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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 14, 2015

Sabe quem é esse garoto caído na foto? É o Rafael, 14 anos, morador de Cariacica (ES) e que sonhava em ser um estilista famoso

William De Lucca Martinez se sentindo destroçado
Sabe quem é esse garoto caído na foto? É o Rafael, 14 anos, morador de Cariacica (ES) e que sonhava em ser um estilista famoso. Sonhava, porque ele foi assassinado. Foi espancado com paus e pedras. Morto, aos 14 anos de idade. Não tinha envolvimento com crimes, com drogas e passava horas em seu quarto fazendo vestidos para bonecas. Frequentava a igreja do bairro, fazia parte de um grupo de jovens. Segundo a família, Rafael sofria preconceito o tempo todo por ser gay e por ser afeminado, por não se enquadrar no padrão heteronormativo imposto.
Rafael pagou com a vida por viver uma vida que a gente é proibido de viver. Rafael entra pra estatística, não gera protesto da ~gente de bem~ porque não era imagem de santo, não era Jesus em cruz. Era só mais um menino pobre, preto, viado. Menos um, alguns dirão.
Rafael não será mais estilista, porque Rafael foi executado. E os motivos, que ainda estão sendo investigados, já estão muito claros.
Tô aqui, chorando pra caralho, Rafael. Me desculpa por esse mundo torto, menino. Me desculpa pela minha impotência. Desculpa mesmo.



À espera do Pai-Nosso da Bancada Evangélica para Rafael Barbosa


RAFAEL
O estudante Rafael Barbosa de Melo, de 14 anos, foi morto a pedradas na manhã de sábado (13) em Cariacica (ES), cidade que fica na região metropolitana de Vitória. Mais um crime brutal no Brasil, certo?
Na semana passada, parlamentares da Bancada Evangélica pararam uma sessão que discutia a reforma política para rezar um Pai-Nosso. O ato de repúdio contra a Parada Gay de São Paulo, como sempre fazem questão de dizer, foi mais uma demonstração em 'defesa da família', dizem.
Rafael era o mais velho de sete filhos de dona Wanderléia Barbosa. Segundo ela, o filho tinha o sonho de ser um estilista famoso. Foi interrompido por um brutal espancamento com pedradas e pancadas. O corpo foi encontrado no bairro onde a família residia.
"Muitas pessoas implicavam com ele, caçoavam e o xingavam. Implicavam com o jeito dele andar, dele andar e por ele fazer roupas. Ele sofria muito, por isso meu filho era uma pessoa de poucos amigos e muito fechado", disse a mãe da vítima ao site Gazeta Online.
No domingo (14), a polícia prendeu Gleisson Pereira Miranda, de 26 anos, suspeito de ter cometido o crime. Ele negou o crime, apesar de ter sido visto próximo ao corpo de Rafael logo após o crime. O delegado responsável pelo caso acredita em uma tentativa de abuso, seguida de assassinato, e não um crime de homofobia.
Não entrando no mérito do Estado laico brasileiro, seria a morte do estudante em Cariacica digna de um Pai-Nosso no plenário da Câmara dos Deputados? Seria o cruel homicídio digno de um ato de revolta por parte da Bancada Evangélica, mesmo que tal defesa envolvesse um jovem que a própria família dizia ser homossexual?
Fica o espaço (e a oportunidade) para os nobres deputados falarem, uma vez que foram eleitos democraticamente para representar o País - e não só a parcela da população que julguem conveniente a si mesmos.
*tijolaco
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