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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 24, 2012

PARAGUAI

 

Laerte Braga
No dia anterior ao golpe branco contra o presidente Fernando Lugo – Paraguai – um outro presidente, o do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, em entrevista coletiva que incluiu a mídia alternativa e virtual e num hotel no Rio de Janeiro, diagnosticou com precisão o que ocorre hoje no mundo. A ordem política, econômica e militar imposta pelos EUA, ao sabor das conveniências de Israel e seus aliados e que se estende tanto aos países do Oriente Médio, como aos da África, da Ásia e América Latina, sempre contra a liberdade, os seres humanos e com claro caráter colonizador.
Em 2008 o governo de Álvaro Uribe, a partir de orientação e dados do governo de Washington, determinou o bombardeio de um acampamento no território do Equador, onde estava o chanceler das FARCs-EP (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – Exército Popular), Raul Reyes. Havia participado de um encontro de forças populares naquele país e se preparava para retornar aos quartéis da guerrilha. Foram assassinados, além de Reyes, dezenas de estudantes de vários países latino-americanos que lá estavam e participaram também do encontro.
A cumplicidade dos militares equatorianos ficou evidente. Se manifestou na passividade com que assistiram ao bombardeio feito pela força aérea colombiana. Evidenciou o caráter da maior parte das forças armadas dos países da América Latina. Não têm compromissos com seus países, mas são subordinadas aos norte-americanos. A esmagadora maioria dos militares brasileiros não é diferente.
Em 2009 o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto num golpe “constitucional”, dado pela madrugada e com cumplicidade do congresso e da corte suprema de seu país, organizado pelo senador John McCain, republicano. Foi o adversário de Obama nas eleições presidenciais de 2008.
Em todos esses momentos, o golpe contra Lugo, o bombardeio colombiano e o golpe contra Zelaya, o governo dos EUA, de imediato, reconheceu e deu “legitimidade” a essas ações.
Em 2002, semelhante tentativa foi feita na Venezuela contra o presidente Hugo Chávez. Preso numa quinta-feira retornou ao poder no domingo diante de milhões de venezuelanos que, nas ruas de Caracas e de todo o país, exigiam a sua volta. Um referendo popular, em agosto daquele ano, legitimou por maioria absoluta o governo de Chávez e Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA e enviado da ONU como observador para o referendo foi obrigado a reconhecer a legitimidade do presidente.
No dia da prisão de Chávez a tevê norte-americana (e a GLOBO aqui, Bonner por pouco não teve um orgasmo no ar) anunciaram que “o povo exigiu a saída de Chávez.
A Colômbia hoje é presidida por Manoel Santos que foi ministro da Defesa de Uribe, é ligado ao narcotráfico (como Uribe). A denúncia foi feita pelo Departamento anti-drogas dos EUA. As forças armadas desse país são inteiramente subordinadas aos norte-americanos e seus “conselheiros”, na prática, a Colômbia é uma colônia, faz parte de um plano de controle da América do Sul denominado Grande Colômbia. Já integra o antigo projeto SIVAM – SISTEMA DE MONITORAMENTO DA AMAZÔNIA -, antes restrito ao Brasil e aos EUA, controlado por empresas privadas e forças militares brasileiras e norte-americanas. O nível de subordinação aos interesses norte-americanos é total. O alvo é a Amazônia em toda a sua extensão.
As vitórias eleitorais de presidentes considerados hostis pelos EUA deflagraram um processo de retomada da América Latina como quintal daquele país. Se já detinham o controle do México e do Canadá (chamam o Canadá de “México melhorado”) essa ordem neoliberal, globalizada por ações políticas, econômicas e militares, se faz presente em quase todo o mundo.
Os pretextos são sempre os mesmos desde tempos passados. Democracia, direitos humanos, etc, etc.
Com o desaparecimento da União Soviética os norte-americanos escancararam seus objetivos. A paz anunciada não veio, pelo contrário, a escalada militar ganhou dimensões de barbárie, a guerra foi privatizada por Bush, a violência é a palavra de ordem dos interesses nazi/sionistas comandados por Israel e com os EUA desintegrados e transformados numa grande corporação terrorista comandada por bancos e grandes empresas, principalmente a indústria armamentista e a do petróleo, vivemos o terror de Estado, o terror capitalista.
