Laerte Braga – Rio+20: um convescote para os grandes
Rio+20: um convescote para os grandes
Laerte Braga(*), especial para sua coluna no QTMD?
A
principal reclamação de alguns funcionários de governos participantes
da Conferência é que os preços no Rio de Janeiro estão insuportáveis e
as diárias para debater idéias que salvem o mundo da destruição
capitalista – sem fugir do capitalismo – são insuficientes. Não estão
permitindo visitas “pedagógicas” para conhecimento da “realidade” às
quadras das escolas de samba e coisas que tais.
Vai
ser interessante se os encarregados da agenda de Hilary Clinton
resolverem colocar a senhora secretária de Estado ao lado de um
favelado.
Muitos anos atrás uma polêmica
alimentou a revista O CRUZEIRO (tiragem de quase cinco milhões de
exemplares semanais e em três línguas). O jornal norte-americano THE NEW
YORK TIMES publicou o retrato (montagem como se provou depois) de um
menino dormindo num catre numa favela e uma barata passeando sobre seu
corpo.
Na semana seguinte O CRUZEIRO mostrou uma foto semelhante em New York e não era montagem.
Não
sei como os norte-americanos enxergam o Brasil neste momento. Água por
exemplo recebem instruções para só beber mineral. Na década de 50
viajavam com soro antiofídico. A prevenção contra a hipótese de algum
alto dignatário de Wall Street vir a ser atacado por uma cascavel em
plena Avenida Atlântica.
As visitas que no duro
mesmo mais encantaram o Brasil foram as de Orson Welles e Ava Gardner.
Welles saiu com Grande Otelo filmando na Amazônia e no Pantanal, isso
até bem antes, deu um show de como beber no Hotel Glória e Ava Gardner,
sua mulher, no mínimo atirou objetos pesados pela janela de seu quarto
no hotel em meio a uma bebedeira que rendeu um mês de manchetes,
opiniões, análises, etc.
Eu sempre que me lembro
desse episódio, me lembro também da frase de Rita Hayworth ao anunciar o
seu divórcio de Orson Welles – “estou cansada de ser casada com um
gênio e acordar ouvindo genialidades”.
Em tese a
RIO + 20 é uma conferência “sobre desenvolvimento sustentável, vamos
tentar esclarecer sobre os objetivos e expectativas da RIO + 20, tendo
em vista que as negociações para o documento final da Conferência já
estão sendo realizadas”. A declaração é de Brice Lalonde, Coordenador
Executivo da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável.
Farsa.
Os
principais países – potências – já anunciaram que não assumirão
compromisso algum. Vão ouvir, pensar, propor, negar, tocar o barco
capitalista no esquema predador de sempre, o capitalismo é predador por
natureza.
Não há possibilidade de desenvolvimento sustentável no capitalismo.
O
outro lado da moeda será a presença de governantes de países
sistematicamente marginalizados pelos grandes e a perspectiva de espaços
para debates e protestos contra a forma como o mundo vem sendo
destruído.
Dentre as presenças significativas o
presidente do Irã Ahamoud Ahmadinejad. E as previsíveis distorções da
mídia de mercado sobre o quer que fale.
Quando
era presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em estrita
obediência ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, tratou
de liquidar com o sistema financeiro do País, abrindo os portos a bancos
estrangeiros. Só não conseguiu derrubar os grandes privados – dois
apenas – e os oficiais, que na hora agá faltou peito para privatizar.
O PROER custou perto de 20 bilhões de reais para sanear bancos brasileiros e entregá-los a bancos estrangeiros.
Hoje,
esses bancos, caso do SANTANDER, estão afundando e vão custar aos
cofres do Banco Central Europeu, do FMI, cem bilhões de euros, perto de
230 milhões de reais.
Um quarto dos espanhóis
está sem emprego, as perspectivas são as piores possíveis, 22% dos
gregos não sabem o que é trabalho e segundo os “especialistas”, a crise
ronda Portugal, Itália, Irlanda, Grã Bretanha, França e pode chegar a
Alemanha.
O desenvolvimento sustentável vai se
manter na transformação das guerras no grande negócio do capitalismo.
Hoje privatizadas e dessa forma escancaradas.
O mundo se estrepa nesse jeito de sustentar qualquer coisa que não sejam os bancos e as grandes corporações.
A RIO + 20 vai abrir perspectivas reais no paralelo, digamos assim. Nos protestos populares, na rejeição ao capitalismo.
Duvido que o discurso de Hilary Clinton se preste a alguma coisa que não às costumeiras ameaças ao Irã e agora à Síria.
O
complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A entende por
sustentável a devastação de países como o Iraque, a Líbia, o
Afeganistão, o aumento dos arsenais de armas químicas e biológicas
(milhares de veteranos de guerra sofrem de doenças causadas pelo uso de
balas de urânio empobrecido), as ogivas nucleares e a intocabilidade do
sistema financeiro internacional.
As lições de
resistência do povo grego às medidas de austeridade, como chamam a
barbárie, devem servir de exemplo para o repúdio a esses propósitos.
No
mais Hilary deve falar da “ameaça” iraniana, da “ameaça síria” e da
disposição de seu “país” (não existe mais é um conglomerado de bancos e
empresas) em proteger os povos “oprimidos” no mundo inteiro.
Sobre Guantánamo nada.
Vai
ser um misto de divertido e ridículo ver de volta eternos papagaios de
pirata, como Sérgio Cabral e Eduardo Paes no canto das fotos, ou
apertando mãos de governantes estrangeiros, banqueiros, etc, etc.
E declarações pomposas do tipo “estamos salvando o mundo”.
O importante na RIO + 20 vai ser a voz das ruas, o repúdio a hipocrisia capitalista.
Fora disso é um convescote dos grandes.
*Laerte Braga é jornalista e colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Empodera Povo“.
*GilsonSampaio