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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 10, 2015

O Manifesto Comunista em cordel

marxengels
(Friedrich Engels e Karl Marx. Ilustrações de Rômulo Geraldino)
O escritor cearense Antônio Queiroz de França, anarquista de 67 anos, se dedica a transpor clássicos da literatura mundial à linguagem do brasileiríssimo cordel. Foi assim com o Manifesto Comunista (1847), de Karl Marx e Friedrich Engels. Nos versos, França não só conta do que trata o manifesto como faz um recorrido pela história do socialismo e da luta dos trabalhadores até os dias de hoje. “Escrevi desta forma para facilitar a assimilação por quem é menos politizado”, diz França. “A maior dificuldade foi ser fiel ao original, atendendo à métrica e à rima da Literatura de Cordel. Acho que consegui.”
O cordelista também transformou em cordel o conto Os Três Anciãos, de Leon Tolstói, e fez um apanhado de filosofia em Homem, o Lobo do Homem, inspirado no inglês Thomas Hobbes. “A ideia surgiu da minha preocupação com a falta de informação do povo sobre o que não é interesse do Estado divulgar”, afirma. Ótimo para aplicar em sala de aula, é o tipo de coisa que a gente lê e já escuta a viola acompanhando.
Leia trechos de O Manifesto Comunista em Versos,  a seguir.
foice

Pensadores, sociólogos
Cientistas sociais
Preocupam-se com o Homem,
Esse “rei dos animais”,
Que cultiva o egoísmo.
Da ética, não lembra mais.
Devido à desigualdade,
Estudam a economia,
E chegam à conclusão
Que a poucos privilegia.
Sem o mínimo pra ter vida,
Sofre a grande maioria.
Um grande gênio alemão,
E um outro camarada,
Prepararam uma tese,
Da humanidade estudada,
E descobriram a causa
Da fome verificada.
Foi De Karl Marx e Engels
A grande ação humanista,
Quando lançaram ao mundo
O Manifesto Comunista,
Dizendo que nosso grito
Necessita ser conquista.
Em mil e oitocentos e
Quarenta e sete emitiram.
Na Liga dos Comunistas,
Em congresso, decidiram.
O Manifesto dos pobres
Marx e Engels redigiram.
camponeses
Manifesto Comunista
Está ainda atual,
Pois a causa da miséria
É aquele antigo mal:
São riquezas concentradas
Em forma de capital.
A atual economia
Tem base na exploração:
Pra que poucos vivam bem,
Muitos passam privação,
Despojados da virtude
Que é a indignação.
Quem repudia injustiça,
Ou defende injustiçado,
A fúria da burguesia
Deixa estigmatizado.
Se for um pobre operário,
Ficará desempregado.
A crise capitalista
Assola o planeta inteiro.
Quanto mais concentra renda,
Menos o povo tem dinheiro,
Isto é, o feitiço volta
Contra o próprio feiticeiro.
Hoje no capitalismo
O patrão é indiferente,
Não quer saber se o operário
Está com fome ou doente,
Se os filhos não têm comida:
“Quem for fraco, se arrebente!”
O valor do Homem é zero,
Menos que outro animal,
São as características
Da economia atual:
O Homem só tem valor
Se possuir capital.
Lamentamos o episódio
Do continente europeu;
A guerra dos bolcheviques,
A velha ordem venceu,
Mas a União Soviética
Um bom exemplo não deu.
Como qualquer outro Estado,
Usou sua autoridade,
Mas onde ela imperar
Não haverá liberdade.
Frustrada a revolução,
Só restou a crueldade.
Preparemos desta vez
A nova revolução
Modificando o conceito
Do que é educação:
“Difundir conhecimentos,
E não domesticação.”
capacordel
LIVRO: O Manifesto Comunista em Versos
AUTOR: Antonio Queiroz de França
EDITORA: Ensinamento
CONTATO: ensinamento@ensinamentoeditora.com.br
*socialistamorena

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