dos EUA, como de Israel.
Coincidência ou não, no dia seguinte, na sexta-feira, as avaliações de Ahmadinejad sobre a intervenção norte-americana em função de interesses políticos, econômicos e militares, se materializou no Paraguai, no golpe que derrubou o presidente Fernando Lugo. Um dos objetivos dos norte-americanos é construir ali uma base militar que permita monitorar o Brasil e a posse do quinto maior aqüífero do mundo, o Guarani. A água hoje, segundo o presidente da Coca Cola, “vale mais que petróleo”. Afirmação que dá, mais uma vez, razão ao pensamento de Ahmadinejad.
A afirmação do presidente da Coca Cola foi feita na RIO + 20, num fórum restrito de empresários, quando defendeu a privatização plena e absoluta da água. Ou seja, o controle pelas grandes corporações e em função dos interesses que representam.
Ao contrário do “monstro” que a mídia de mercado (GLOBO, VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, ESTADO DE SÃO PAULO, ÉPOCA, etc) vende, o presidente do Irã se mostrou lúcido, sereno e correto em suas avaliações e análises.
Não é um fato que possamos ignorar levando em conta o que ocorre em todo o mundo hoje.
A percepção que a luta transcende ao chamado mundo institucional, controlado em sua maioria – no Brasil inclusive – por grupos ligados a interesses do imperialismo norte-americano, do capitalismo internacional.
A luta é nas ruas como aconteceu na Cúpula dos Povos, evento paralelo à RIO + 20. 
*GilsonSampaio
Marta Suplicy
"Realpolitik"


O modelo "realpolitik" se esgotou e parece que nem todos estão percebendo. Não dá mais para viver essa praga que se entranhou no sistema político brasileiro. Erva daninha que corrói valores, exclui a participação, nega a democracia, desestimula o mérito e ignora a ética.

Nascida na Alemanha, a expressão "realpolitik", segundo Luis Fernando Verissimo, é um termo invocado quando um acordo ou arranjo político agride o bom-senso ou a moral.

Os cidadãos eleitores, que ainda se dão ao trabalho de acompanhar a política, não suportam mais essa prática. Podem até entender a necessidade das composições, alianças e acordos que se tornaram imprescindíveis no Brasil muito em função do nosso sistema eleitoral, do número de partidos e do quanto tornou-se precioso o tempo de TV.

Os que criticam essa modalidade e as formas de fazer política, vistas como "normais" há décadas, têm hoje consciência de que elas são um terrível mal que compromete a ação de governar. Mas quando, pela sua simbologia, ferem os limites do bom-senso e têm a marca do estapafúrdio, tornam-se incompreensíveis para a população e são por ela rechaçadas. Encontram-se além dos limites da própria "realpolitik".

Os sentimentos de indignação, insatisfação e, por fim, impotência estão fazendo com que uma parcela grande das pessoas se desinteresse pela política. A maioria dos jovens quer distância. E o povo, mais escolado, começa a achar "tudo igual", o que acaba provocando o mesmo desinteresse.

A luta pela democracia no Brasil conseguiu eletrizar forças e corações que não suportavam viver num país sob ditadura. Cada um reagiu à sua maneira. Mas muitos morreram e sofreram pela liberdade. Esse resgate da democracia é tão importante que não poderia ter sido contaminado por práticas seculares que nos acorrentam à uma malfadada forma de fazer política. Esta mesma que aliena o povo que se vê -e se sente- excluído e desrespeitado.

Mas nem tudo está perdido. Tem gente formulando, e outros remoendo, novas práticas e métodos, buscando diferentes formas e canais de interação social e política. Um novo modelo que contemple e dialogue com os vários segmentos e forças heterogêneas da sociedade. Uma construção distante dos métodos agonizantes e ultrapassados que ainda hoje vigoram. Uma transição necessária, e imprescindível, que já passou da hora de acontecer.

Não está claro como, e em quanto tempo, se dará o nosso processo de libertação da chamada "realpolitik". Mas, que esse sistema político e eleitoral que vivemos chegou à exaustão, tenho clareza.
*GorettiBussolo