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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 15, 2012

"Reforma Agrária é o caminho para preservar a Amazônia"

 

Durante mesa redonda organizada no Riocentro pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Celso Lacerda, rebate teses do agronegócio e sustenta que a forma de salvar a Amazônia é através da Reforma Agrária e do estímulo estatal à agricultura familiar. “O nosso grande desafio é não tratar a reforma agrária como uma politica estanque, mas sim inserida numa maior amplitude, e compreender sua importância e impacto na Amazônia”.
Darío Pignotti
Rio de Janeiro - A ofensiva do agronegócio em defesa do Código Florestal (ou “deflorestal”, talvez seja mais apropriado dizer) foi a mensagem de boas vindas com que o latifúndio, através de 600 emendas ao projeto da presidenta Dilma, recebeu a Rio+20. Foi um sinal. Ou, para dizer com todas as letras, uma ameaça. Dessa forma, o agronegócio avisou o mundo, que desde quarta-feira tem seus olhos postos no Brasil, especialmente em suas políticas públicas para a Amazônia, que “negócios são negócios” e que estão dispostos a continuar depredando a maior floresta do planeta.
O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lacerda, rebate a tese dos fazendeiros verde-amarelos e argumenta que a forma de salvar a Amazônia é através da Reforma Agrária e do estímulo estatal à agricultura familiar.
“A agricultura em grande escala cada vez precisa de mais terra para plantar e, consequentemente, está usando cada vez mais insumos. Em função disso, é uma agricultura poluente. Esse é um modelo de agricultura que foi fundamental para a revolução verde, décadas atrás. No nosso caso, estamos numa política de reforma agrária que é contrária a esse modelo e à política de uma economia de escala que prioriza o uso de insumos e que leva à ampliação da superfície da terra que é explorada”, disse Carlos Lacerda, presidente do Incra, em conversa com a Carta Maior.
“Isso tudo leva à concentração, leva à poluição do meio ambiente. Nós estamos na contramão disso. Defendemos a agricultura familiar porque os pequenos agricultores familiares assentados na Reforma Agrária não agridem a Amazônia”, acrescenta.
Lacerda participou de uma mesa redonda organizada nesta quinta-feira (14) no Riocentro, paralela à Cúpula Rio+20, organizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
“O nosso grande desafio é não tratar a reforma agrária como uma politica estanque, mas sim inserida numa maior amplitude, e compreender sua importância e impacto na Amazônia”, afirma Lacerda.
O presidente do Incra falou para um público composto, em bom número, por ambientalistas e jornalistas estrangeiros, interessados em conhecer a posição brasileira sobre o financiamento oferecido às comunidades que não agridem o ecossistema amazônico. Indagado sobre se o financiamento estrangeiro pode ameaçar a autonomia do Estado brasileiro, ele respondeu:
“Acredito que não, porque o governo com o programa Bolsa Verde já é um modelo de remuneração pela manutenção (da floresta) para populações extremamente pobres. No campo esses pequenos agricultores familiares que ainda tem floresta em pé recebem financiamento do Estado brasileiro para mantê-la assim”.
Lacerda e os representantes do IPAM concordaram que os assentamentos devem ser ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis para os pequenos agricultores. Um representante do IPAM assinalou que, anos atrás, o Incra era “a ovelha negra do desmatamento” porque não tomava cuidado com o meio ambiente mas “felizmente essa postura mudou nos últimos anos, agora há um novo modelo de reforma agrária, um novo modelo de assentamentos, que parte da premissa de viver, produzir e conservar”. “Hoje a reforma agrária segue novos conceitos e isso permite trabalhar conjuntamente com o Incra. O importante é juntar a modernização da agricultura familiar, o aumento dos assentamentos e a defesa da Amazônia”.
A mesa redonda organizada pelo IPAM ocorreu na manhã desta quinta, enquanto em outro pavilhão do Riocentro diplomatas e funcionários da ONU continuavam suas infrutíferas negociações para chegar a um documento consensual a ser apresentado na próxima semana aos presidentes que encabeçarão a última parte da cúpula.
Até o momento, a informação oficial é que os governantes das duas maiores potências capitalistas ocidentais não participarão da cúpula: Barack Obama e Ângela Merkel, duas ausências de peso por sua importância política e diplomática, o que colocará o Norte em desvantagem em relação ao Sul, que contará com a maioria de seus governantes. O presidente russo Vladimir Putin também não deve participar do encontro no Rio de Janeiro.
Indagado sobre se acha que o documento final da Rio+20 pode ser um fracasso, Lacerda disse:
“Há avanços, mas todo mundo sabe que o documento final é uma coisa imprevisível. Não tenho como dizer o que vai acontecer. Creio que a situação de crise global influenciará a conclusão da Rio+20. Vai depender a vontade política dos chefes de Estado. É positivo que os países emergentes atuem de forma mais coordenada e constituam uma eventual frente unida na Cúpula”.
Tradução: Katarina Peixoto
*GilsonSampaio

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