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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 25, 2012

Rede de solidariedade ecumênica se manifesta diante da atitude do Vaticano em reconhecer novo governo
 
Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital
Diante do reconhecimento do Vaticano sobre o novo governo paraguaio, uma rede de solidariedade ecumênica se formou e está repudiando o golpe de Estado institucional que destituiu, na última sexta-feira (22), o então presidente Fernando Lugo de seu cargo. Hoje, a representação oficial da igreja católica consagrou Federico Franco como atual mandatário.
Na quinta-feira, enquanto deputados e senadores da oposição orquestravam o julgamento político de Lugo, os Bispos católicos já se manifestavam pela destituição do presidente, eleito legitimamente pelo povo em 2008.
Diante deste quadro, representantes de diversas igrejas da América Latina lançaram um comunicado de adesão firmando apoio incondicional a Fernando Lugo e deplorando o processo demagogo e irresponsável do qual foi vítima.
"América Latina vive uma mudança de época: o Reino de Deus traz dores de parto, pois a esperança não deixa de nascer a partir dos humildes e se constroem governos populares e democráticos – com avanços e contradições – que fazem eco das demandas de nossos povos, povos historicamente empobrecidos pelas oligarquias locais e pelos setores conservadores da política latino-americana que respondem aos interesses do imperialismo norte-americano”, afirma o documento.
A posição tomada pela Igreja Católica no Paraguai em momento extremamente delicado que pesa sobre a democracia do país gerou várias críticas por parte de setores mais comprometidos e progressistas da Igreja. No dia seguinte ao resultado do julgamento político que declarou Lugo culpado, sobretudo pela morte de 17 pessoas entre indígenas e policiais durante um conflito no sudeste do país, Federico Franco recebeu a comunhão em cerimônia na Catedral Metropolitana de Assunção e, com isso, a benção do Vaticano.
"Devemos ter bem presente, hoje, com mais ânimo que nuca, que só a mobilização e a organização popular sustentam esses governos que querem impulsionar um projeto libertador em favor das maiorias populares. Para que o diabo não ganhe vantagem alguma sobre nós, não se pode ignorar as maquinações dos inimigos dos povos que hoje celebram esta destituição”, afirma o texto.
Em texto à parte, o teólogo e biblista chileno, Pablo Richard, também se manifestou sobre a atitude da Igreja Católica no Paraguai. Ele afirmou que os/ católicos/as da América Latina estão se sentindo literalmente golpeados com a rápida legitimação dada pelo Núncio Apostólico ao golpe de estado. Lembrou que da mesma forma, o golpe de estado em Honduras [junho de 2009] obteve a benção com a mesma rapidez.
"Nós, católicos, nos sentimentos deslegitimados e ofendidos pela atitude dos núncios apostólicos da Igreja Católica. Surge a pergunta se estes senhores são representantes do Estado Vaticano ou do Papa, como chefe de toda a Igreja, representante da tradição apostólica. Não se pode enganar e brincar com a fé e a identidade católica dos Povos de Deus, especialmente na América Latina e Caribe. Não nos sentimos representados por um diplomático da Hierarquia e temos o direito de rechaçar as oposições políticas do Estado do Vaticano e, inclusive, das oposições antiéticas e antidemocráticas da hierarquia”, afirmou o teólogo.
O comunicado é assinado por diversas representações de igreja de países como Brasil, Argentina, El Salvador, Uruguai e Chile.
As adesões podem ser enviadas para o email: comunidaddimensiondefe@yahoo.com.ar
*Adital

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