A democracia e os direitos humanos foram para o brejo em situações como as guerras do Iraque (destruído), do Afeganistão, da Líbia (mais de cinco mil ações de bombardeios aéreos e um país esfacelado), países como o Paquistão se transformando numa espécie de geléia de interesses de generais com instinto primitivo de barbárie e as chamadas potências emergentes, caso do Brasil, em políticas de equilibrismo e alianças complicadas no padrão dá e toma, ou uma vela a Deus e outra ao diabo. O precário equilíbrio, por exemplo, de democracias montadas sob a tutela e o temor de ações golpistas de militares comprometidos com os EUA, como aconteceu em 1964.
Essa boçalidade se materializa no uso de armas químicas no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, em todos os cantos onde se faz necessário (muitos veteranos de guerra padecem de doenças provocadas pelo uso de tais armas), nas pressões econômicas, no campo de concentração de Guantánamo, no massacre constante de palestinos, na tentativa de destruir a revolução islâmica no Irã com denúncias falsas como sempre fazem e fizeram, principalmente, no controle das nações da União Européia, outro grande conglomerado de bancos e corporações.
Para países como Paraguai, o Brasil e outros, se associam a primatas conhecidos como latifundiários. Os donos da terra, hoje no chamado agronegócio.
O mundo privatizado.
Aqui, esse caráter ganhou dimensões plenas no governo do funcionário do Departamento de Estado e da Fundação Ford Fernando Henrique Cardoso. Uma espécie de “sargento Anselmo”, o célebre cabo da Marinha que infiltrado dedurou todos os companheiros. FHC chegou a sargento. Fulgêncio Batista também era sargento (felizmente muitos sargentos lutam a luta popular dentro e fora das forças armadas).
O golpe contra Fernando Lugo está dentro desse contexto. Uma das acusações contra o presidente foi a de “humilhar as forças armadas”. Lugo ficou ao lado de trabalhadores sem terra vítimas de militares e pistoleiros do latifúndio num conflito agrário, no qual latifundiários brasileiros estão envolvidos (são os donos do Paraguai), junto com empresas como a MONSANTO e a DOW CHEMICAL – o agrotóxico nosso de cada dia.
É impossível humilhar o que não existe. Forças armadas paraguaias? Onde? Bando de generais controlados à distância pelos senhores do mundo, abertos a qualquer grande negócio no mundo do contrabando, do tráfico de drogas, de toda a sorte de estupidez e crime possíveis em função de interesses, aí, pessoais.
Uma elite medieval. Não difere muito do latifúndio brasileiro. Uns grunhem outros nem isso.
O Plano Grande Colômbia, especificamente voltado para a América do Sul tem objetivos imediatos. Derrubar os governos da Venezuela, do Equador e da Bolívia, o controle das reservas de petróleo e gás desses países, isolar o Brasil e impedir que o País consiga avanços efetivos e consolide o processo democrático (mantê-lo sempre na corda esticada, no fio da navalha). Volta do curso tucano das “coisas”, mesmo com o caráter de “capitalismo a brasileira” inventado por Lula e o domínio de tecnologias essenciais longe do alcance dos brasileiros.
Em toda a América Latina, por fim à revolução cubana, derrubar Daniel Ortega na Nicarágua e impedir que governos considerados hostis aos interesses da corporação terrorista, ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A sejam eleitos.
A fórmula encontrada para derrubar Zelaya se manifestou agora no Paraguai.
E ainda, no Brasil, temos um chanceler de sobrenome Patriota, que vem a ser um dos mais terríveis mísseis norte-americanos. Não é o caso do chanceler, é apenas um funcionário obediente da corporação terrorista num governo de puro equilibrismo. E nem deve saber direito o que acontece, ou o que é, tamanha sua dimensão anã como diplomata.
Em relação ao golpe paraguaio, só foi possível com a debilidade de nossa política externa e a falta de informações precisas e corretas do governo. Se a proposta da presidente Dilma de expulsar o país do MERCOSUL e adotar sanções severas for real, ótimo. Caso contrário, breve circulando pelas ruas da cidade de Eduardo Paes os novos modelos de diligências da Wells Fargo, com espetáculos de clones/drones de Búfalo Bil em todas as paradas.
Como afirma com correção a professora Nezah Cerveira, é a “Operação Condor IV” em curso.
Há uma guerra total em curso afirma o presidente do Equador Rafael Corrêa. A resistência não será nos gabinetes fechados, via de regra cúmplices diretos ou por omissão dessa selvageria. Será nas ruas, na organização popular.
Ou, todos aprendendo inglês e treinando para carregar malas dos colonizadores. O velho “bwana” dos tempos de Tarzã. 
*GilsonSampaio

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