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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 28, 2012

Já que a prefeitura quer proibir a distribuição de sopa para os moradores de rua da capital

Em discussão

Já que a prefeitura quer proibir a distribuição de sopa para os moradores de rua da capital, vamos promover um sopaço na frente da casa dele para protestar contra essa ação (mais uma) higienista. Para entender: http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/prefeitura-quer-proibir-sopao-gratis-no-centro/

Juntamos tudo num único evento no dia 6. A galera do Sopão (https://www.facebook.com/events/252084861569150/) está conosco também!


Prefeitura de São Paulo recua e diz não proibir ‘sopão’

Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira 28, a Prefeitura de São Paulo disse que “não cogita proibir a distribuição de alimentos por ONGs na região central da cidade”. Segundo a assessoria, o que existe é a proposta de que as entidades ocupem espaços públicos destinados para o atendimento às pessoas em situação de rua, como as tendas instaladas pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. A Prefeitura entende, de acordo com o texto, que a união das ações das ONGs com as dos agentes sociais têm potencial para tornar ainda mais eficazes as políticas de reinserção social.
A nota foi divulgada após fortes críticas de entidades ligadas aos moradores de rua e mobilizações nas redes sociais. A intenção da Secretaria Municipal de Segurança Urbana de proibir a distribuição do “sopão” nas vias públicas do centro da cidade foi noticiada na noite da quarta-feira 27, pelo Jornal da Tarde, e menos de 24 horas após a divulgação da matéria quase 400 pessoas já haviam confirmado presença no evento Sopão da #Gentediferenciada, organizado pelo Facebook.
Kassab também negou a proibição e colocou a culpa pela polêmica em seu secretário. “Discordo da expressão dele (proibição). E ele mesmo já corrigiu. O que existe é um permanente processo de convencimento e abordagem para que as pessoas se alimentem em lugar certo. É um direito das pessoas ficar nas ruas”, disse.
Em entrevista à CartaCapital, o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, disse que a medida proibitiva fortalece o “higienismo à cacetete” implementado no centro da cidade. “Essa é mais uma tentativa desesperada da Prefeitura tentar recuperar o controle na região do centro”, disse padre Lancellotti, em alusão à Cracolândia. “A Praça da Sé já está sendo chamada de nova Cracolândia. Como eles não conseguem controlar esse fenômeno, a prefeitura vai pela via mais rápida: o higienismo e a violência”, completou. Segundo o padre Lancellotti, a Prefeitura quer resolver um problema social por meio da força policial.
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A proibição da distribuição do “sopão” foi anunciada pelo secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, em uma controversa reunião entre representantes dos Conselhos Comunitários de Segurança (Conseg) e da Associação Viva o Centro, na semana passada. Nela, Ortega declarou que as instituições que insistirem em continuar oferecendo comida na via pública para a população de rua serão “enquadradas administrativamente e criminalmente”. No entanto, a assessoria de imprensa da Prefeitura, em nota, nega o carácter proibitivo da medida, porém, nada diz a respeito da intensificação das fiscalizações sanitárias aos carros das instituições que atendem a população de rua.
‘Quero a rua limpa’
Procurada pela CartaCapital, a Associação Viva o Centro reforçou o apoio à decisão da Prefeitura. “O problema não é dar comida, mas, sim, a sujeira que fica depois”, disse Anderson Rocha, coordenador do projeto Aliança, da Associação Viva o Centro. “Eu pago imposto e quero minha rua limpa”, completa.
Já para José  Zagatto, superintendente da Associação, a medida significa uma oportunidade da distribuição acontecer de maneira mais civilizada, nas tendas da Prefeitura. “Do ponto de vista social, a distribuição na rua prejudica a cidade. Você distribui a comida, mas a pessoa não tem condições de viver na rua e acaba ‘poluindo’ a rua depois de comer”, conta. “Comida não deve ser distribuída na rua. Rua não é lugar de moradia, é algo indigno”, defende o superintendente da Associação.
Em contrapartida, o padre Lancellotti defende que as tendas não tem estrutura para receber a esta demanda. “A tenda do Parque Dom Pedro não tem banheiros. Lá, 300 pessoas são atendidas por dia e todas são obrigadas a usar banheiros químicos, que deveriam ser algo emergencial”, exemplifica.
Para ele, a Prefeitura relaciona equivocadamente a distribuição do “sopão” com a permanência de pessoas na rua. “O povo não está na rua por causa da comida”, afirma. “Existem pessoas morando na rua porque a Prefeitura não tem uma política habitacional satisfatória e entende que os albergues são a única resposta”,  argumenta Lancellotti. Segundo ele, é preciso investir em acompanhamento psicológico e em outras políticas de recuperação como auxílio aluguel e moradia emergencial. “Muitos moradores constituem família ou são dependentes químicos, por isso, não vão se abrigar em albergues. Lá, os casais não podem dormir juntos e nem beber ou fumar, ao mesmo tempo, também não encontram tratamento para se livrar da dependência”, explica.
De acordo com o último Censo dos Moradores de Rua, São Paulo possui hoje cerca de 14 mil moradores de ruas, sendo que 47% desta população prefere habitar as ruas do que os albergues.

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