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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 01, 2010

Lula o filho do Brasil no mundo

A estreia de Lula na argentina

Ariel Palacios CORRESPONDENTE BUENOS AIRES – O Estado de S.Paulo

Lula, o Filho do Brasil, dirigido por Fábio Barreto, debutou nos cinemas portenhos na quinta-feira passada, transformando a Argentina no primeiro país no exterior a exibir o filme que retrata a vida do presidente brasileiro. Foram 8 mil espectadores no fim de semana da estreia. Mas a expectativa do coprodutor do filme, o argentino Eduardo Costantini Jr., é que um total de 100 mil pessoas vejam a produção na Argentina nos próximos meses.
Otávio de Souza/Divulgação
Otávio de Souza/Divulgação – Mãe coragem. Gloria Pires no filme que revê a vida de Lula

Costantini, que confessa seu “fascínio” pelo Brasil, será o responsável pela distribuição do filme em toda a América Latina. Em entrevista ao Estado, no café do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), instituição criada por seu pai, o financista Eduardo Costantini, o produtor de 34 anos – que considera que para as próximas gerações Lula será mais conhecido do que Pelé – falou sobre seus projetos e a repercussão que o filme teve na área política.
Qual sua expectativa de público para a obra no país?
Estreamos com 20 cópias em Buenos Aires. Não é a melhor época para a estreia, pois na primavera, com o sol, as pessoas vão em peso aos parques e deixam de lado os cinemas. Além disso, com a proximidade das eleições no Brasil, houve até críticas de que havia um interesse eleitoral, o que é um absurdo, já que no país o volume de brasileiros que vota na embaixada é mínimo… Mas, de forma geral, nossa estimativa é que poderíamos chegar aos 100 mil espectadores. Uma coisa peculiar é que o filme foi até comentado nos jornais argentinos no meio de matérias sobre a economia brasileira. Nas próximas semanas, levaremos o filme às cidades de Córdoba e Rosário (respectivamente, a segunda e terceira cidade da Argentina). Esta é a primeira estreia fora do Brasil. Estamos viabilizando a distribuição no México, Venezuela, Colômbia, Chile, Paraguai, Equador e Uruguai. A ideia é estrear em todos esses países até meados de 2011. Minha expectativa de público para a Argentina é de 100 mil pessoas, o que é um volume grande. Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, atraiu um público de 150 mil espectadores na Argentina.
Nos dias de hoje, há um crescente fascínio pelo Brasil por parte dos argentinos. Antigamente, o Brasil interessava mais pelas praias e pelo carnaval.
Mas, desde o final dos anos 1990, os políticos brasileiros, tanto da oposição como do governo, são citados como exemplos a seguir pelos argentinos. E de quebra, os empresários argentinos confessam sua inveja da economia brasileira.
A que atribui essa “brasilmania” que agora tomou conta da Argentina?
Acho que o Brasil está vivendo um período de enormes transformações que vem de várias décadas. Já na época do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começou a tornar visível a estabilidade graças ao Plano Real e ao crescimento da economia. E, depois, Lula, com todo o seu carisma, continuou esse plano, dando prosseguimento ao crescimento do Brasil.
Seria possível fazer um filme sobre outra figura política da região, como Chávez ou os Kirchners?
Acho que poderiam ser feitos filmes sobre Evo Morales e Chávez. Mas a política não me interessa. O que me interessa é o Brasil, e especificamente, a figura de Lula, além do prazer de ter trabalhado com Fábio Barreto. O Brasil me interessa como um todo, mais do que fazer filmes sobre políticos da região.
Foi criticado por ter produzido um filme que alguns setores enquadraram de “direita” como o Tropa de Elite e agora é criticado por ter produzido um filme definido como de propaganda política da esquerda…
São acusações ridículas. A intenção de um filme como Tropa de Elite era a de mostrar a violência da polícia com os narcotraficantes. Não apoiamos essa violência, mas a mostramos e denunciamos. No caso do filme do Lula, alguém dizer que tem intenções políticas é um absurdo. Além disso, o trabalho está focalizado na relação de Lula com a sua mãe.
Quais as chances para o Oscar de melhor filme estrangeiro?
Acredito que ele tem altas chances de ser selecionado. Fico feliz que o Brasil tenha escolhido este filme para o Oscar. A produção é sobre Lula, logo, Hollywood deve ficar bem interessada. Ora, para que escolher outro filme para representar o Brasil?
Tem novos projeto para o país?
Estivemos conversando com o cantor e produtor americano Lenny Kravitz, que quer fazer um filme no Brasil, no qual ele seria protagonista. O diretor seria um inglês que reside em Hollywood. Estamos atrás do financiamento. Tudo deve estar definido até o fim do ano.
Nas últimas décadas foram feitos filmes sobre figuras como Gandhi e Mandela. Gandhi já morreu e Mandela está aposentado… é complicado fazer um filme sobre um líder político que ainda está na ativa?
Complicado não foi. Mas aprendi que muitas pessoas não gostaram porque acharam que era um filme proselitista por coincidir com o ano eleitoral…
Como imagem do Brasil, para as novas gerações, Lula poderia ser mais conhecido do que Pelé?
Sim, acredito que daqui para a frente, Lula deverá se tornar mais conhecido do que Pelé.
O presidente Chávez assistirá a Lula, o Filho do Brasil quando o filme estrear em Caracas?
Não sei… mas seria ideal!

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