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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 29, 2015

presidenta Dilma participou hoje (29), em Washington, da primeira atividade da visita oficial que faz aos Estados Unidos. O presidente Barack Obama


HOMENAGEM À DILMA
A presidenta Dilma participou hoje (29), em Washington, da primeira atividade da visita oficial que faz aos Estados Unidos. O presidente Barack Obama ofereceu um jantar na Casa Branca em homenagem à Dilma e sua comitiva. Amanhã a agenda segue com reuniões de trabalho e assinatura de acordos.




A Presidenta Dilma Rousseff acompanhada do Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama visitam o memorial de Martin Luther King.


Em Nova Iorque, encontro com empresários e com o ex-secretário de Estado Henry Kissinger. Em Washington, visita ao memorial de Martin Luther King e jantar com Barack Obama na Casa Branca. Confira o resumo da agenda da presidenta Dilma Rousseff, nesta segunda (29), nos Estados Unidos. goo.gl/tBTP5u ‪#‎BrasilEUA‬

Grécia, não pisque!

Sanguessugado do redecastorphoto


 Alex Andreou, By Line
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O Jogo da Franga [1], que vem sendo jogado pelos últimos cinco anos na Grécia, está chegando ao clímax. Alexis Tsipras jogou extremamente bem com cartas péssimas, apesar do que dizem e escrevem os teóricos do apocalipse-já.
Alexis Tsipras em 25/1/2015
O Primeiro-Ministro grego, Alexis Tsipras, pareceu surpreender o mundo ontem, quando anunciou que oferecerá um referendum ao povo grego sobre o acordo sobre a dívida do país que a UE/FMI apresentaram. Que o povo grego decidirá o que quer. Deixou claro que a proposta das instituições não o agrada, que é proposta “inaceitável” e “humilhante” que deve ser rejeitada.
Partidos da oposição grega rapidamente condenaram o movimento do governo. São as mesmas pessoas que há semanas criticam Tsipras por aceitar excessivas demandas das instituições credoras e por estar andando na direção de um acordo que, para aqueles partidos, é terrível.
Mas comentaristas internacionais observaram que as discussões no Eurogrupo, de fato, estão continuando hoje, e que a “equipe grega” repentinamente viu-se com meios para tirar um grande ás da manga, que ninguém imaginou que ainda existisse.
Onde está a verdade?
Como sempre, está no meio, entre essas duas posições. No início do ano, escrevi que a União Europeia e especialmente o FMI estavam em processo de superdistensão. Para que a doutrina do choque funcione, é preciso que haja uma maioria com algo a perder. Pode-se alcançar um ponto de inflexão e, me parece, pode estar na Grécia, onde a grande maioria das pessoas zomba de ameaças como “controles de capitais” e poupanças confiscadas. É simples de entender, porque já ninguém na Grécia tem nem capitais nem poupanças. Quando isso acontece, a reação de uma nação contra a humilhação pode ser imprevisível.
É verdade que o referendo deixa o povo grego ante a escolha entre dois tipos de miséria extrema. Será miséria imposta de fora para dentro, ou miséria de tipo em que o miserável guarda ainda, pelo menos, a autodeterminação?
Mas é imensamente injusto sugerir que essa seria posição à qual só o Syriza nos arrastou. Essa é a posição à qual nos arrastaram 40 anos de corrupção e governos incompetentes e cinco anos de hegemonia economicamente analfabeta do FMI.
Ante a visão de um abismo todos os dias mais e mais profundo de arrocho [não é “austeridade”; é ARROCHO], de morte pelos mil cortes, Tsipras optou por agir como catalisador, e empurrar as coisas para uma decisão rápida.
Não há para mim dúvida alguma de que, daqui a 20 anos, a Grécia ainda existirá e, muito provavelmente, estará tranquila e próspera. Não digo isso por causa de glórias passadas, nem dos argumentos tipo “berço da democracia”. Abomino nacionalismos romantizados. Tudo aquilo é passado dos gregos. Prefiro olhar para nosso presente. E vejo a solidariedade dos movimentos de base, que surgiram e cresceram para garantir atendimento à saúde de gente que já não pode pagar por serviços médicos; ou abrigo para os milhares de refugiados sírios que chegam todos os dias à Grécia por nossas fronteiras. Vejo as fábricas e restaurantes criados como cooperativas, que nasceram para oferecer empregos a quem muito precisava deles. Vejo como as famílias cerraram fileiras e como o tecido da sociedade grega mantém-se relativamente firme e coeso, depois de cinco anos de massacre. Essas realizações são a razão de eu ter esperanças sobre o futuro – não a história antiga.
