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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 25, 2015

a oposição se dá conta que dispõe apenas de Aécio e de Alckmin

Emir Sader: As derrubadas de Lula pela direita

Quando a oposição se dá conta que dispõe apenas de Aécio e de Alckmin para serem candidatos, a obsessão de tirar o Lula da jogada volta com força. O Lula já foi derrubado muitas vezes pela direita, só que nunca caiu. Foram momentos de ejaculação precoce por parte da direita brasileira.

Por Emir Sader*, na Carta Maior


Lula na varanda segura a bandeira do Brasil.Lula na varanda segura a bandeira do Brasil.
A primeira vez foi na crise de 2005. A direita considerava favas contadas a derrubada do Lula. Pensou no impeachment, mas depois recuou, com medo da reação popular.

Aí preferiu “sangrar o governo”, até derrubá-lo nas eleições de 2006. Só que os efeitos das políticas sociais do governo tinham gerado uma grande base de apoio popular, que levou o Lula à reeleição em 2006.

Depois Lula ia ser derrubado, ia sair derrotado do governo, porque sua candidata era um poste e o da direita amplamente favorito. Deu o poste e Lula saiu vitorioso, com o maior apoio popular que um presidente tinha tido, apesar da campanha da mídia monopolista contra ele.

A obsessão com Lula voltou conforme se enfoca o horizonte das eleições de 2018. Ganhar no campo, a direita vê que é impossível, por mais que se contente ilusoriamente com pesquisas manipuladas. Se acreditasse nelas, não estaria de novo com a obsessão de tirar Lula do caminho, via alguma forma de impedimento jurídico.

É o tema central da mídia e o objetivo do tal do juiz Moro. Nada faz sentido se não conseguir chegar a Lula, mas ao mesmo tempo tem medo e não tem elementos para isso.

Quando a oposição se dá conta que dispõe apenas de Aécio e de Alckmin para serem candidatos, a obsessão de tirar o Lula da jogada volta com força. De que valeu toda a campanha do mensalão em 2005, se na eleição Lula derrotou Alckmin? De que valeria todas as manipulações de agora, se o enfrentamento voltar a colocar frente a frente Lula e Alckmin?

Se trata então de derrubar de novo Lula, antes que ele derrube de novo a direita.
 

*Emir Sader é sociólogo e cientista político brasileiro e blogueiro.
*Vermelho

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