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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 09, 2015

Solidariedade a Cuba: Encontro em Pernambuco reafirma a luta pelo fim do bloqueio dos EUA


Palestra: O bloqueio dos EUA contra Cuba, acabou? Por Conasol

Começou nesta quinta-feira (4) a 22a Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, em Pernambuco. A inauguração do evento ficou a cargo da exposição de fotografias de Roberto Chile - que capturou os momentos mais singelos na história de luta do comandante Fidel Castro - e de uma mesa amplamente representativa das entidades envolvidas na realização, com a participação da embaixadora de Cuba no Brasil, Marielena Ruiz Capote.

A exposição de Chile, que está cobrindo o evento e também deu algumas palavras, foi instalada na prefeitura de Olinda. A mesa inaugural aconteceu na mesma cidade histórica, com as falas da embaixadora Mairelena Ruiz, do prefeito Renildo Calheiros, o vice-prefeito de Recife, Luciano Siqueira, a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP) Socorro Gomes, o vice-presidente do PCdoB, Valter Sorrentino, de Edival Nunes Cajá, coordenador do Comitê Organizador da Convenção, de Teresa Leitão, do PT, do secretário de Articulação Política do Governo de Pernambuco, Achieta Patriota, do reitor da UFPE Anísio Brasileiro, de Jaime Amorim, diretor do MST (PE), de Roberto Cesar Hamilto, diretor para América Latina e Caribe do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap), o jornalista Roberto Arrais e Expedito Solaney, da CUT.

A embaixadora Marielena Ruiz destacou o firme papel da solidariedade brasileira nas vitórias logradas recentemente pelo povo cubano, como foi o caso da libertação e retorno a Cuba dos cinco herois antiterroristas, presos há mais e 15 anos nos EUA. No sábado (6), um dos cinco cubanos, Gerardom participará da convenção, momento também ansiados pelas centenas de participantes que empenharam-se firmemente na campanha pela libertação dos patriotas.


O papel transformador da integração regional - por sua vez impulsionada e também transformada pelos crescentes governos progressistas na América Latina - também foi enfatizada pela embaixadora, com o destaque para as relações estreitas entre Cuba e todos os países da região, concretizando uma solidariedade e cooperação internacional almejada pelos socialistas na busca pela melhoria comum das vidas dos povos.

A embaixadora também abordou, assim como em sua palestra nesta sexta - intitulada "O bloqueio financeiro, econômico e comercial dos Estados Unidos contra Cuba acabou?" - a importância da solidariedade internacional a Cuba na pressão contra a política agressiva e ilegal dos EUA, mantida e reforçada desde a década de 1960. "Temos que seguir firmes mesmo que se encerre o bloqueio para avançar em nossas causas pela humanidade, com unidade", sublinhou, reforçando a importância do estreitamento de relações diplomáticas de Cuba com outros países.

Fim do bloqueio e a devolução de Guantánamo

Na palestra de sexta, a embaixadora destacou que a aproximação aos EUA é um longo processo que ainda enfrenta desafios, como é o caso do próprio fim do bloqueio. Embora o presidente Barack Obama tenha formas de contornar a legislação - e ainda o faça de forma insuficiente - caberá ao Congresso, dominado pelos conservadores republicanos, definir a eliminação definitiva desta política retrógrada e imperialista. Por outro lado, ela destacou o crescente e comprovado respaldo nos EUA para o fim do bloqueio, principalmente devido à evidência cada vez mais incontornável do seu fracasso e do isolamento dos Estados Unidos na região.

Além disso, a embaixadora deu números importantes sobre o impacto do bloqueio sobre a população cubana, com efeitos dramáticos, mas que foram firmemente contornados pelo empenho no processo revolucionário, com a garantia de cada vez mais direitos essenciais, como o da educação e a saúde, reconhecidos como exemplares em todo o mundo. Em janeiro, o Departamento do Tesouro estadunidense tomou medidas que flexibilizaram o bloqueio, mas a luta por sua eliminação segue sendo travada, cada vez com mais ímpeto. Ainda há relevantes restrições às exportações dos EUA a Cuba e vice-e-versa, os investimentos estadunidenses em Cuba só foram liberados para o setor das comunicações - o que levanta suspeitas sobre novas tentativas de desestabilização com a usual guerra de informações conduzida pelos EUA - entre outras limitações estratégicas, como a proibição do turismo na ilha caribenha.

Por isso, para Socorro Gomes, presidenta do CMP e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), continua essencial o empenho dos movimentos sociais no apoio à luta dos cubanos pelo fim imediato do bloqueio e pela devolução incondicional do território de Guantánamo a Cuba. A base naval construída em território usurpado dos cubanos desde 1903 serve atualmente como um centro de torturas, de onde saíram os relatos mais horrendos sobre as práticas estadunidenses contra os mais de 100 prisioneiros detidos ali ilegalmente.

"Engana-se quem pensa que os EUA em algum momento perderam o interesse na América Latina", enfatizou Socorro, fazendo uma avaliação da atuação agressiva aos povos do mundo inteiro e, em particular, das políticas de ingerência e ameaça na América Latina, com a instalação de mais de 100 bases militares, o deslocamento da Quarta Frota para manter sua presença ofensiva nos mares do sul, entre outras políticas menos explícitas de ingerência recente. A presidenta do CMP e do Cebrapaz instou ao reforço da solidariedade aos cubanos nas campanhas pela soberania da ilha revolucionária com o fim do bloqueio - com a reparação pelos danos calculados em USD 117 bilhões - e a devoução de Guantánamo.

Solidariedade internacional

Em contraste com a política imperialista dos EUA de impor-se sobre o mundo enquanto "potência hegemônicã", Cuba destaca-se na solidariedade internacional, como pontuou a chefe da Brigada Médica Cubana no Brasil Cristina Luna em outro debate desta sexta, e como reconhecem diversos organismos internacionais. Desde sua primeira missão internacional, em 1960 para o Chile após um terremoto, em 50 anos Cuba já enviou médicos, enfermeiros, hospitais de campanha e centros cirúrgicos para 108 países - 67 apenas no ano de 2015. No Brasil atuam hoje mais de 11 mil médicos cubanos em todos os estados.

Além disso, entre 1976 e 2005 Cuba fundou escolas de medicina na África e na Ásia e, em 1999, fundou a Escola Latino-americana de Medicina, com mais de 20 mil formados de 24 países (inclusive EUA).  Sobre isso, o depoimento do brasileiro Leandro Nascimento Bertoldi, que se formou em medicina em Cuba - e viveu no país por sete anos - poderia resumir-se a: "Cuba não ensina só medicina, ensina humanidade," formando médicos "com ciência e consciência."

A Convenção encerra-se neste sábado (7), com a discussão da próxima sede da Convenção e a aprovação da Declaração de Recife, painéis sobre mídia e as redes sociais "como um novo espaço de solidariedade com Cuba" e sobre a juventude e o socialismo, seguidos de apresentações culturais.

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