A verdadeira questão é: a União Europeia sobreviverá? Depende de como lidem com a situação nos próximos poucos dias. Os gregos não estão sós entre povos cada dia mais desconfortáveis com a microgestão de corpos supranacionais não eleitos. É hora de a União Europeia redefinir-se ou como organização que ativamente busque um equilíbrio entre integração e soberania ou como quem quer chegar à federalização custe o que custar, mesmo sob risco de se autodestruir.
Tem havido muita conversa sobre o governo grego ter abdicado da própria responsabilidade. Minha visão é outra. A missão que foi entregue a Tsipras em janeiro sempre foi extremamente difícil, desde o início: o povo grego queria:
(a) o fim do arrocho [não é austeridade; é ARROCHO]; e
(b) continuar conectado à órbita do euro.
Sempre houve um risco, dependendo de o quanto fosse rígida a posição de nossos credores, que esses dois objetivos fossem completamente incompatíveis. Tsipras é líder absolutamente coerente e honesto, quando diz:
O que se vê é que, por mais que nos esforcemos, não conseguimos fazer as duas coisas (a) e (b) acima. Por isso, voltamos às bases para novas consultas.
É extraordinário o quanto nos tornamos todos adversários da democracia. A ponto de já ninguém ver quando um líder honesto e densamente democrático resiste contra vender o país em troca de continuar no poder. Parem. Respirem. Deixem que seus olhos se ajustem à luz inesperada. Tsipras é o que todos os líderes democráticos deveriam realmente ser. Mas nos habituamos de tal modo a ver as coisas pelo prisma vicioso da esperteza, da manobra política contra a democracia e a favor dos interesses de um ou outro governante, que a própria democracia já foi contaminada e aparece deformada.
Não sei que resposta o povo dará ao referendum, se se concretizar. Mas não entendo a histeria de que a oposição foi tomada, ante a simples possibilidade de haver um referendo. Mas, se você está histérico ante a ideia do referendo, ora bolas, vote “Sim” e convença outros a votar “Sim”. Esse é o poder que Tsipras devolveu também à oposição.
O que eu sei é que a questão de se exigimos para nós nossa autodeterminação como nação, ou se estamos felicíssimos como estamos é questão que diz respeito a nós.
Estamos satisfeitos com o que temos hoje, governados, de fato, por gente que jamais foi eleita, que nada conhece nem nada tem a ver com a Grécia, mas se sente com direito de determinar o valor do Imposto sobre Valor Agregado do nosso leite e do nosso pão?
É hora de responder SIM ou NÃO.
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Nota dos tradutores
Orig. chicken game, lit. “jogo da galinha”, tradução literal da expressão em inglês, que não faz sentido em português. Em port. do Brasil, a melhor tradução nos parece ser “Jogo da Franga”, que aqui adotamos.
[*] Alex Andreou abandonou uma promissora carreira - para desgosto de sua mãe - na lei e na investigação de mercado, para trabalhar como ator na London’s Poor School com a tenra idade de 38 anos. Desde então atuou, principalmente, com pessoas muito desagradáveis no palco, incluindo National Theatre, Southbank, Royal Manchester Exchange, Theatre Royal Strateford East e festivais britânicos e internacionais. Já apareceu em vários filmes e teve sua estréia na Direção com Mamet's Boston Marriage at the Pacific Playhouse. Tem ensinado Shakespeare e Direção na London’s Poor School.
Com o seu “chapéu de escritor”, contribui com The Guardian, New Statesman, e muitas outras publicações britânicas e gregas. Também escreve para a BBC Radio 4. Seu primeiro livro será publicado ainda em 2015. Alex tem estudado os “sem-teto” tornando-se militante com conhecimento profundo da pobreza, comentarista político e defensor dos direitos dos migrantes. É palestrante em várias instituições britânicas e gregas.
*GilsonSampaio

Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim GuerreiroEmbaixador brasileiro na Rússia apoia moeda única dos BRICS (Entrevista)

Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro

Embaixador brasileiro na Rússia apoia moeda única dos BRICS (Entrevista)

© Sputnik/ Anton Denisov

O Brasil considera positiva a ideia de uma moeda única dos BRICS e espera que a cúpula em Ufá (Rússia) no princípio de julho seja o início do trabalho prático do Arranjo Contingente de Reservas, disse à RIA Novosti o embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro.
RIA Novosti: A Rússia passou a presidir os BRICS depois do Brasil. Como avalia o trabalho da organização durante o ano da presidência brasileira?
Antônio José Vallim Guerreiro: Nós achamos que o ano da nossa presidência foi bastante bem-sucedido, não obstante este período ter coincidido com uma fase de grande atividade política no próprio Brasil, devido ao fato de que em Outubro do ano passado se realizaram as eleições presidenciais. Na cúpula de Fortaleza foram assinados dois documentos fundamentais sobre a criação de novos mecanismos de desenvolvimento: o novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas. Atualmente todos os países participantes estão ratificando e introduzindo os acordos assinados em sua legislação nacional. No que toca ao Brasil, a Câmara de Deputados e o Senado já fizeram todo o trabalho necessário e esperamos que, graças a esforços conjuntos com os nossos parceiros, a cúpula em Ufá dê início do trabalho prático das novas instituições. 
RN: Na sua opinião, quando irão estas instituições financeiras funcionar plenamente? De que forma estes projetos irão se refletir nas economias dos países integrantes dos BRICS?  
AJVG: O funcionamento do Arranjo Contingente de Reservas, espero, não será assim tão necessário a curto prazo, visto que é fundamentalmente um instrumento de resolução de situações de crise e nós esperamos que não seja necessário recorrer a ele. No mundo atual a situação é muito volátil e, por isso, é muito importante para o BRICS possuir um tal instrumento como mecanismo de segurança.
No que se refere ao novo Banco de Desenvolvimento, a sua concepção é significativamente diferente do Arranjo Contingente de Reservas, se trata em primeiro lugar de um banco de investimento que irá alocar meios para o desenvolvimento primeiramente de projetos de infraestruturas. De acordo com os estatutos do banco, não são só os países membros que podem obter financiamento mas também países terceiros que exprimam o desejo de colaborar com o banco, não sendo obrigatória a filiação no próprio banco. Esperamos que a colaboração de todos os países com o banco dê um impulso positivo a todos os projetos, que são a nossa principal prioridade de investimento. Relativamente ao Brasil, já elegemos o nosso representante, que irá integrar o Conselho de Diretores. Os aspetos concretos da atividade do banco serão discutidos na cúpula de Ufá, para isso incluímos especialmente o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central do Brasil na composição da delegação oficial.
RN: Os BRICS precisam de uma moeda comum? 
AJVG: De fato, esta questão já foi levantada diversas vezes e discutida nas mais diversas circunstâncias. Nós consideramos que a ideia em si é bastante positiva, uma vez que permitiria  utilizar uma moeda única nas trocas comerciais e não depender das perturbações no mercado cambial, mas a questão é muito complexa, deve ser estudada em profundidade, primeiro a nível técnico, a nível de peritos conhecedores de todos os aspetos positivos e negativos da eventual introdução de uma moeda única.
RN: Até que ponto são verdadeiras as expectativas de que os países do BRICS alcançarão uma posição conjunta na próxima cimeira em Ufá sobre a situação na Ucrânia?
AJVG: Naturalmente, a questão ucraniana não é tabu nas discussões nos BRICS, estou certo de que os líderes dos nossos países, tendo plena liberdade de expressar suas posições políticas, levantarão este tema. Para saber de que forma o farão vamos esperar pelas próprias palavras dos presidentes. Mas essa questão pode e muito provavelmente irá ser discutida, inclusive serão feitas declarações públicas. Se você se lembra, na última cúpula em Fortaleza, na declaração final dos chefes de Estado havia um parágrafo dedicado ao conflito no leste da Ucrânia, onde se dizia que este deve ser resolvido por meios pacíficos. Além disso, recorde-se que, no ano passado, a delegação ucraniana propôs um projeto de resolução na Assembleia Geral das Nações Unidas, e todos os membros dos países BRICS se abstiveram.
Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro
Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro
RN: Que influência tem tido a crise nas relações entre a Rússia e o Ocidente sobre a cooperação econômica entre os nossos países, o comércio bilateral?
AJVG: O potencial para uma maior expansão da nossa cooperação econômica sempre existiu, mesmo antes da decisão dos países ocidentais de imporem sanções. Apesar do fato de que as economias e os mercados dos nossos países têm um grande potencial, da ordem de dois trilhões de dólares, a cooperação econômica entre Brasil e Rússia precisa ser vista como bastante “jovem”, recente. As relações econômicas, comerciais ativas começaram apenas 15-20 anos atrás. Portanto, agora o nosso principal objetivo é incentivar os empresários de ambos os países a entrarem ativamente no mercado. O volume de negócios do comércio bilateral no ano passado ascendeu a 6,3 bilhões de dólares. Este é, claro, um valor pequeno considerando o potencial que nossos mercados possuem.
RN: Planeia o Brasil expandir a lista de produtos alimentares fornecidos à Federação da Rússia? Caso sim, quais os produtos? Quando teremos no mercado russo os queijos brasileiros produzidos pelas empresas que não há muito foram autorizadas a exportar para a Rússia?
AJVG: Um dos principais produtos brasileiros de exportação em todo o mundo é a carne, a Rússia  exporta fertilizantes para o Brasil. Certamente, é nosso interesse comum expandir e diversificar a lista de produtos de importação e exportação. O que nós gostaríamos de exportar para a Rússia? Produtos de alto valor agregado, agora saber quais são os que têm mais demanda aqui – isso já é uma questão para os nossos empresários, para os exportadores e importadores. O queijo, espero, irá aparecer em breve nas prateleiras russas, não poderei é dizer com precisão quando isso vai acontecer.


Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20150629/1422660.html#ixzz3eT5SHyDi

“A guerra à droga é perdida, irracional. Podemos começar pela maconha”, diz Beltrame


O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou que a descriminalização das drogas no Brasil não pode passar deste governo. Para ele, a guerra às drogas é “perdida” e “irracional”. As informações são da revista Época.

José Mariano Beltrame, homem forte da segurança do Estado do Rio de Janeiro há mais de oito anos, nem na Europa consegue passear. Está a trabalho, em Portugal e na França. Num momento em que a descriminalização do uso de drogas é debatida no Brasil, no Supremo Tribunal Federal (STF), ele admira a estratégia do governo português para lidar com o problema. Beltrame falou a ÉPOCA sobre bandidos, policiais, cidadãos e drogas.
No Brasil, não pode passar deste governo a descriminalização do uso. A guerra à droga é perdida, irracional. Podemos começar pela maconha.
ÉPOCA – O que o senhor aprendeu nesta viagem?
​José Mariano Beltrame – Fiquei encantado com a descriminalização das drogas em Portugal. De todas as drogas, inclusive heroína, cocaína. O programa começou em 2000. No Brasil, não pode passar deste governo a descriminalização do uso. A guerra à droga é perdida, irracional. Podemos começar pela maconha. Convidei os portugueses para ir ao Brasil na Semana do Policial, em novembro, e contar a experiência de seu país. Em Portugal, o assunto “drogas” não está inserido na polícia, mas no Ministério da Saúde. Com a ajuda de juízes, procuradores, psicólogos, médicos, e integrantes da sociedade civil. A polícia pega o usuário e ele é convidado a participar de encontros. São 90 clínicas em Portugal, completas com toda a assistência, voluntários e visitas. E uma comissão fiscaliza isso. Todos se juntaram para combater essa doença, porque o vício é uma enfermidade, e não um crime. Sem vaidade, sem luta de poder.
Descriminalizando o uso, um dos efeitos é o alívio na polícia e no Poder Judiciário, que podem se dedicar aos homicídios, aos crimes verdadeiros.
ÉPOCA – No Brasil, estamos longe desse consenso…
Beltrame – No Rio, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) são uma forma de reconhecer o problema da droga, mas não abordar de uma forma belicista. Nunca foi nosso objetivo acabar com as drogas. É impossível. Parece que os brasileiros não acordam para o desperdício dessa guerra. Não existem vitoriosos. Descriminalizando o uso, um dos efeitos é o alívio na polícia e no Poder Judiciário, que podem se dedicar aos homicídios, aos crimes verdadeiros. Mas, olhe só: o governo federal está preparando um plano nacional de redução de homicídios sem consultar os Estados. Eu não fui consultado. Como não ouvir as secretarias estaduais para aprender com acertos e erros? Espero que o plano não envolva só questões policiais. Que venha com o foco de recuperar mecanismos sociais para prevenir a violência. A polícia nada mais é que a seta da ponta da flecha.

