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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, março 29, 2012

USP: Segundo denúncia, policiais militares atuam em conjunto com o PCC no campus da universidade

O jornalista Sandro Barboza, da TV Bandeirantes, divulgou trechos de um relatório de investigação da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, dentro da USP em maio de 2011, o qual afirma que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) paga “semanalmente elevados valores aos policiais militares que atuam na região”. A morte do estudante dentro do campus da USP foi o pretexto utilizado pelo reitor Grandino Rodas para a implementação permanente de efetivos da PM no campus.

Fábio Nassif, via Carta Maior

O Jornal da Band transmitiu uma matéria na noite de terça-feira, dia 27, com uma denúncia sobre o envolvimento de policiais militares e integrantes do crime organizado dentro da Universidade de São Paulo, entre outros locais. O jornalista Sandro Barboza divulgou trechos de um relatório de investigação da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, dentro da USP em maio de 2011, o qual afirma que a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) paga “semanalmente elevados valores aos policiais militares que atuam na região”.

A morte do estudante dentro do campus da USP foi o pretexto utilizado pelo reitor Grandino Rodas para a implementação permanente de efetivos da PM no campus. O relatório sobre o caso, feito pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, foi arquivado justamente porque se tratava de um esquema da PM com os criminosos, segundo a reportagem. O relatório arquivado foi a base para a investigação da equipe de reportagem da emissora.

“Mesmo tendo recebido o documento, a Secretaria de Segurança Pública designou os policiais do 16º [DP] para fazer o patrulhamento na cidade universitária”, diz o jornalista na reportagem, em referência ao Departamento Policial que faz fronteira com a USP e com a Favela de São Remo.
A reportagem é baseada neste relatório e no depoimento de um ex-investigador do DHPP (não identificado) que teria ajudado neste caso. Ele afirma que “alguns trabalhos, com certeza o governador [Geraldo Alckmin], o secretário de Segurança Pública [Antônio Ferreira Pinto], o comandante geral da PM [coronel Álvaro Batista Camilo] têm ciência”. A edição da matéria sugere que o caso da USP seria um deles.
O intervalo de tempo entre a morte do estudante e a implementação do policiamento cotidiano na USP coincide com a finalização e o arquivamento do relatório da Polícia Civil. Ou seja, a decisão do reitor João Grandino Rodas foi simultânea à conclusão do relatório sobre a morte do estudante.
Criminalização
O convênio entre a Secretaria de Segurança Pública e a USP é de setembro de 2011, assinado por Ferreira Pinto e Rodas, mas apenas no dia 27 de outubro o movimento estudantil expressou com mais veemência sua contrariedade ao convênio, depois de a Polícia Militar deter três estudantes por supostamente portarem uma pequena quantidade de maconha. No mesmo dia, houve uma ocupação da sede da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), e policiais usaram bombas, balas de borracha e cassetetes contra estudantes.
No dia 11 de novembro, a PM entrou com um efetivo de 400 policiais e prendeu 73 estudantes que ocupavam o prédio da reitoria. Em seguida, o movimento estudantil ganhou força, realizou assembleias massivas e decretou greve. A Polícia Militar permaneceu atuando no local e novos conflitos já ocorreram.
As novas denúncias podem inverter o discurso que o reitor e o governo do Estado de SP conseguiram impor à sociedade, com ajuda de alguns meios de comunicação, de que os estudantes – usuários ou não de drogas – e o movimento estudantil são os criminosos contra os quais a policia deve estar em luta permanente. Se as informações da investigação estiverem corretas, poderão comprovar que os criminosos são os policiais militares do reitor Rodas, do Secretário Ferreira Pinto e do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
A Carta Maior publicou matéria em novembro de 2011 sobre a aposta da Secretaria de Segurança Pública em militares linha dura e a interferência da secretaria nas investigações do DHPP nos casos de mortes cometidas por policiais, registradas como “resistência seguida de morte”. Segundo os dados da própria secretaria, apenas 30% das investigações dessas ocorrências explicaram o ocorrido.
*Limpinhoecheiroso

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