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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 29, 2015

Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim GuerreiroEmbaixador brasileiro na Rússia apoia moeda única dos BRICS (Entrevista)

Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro

Embaixador brasileiro na Rússia apoia moeda única dos BRICS (Entrevista)

© Sputnik/ Anton Denisov

O Brasil considera positiva a ideia de uma moeda única dos BRICS e espera que a cúpula em Ufá (Rússia) no princípio de julho seja o início do trabalho prático do Arranjo Contingente de Reservas, disse à RIA Novosti o embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro.
RIA Novosti: A Rússia passou a presidir os BRICS depois do Brasil. Como avalia o trabalho da organização durante o ano da presidência brasileira?
Antônio José Vallim Guerreiro: Nós achamos que o ano da nossa presidência foi bastante bem-sucedido, não obstante este período ter coincidido com uma fase de grande atividade política no próprio Brasil, devido ao fato de que em Outubro do ano passado se realizaram as eleições presidenciais. Na cúpula de Fortaleza foram assinados dois documentos fundamentais sobre a criação de novos mecanismos de desenvolvimento: o novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas. Atualmente todos os países participantes estão ratificando e introduzindo os acordos assinados em sua legislação nacional. No que toca ao Brasil, a Câmara de Deputados e o Senado já fizeram todo o trabalho necessário e esperamos que, graças a esforços conjuntos com os nossos parceiros, a cúpula em Ufá dê início do trabalho prático das novas instituições. 
RN: Na sua opinião, quando irão estas instituições financeiras funcionar plenamente? De que forma estes projetos irão se refletir nas economias dos países integrantes dos BRICS?  
AJVG: O funcionamento do Arranjo Contingente de Reservas, espero, não será assim tão necessário a curto prazo, visto que é fundamentalmente um instrumento de resolução de situações de crise e nós esperamos que não seja necessário recorrer a ele. No mundo atual a situação é muito volátil e, por isso, é muito importante para o BRICS possuir um tal instrumento como mecanismo de segurança.
No que se refere ao novo Banco de Desenvolvimento, a sua concepção é significativamente diferente do Arranjo Contingente de Reservas, se trata em primeiro lugar de um banco de investimento que irá alocar meios para o desenvolvimento primeiramente de projetos de infraestruturas. De acordo com os estatutos do banco, não são só os países membros que podem obter financiamento mas também países terceiros que exprimam o desejo de colaborar com o banco, não sendo obrigatória a filiação no próprio banco. Esperamos que a colaboração de todos os países com o banco dê um impulso positivo a todos os projetos, que são a nossa principal prioridade de investimento. Relativamente ao Brasil, já elegemos o nosso representante, que irá integrar o Conselho de Diretores. Os aspetos concretos da atividade do banco serão discutidos na cúpula de Ufá, para isso incluímos especialmente o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central do Brasil na composição da delegação oficial.
RN: Os BRICS precisam de uma moeda comum? 
AJVG: De fato, esta questão já foi levantada diversas vezes e discutida nas mais diversas circunstâncias. Nós consideramos que a ideia em si é bastante positiva, uma vez que permitiria  utilizar uma moeda única nas trocas comerciais e não depender das perturbações no mercado cambial, mas a questão é muito complexa, deve ser estudada em profundidade, primeiro a nível técnico, a nível de peritos conhecedores de todos os aspetos positivos e negativos da eventual introdução de uma moeda única.
RN: Até que ponto são verdadeiras as expectativas de que os países do BRICS alcançarão uma posição conjunta na próxima cimeira em Ufá sobre a situação na Ucrânia?
AJVG: Naturalmente, a questão ucraniana não é tabu nas discussões nos BRICS, estou certo de que os líderes dos nossos países, tendo plena liberdade de expressar suas posições políticas, levantarão este tema. Para saber de que forma o farão vamos esperar pelas próprias palavras dos presidentes. Mas essa questão pode e muito provavelmente irá ser discutida, inclusive serão feitas declarações públicas. Se você se lembra, na última cúpula em Fortaleza, na declaração final dos chefes de Estado havia um parágrafo dedicado ao conflito no leste da Ucrânia, onde se dizia que este deve ser resolvido por meios pacíficos. Além disso, recorde-se que, no ano passado, a delegação ucraniana propôs um projeto de resolução na Assembleia Geral das Nações Unidas, e todos os membros dos países BRICS se abstiveram.
Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro
Embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro
RN: Que influência tem tido a crise nas relações entre a Rússia e o Ocidente sobre a cooperação econômica entre os nossos países, o comércio bilateral?
AJVG: O potencial para uma maior expansão da nossa cooperação econômica sempre existiu, mesmo antes da decisão dos países ocidentais de imporem sanções. Apesar do fato de que as economias e os mercados dos nossos países têm um grande potencial, da ordem de dois trilhões de dólares, a cooperação econômica entre Brasil e Rússia precisa ser vista como bastante “jovem”, recente. As relações econômicas, comerciais ativas começaram apenas 15-20 anos atrás. Portanto, agora o nosso principal objetivo é incentivar os empresários de ambos os países a entrarem ativamente no mercado. O volume de negócios do comércio bilateral no ano passado ascendeu a 6,3 bilhões de dólares. Este é, claro, um valor pequeno considerando o potencial que nossos mercados possuem.
RN: Planeia o Brasil expandir a lista de produtos alimentares fornecidos à Federação da Rússia? Caso sim, quais os produtos? Quando teremos no mercado russo os queijos brasileiros produzidos pelas empresas que não há muito foram autorizadas a exportar para a Rússia?
AJVG: Um dos principais produtos brasileiros de exportação em todo o mundo é a carne, a Rússia  exporta fertilizantes para o Brasil. Certamente, é nosso interesse comum expandir e diversificar a lista de produtos de importação e exportação. O que nós gostaríamos de exportar para a Rússia? Produtos de alto valor agregado, agora saber quais são os que têm mais demanda aqui – isso já é uma questão para os nossos empresários, para os exportadores e importadores. O queijo, espero, irá aparecer em breve nas prateleiras russas, não poderei é dizer com precisão quando isso vai acontecer.


Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20150629/1422660.html#ixzz3eT5SHyDi

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