"O número de crianças em Gaza que têm ferimentos graves ou infecções causadas pelas substâncias contidas nas armas proibidas - utilizados por Israel - é muito alto."

Isso é o que ISRAEL faz :
"O número de crianças em Gaza que têm ferimentos graves ou infecções causadas pelas substâncias contidas nas armas proibidas - utilizados por Israel - é muito alto."
Estas são as conclusões a que chegaram os "Medicos para o rompimento do cerco II", relatado na conferência de imprensa em Beirute.
Najib Hammadah, coordenador da campanha, falou sobre os efeitos devastadores causados por bombas de fósforo, urânio empobrecido e bombas de fragmentação.
Em conclusão, Hammadah apelou aos hospitais da Faixa de Gaza: "Eles não têm equipamentos, aparelhos e medicamentos necessários para o tratamento de doenças comuns na área:. Câncer, doença renal e assim por diante"

domingo, junho 28, 2015



Moro pode ser responsabilizado por excessos na Lava Jato, diz Bandeira de Mello

Para o jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, órgãos superiores da magistratura podem condenar o uso de prisões preventivas para obter delações premiadas na Lava Jato.

Jornal GGN - "Um homem de pouca serenidade, sempre à procura de algo para aparecer". É assim que o jurista Celso Antonio Bandeira de Mello descreve o juiz federal Sergio Moro em entrevista ao GGN, nesta sexta-feira (26). Moro conduz a Operação Lava Jato sob críticas de constitucionalistas e da defesa dos empresários acusados de formação de cartel na Petrobras, que repudiam o uso da prisão preventiva como forma de obter confissões ou acordos de delação premiada.
Para Bandeira de Mello, Moro pode ser responsabilizado por órgãos superiores da magistratura por ter lançado mão desse instrumento para coagir os réus. "Já houve magistrado [Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal] que chamou de medievalescas essas atitudes de Moro. Ele não está causando boa impressão", apontou.
Em despacho contra a privação de liberdade de nove empreiteiros, Zavascki chamou as prisões preventivas de "subterfúgios" que "além de atentatório aos mais fundamentais direitos consagrados na Constituição", são de natureza "medievalesca" e "cobririam de vergonha qualquer sociedade civilizada." 
Abaixo, os principais pontos da entrevista com Bandeira de Mello.
Jornal GGN - Como avalia essa nova fase da Operação Lava Jato, com foco nos grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez?
Bandeira de Mello - Me parece mais um desses atos 'inconsiderados' do juiz Sergio Moro. Ele me parece um homem de pouca serenidade, sempre à procura de algo para aparecer, por pura vaidade. Essa é a impressão que me dá. Posso estar errado, não conheço os autos, estou falando como leitor de jornais. Mas até agora, não vi nada que justificasse as novas investidas do juiz. São interpretações [para decretar prisões preventivas] que não parecem apoiadas em fatos relevantes. Acredito que este homem não tem a serenidade de um magistrado.
GGN - A defesa da maioria dos empresários critica a prisão preventiva alegando que os argumentos para tal medida são frágeis. Em alguns veículos de comunicação, houve espaço para uma visão mais extrema, dando a entender que a ideia é chegar ao ex-presidente Lula por meio da delação desses empresários.
Bandeira de Mello - Eu não sei se é para chegar em Lula ou não. Se for, é pior ainda. É sinal de uma irresponsabilidade total [na condução da investigação]. Mas não sei se é isso. Não tenho elementos para dizer isso. O que posso dizer é que não tenho visto nada de relevante que justifique a prisão desses empresários. Desde o começo, as prisões têm sido usadas para obter delações. Mas elas têm de ser espontâneas, não fruto de coação. E a mim parece que estão coagindo as pessoas, prendendo sem base, usando a prisão além da razão de existir dela.
