Metrô tucano põe população em risco
Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:
O Metrô de São Paulo foi, durante anos, modelo de transporte urbano na América do Sul. Tenho um tio que desempenhou um papel de alguma importância na concepção e implementação da primeira linha, inaugurada em 1972, e, embora eu fosse muito pequeno para lembrar, sei que ele viajara anos antes ao México para estudar o metrô da capital daquele país, que teria sido a principal referência para seu similar paulistano.
Piora sensível
O Metrô de São Paulo foi, durante anos, modelo de transporte urbano na América do Sul. Tenho um tio que desempenhou um papel de alguma importância na concepção e implementação da primeira linha, inaugurada em 1972, e, embora eu fosse muito pequeno para lembrar, sei que ele viajara anos antes ao México para estudar o metrô da capital daquele país, que teria sido a principal referência para seu similar paulistano.
Piora sensível
No decorrer de pelo menos duas décadas, “pegar o metrô” em São Paulo era
não apenas usufruir de um meio de transporte rápido e eficiente, mas
vivenciar uma experiência urbana que tinha até um certo charme, advindo
do ar futurista do trem e das estações, da atmosfera clean, da sensação
de frescor proporcionada pelo sistema de ventilação, da civilidade de
quase sempre viajar sentado, lendo um livro ou vendo as moças, sem
qualquer preocupação com acidentes ou assaltos.
O tom saudosista do parágrafo acima não é gratuito. O caráter idílico-modernista das viagens de metrô pertence a um passado distante, e há tempos que fazer uso de tal meio de transporte corresponde, na mais das vezes, a vivenciar uma experiência que oscila do penoso ao insuportável.
Denúncias e mortes
O tom saudosista do parágrafo acima não é gratuito. O caráter idílico-modernista das viagens de metrô pertence a um passado distante, e há tempos que fazer uso de tal meio de transporte corresponde, na mais das vezes, a vivenciar uma experiência que oscila do penoso ao insuportável.
Denúncias e mortes
A passagem de um passado modelar para um presente infernal é reflexo
direto do descaso com que os governos peessedebistas – no poder há mais
de 17 anos – vêm tratando os serviços essenciais à população, seja no
transporte, na saúde ou na educação.
No caso do Metrô, a situação se agrava a partir da primeira eleição de Geraldo Alkmin, que para governador, seguida da temerária gestão Serra. No período, iniciam uma queda de braço com o sindicato e com a Justiça por quererem impor um modelo de privatização do tipo UPP em que o Estado não só garante um faturamento mínimo (e o cobre, com dinheiro do contribuinte, se não alcançado), como ainda investe cerca de 73% do custo das obras, mais melhorias eventuais.
O resultado não demora a aparecer: em meio a denúncias acerca da qualidade do material empregado na construção e das condições de insegurança dos trabalhadores, em janeiro de 2007 ocorre um desabamento de grandes proporções em um dos canteiros de obra da Via Amarela, na Marginal Pinheiros, gerando uma cratera enorme (foto), no maior acidente em obras de transporte da história da cidade, que matou sete pessoas, interditou 55 casas, sete das quais tiveram de ser demolidas. Blindado pela mídia, como de costume, a reação de Serra foi se esconder e fingir que não era com ele. O caso dorme na letárgica Justiça paulista.
Lata de sardinha
No caso do Metrô, a situação se agrava a partir da primeira eleição de Geraldo Alkmin, que para governador, seguida da temerária gestão Serra. No período, iniciam uma queda de braço com o sindicato e com a Justiça por quererem impor um modelo de privatização do tipo UPP em que o Estado não só garante um faturamento mínimo (e o cobre, com dinheiro do contribuinte, se não alcançado), como ainda investe cerca de 73% do custo das obras, mais melhorias eventuais.
O resultado não demora a aparecer: em meio a denúncias acerca da qualidade do material empregado na construção e das condições de insegurança dos trabalhadores, em janeiro de 2007 ocorre um desabamento de grandes proporções em um dos canteiros de obra da Via Amarela, na Marginal Pinheiros, gerando uma cratera enorme (foto), no maior acidente em obras de transporte da história da cidade, que matou sete pessoas, interditou 55 casas, sete das quais tiveram de ser demolidas. Blindado pela mídia, como de costume, a reação de Serra foi se esconder e fingir que não era com ele. O caso dorme na letárgica Justiça paulista.
Lata de sardinha
A partir daí, o sucateamento do metrô é cada dia mais visível, até
chegar ao caos de nosso dias: há uma redução drástica de bilheterias
abertas, provocando enormes filas; todas as linhas pioram,
particularmente a linha Vermelha (Leste-Oeste), que atinge um ponto de
saturação, fazendo com que viajar em seus trens entre as eis e as nove
da manhã e entre as cinco da tarde e oito da noite, em vagões muito mais
lotados do que o humanamente tolerável, signifique enfrentar um
desconforto extremo, correndo risco de asfixia, torções e fraturas.
Em épocas eleitorais, o governo inaugura, com muito marketing e carnaval da mídia amiga, um par de estações, enquanto achata os salários dos trabalhadores (do que foi, um dia, um setor trabalhista cobiçado pelo funcionalismo estadual). Fora isso, a única coisa que tem avançado no metrô paulistano é o preço da passagem, que há anos não conta mais com os bilhetes múltiplos que aliviava o bolso dos usuários. Na outra ponta, o sindicato vem há tempos fazendo alertas a repeito de sobrecarga de trabalho, pessoal insuficiente e riscos iminentes.
Crônica de uma tragédia anunciada
Em épocas eleitorais, o governo inaugura, com muito marketing e carnaval da mídia amiga, um par de estações, enquanto achata os salários dos trabalhadores (do que foi, um dia, um setor trabalhista cobiçado pelo funcionalismo estadual). Fora isso, a única coisa que tem avançado no metrô paulistano é o preço da passagem, que há anos não conta mais com os bilhetes múltiplos que aliviava o bolso dos usuários. Na outra ponta, o sindicato vem há tempos fazendo alertas a repeito de sobrecarga de trabalho, pessoal insuficiente e riscos iminentes.
Crônica de uma tragédia anunciada
O acidente de hoje, que feriu 107 pessoas, era, portanto, uma
possibilidade no ar, perceptível por qualquer pessoa com senso de
atenção, e prenunciado repetidas vezes por sindicalistas, experts e por
aqueles minimamente familiarizados com a derrocada do metrô. E é
importante ter-se claro que a batida entre os trens só não resultou em
uma tragédia de proporções maiores graças à destreza de um dos
condutores, que colocou o sistema no manual a tempo de frear (quando o
sistema automático dera um comando para o trem acelerar em direção a
outro à sua frente).
Porém, que sirva como um alerta: se nada de realmente efetivo, para além das maquiagens, panaceias e truques eleitorais for feito, se o porquê de não ter sido verificada a denúncia sobre falhas que o diretor do sindicato alega ter recebido, o risco de tragédia continua, infelizmente, iminente.
Porém, que sirva como um alerta: se nada de realmente efetivo, para além das maquiagens, panaceias e truques eleitorais for feito, se o porquê de não ter sido verificada a denúncia sobre falhas que o diretor do sindicato alega ter recebido, o risco de tragédia continua, infelizmente, iminente.
*Miro