Minha impressão é muito desfavorável a esse juiz, para ser sincero. Já tinha ouvido da academia do Paraná que ele é um homem difícil e presunçoso. Acho que ele vai acabar sendo responsabilizado [pelo uso de prisões preventivas para arrancar confissões ou delações].
GGN - De que maneira ele poderia ser responsabilizado?
Bandeira de Mello - Responsabilizado por órgãos superiores da magistratura, e pelo próprio Conselho [Superior] da Magistratura. Já houve magistrado [Teori Zavascki] que chamou de medievalescas as atitudes de Moro. Ele não está causando boa impressão.
Há também um pouco daquele negócio de pão e circo. Pegar pessoas importantes parece que dá certo prazer em algumas pessoas. Mas é claro que se a imprensa não fosse leniente, ele não faria tudo isso. Ele se sente apoiado pela imprensa. Infelizmente, estamos assistindo a um direitismo desenfreado, uma caminhada em prol do fascismo.
GGN - A Odebrecht comprou espaço nos jornais impressos para se defender da Operação Lava Jato, e o juiz Sergio Moro não gostou do modo como a publicidade foi feita. O que chamou a atenção foi que ele - juiz da investigação, mas que também vai julgar o caso - dizer que a Odebrecht dá sinais de que não quer assumir a responsabilidade, como se já tivesse uma opinião formada sobre o papel das empresas na Lava Jato.
Bandeira de Mello - Infelizmente, parece que ele já começou com a opinião formada. É como digo: a mim não causa a mesma impressão que um magistrado. Um magistrado tem de ser um homem equidistante, sereno. A impressão que ele passa é de um vingador desses que a gente vê em filme. 
GGN - Seria possível à defesa das empresas encampar alguma ação para que a figura do juiz instrutor se fizesse mais evidente, ou pelo menos não houvesse uma mistura perigosa do juiz instrutor com o juiz que vai definir as condenações?
Bandeira de Mello - Infelizmente, não existe essa figura no Brasil. O que poderia ser feito é eventualmente alguém solicitar o afastamento de Sergio Moro por falta de isenção, mas isso também é difícil de provar. Nós vamos ter que esperar que os processos que andam pelas mãos dele subam para os tribunais superiores. Pela declaração de Teori, já se vê que no órgão máximo do Judiciário, que é o Supremo, pelo menos um magistrado se manifestou de maneira bastante reticente, para não dizer contrária, ao modo Moro de agir. Acredito que, com o tempo, esse homem vai se ver mal. Por hora, com esse apoio da imprensa, vai continuar causando estragos. Só quando a imprensa tiver outro assunto para se ocupar - as Olimpíadas, por exemplo - é que ela vai deixar de dar tanto apoio à Lava Jato. Porque tudo passa, notícia vem e vai.
GGN - Essa semana o Valor Econômico noticiou que há alas do PMDB - preocupadas com a condução da Lava Jato - apoiando teses de impeachment. Eles acham que se o presidente da Odebrecht foi preso, qualquer um pode ser. E, assim, discutem a saída de Dilma esperando que Michel Temer, na Presidência da República, tenha pulso mais firme para impedir os excessos da Operação. Ele poderia trocar, por exemplo, o ministro da Justiça, que tem demonstrado pouco controle sobre a Polícia Federal. O que é possível dizer sobre isso?
Bandeira de Mello - Acho o Michel um homem muito leal. Não acho que ele entraria em jogo político para coadunar com impeachment de Dilma. Mas é claro que no PMDB há de tudo. Não estranho que existam, dentro do partido, movimentos nesse sentido. Não creio que o vice-presidente tenha embarcado nessa.
Em relação ao ministro José Eduardo Cardozo, a minha impressão é ótima, a melhor possível. Acho ele um homem extremamente preparado, grande conhecedor do Direito, e corretíssimo. Mas é possível que ele não esteja tendo o controle total da Polícia Federal. É uma corporação difícil de manejar, não imagino que seja fácil para Cardozo.