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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 15, 2012

Laerte Braga – Rio+20: um convescote para os grandes

 do QTMD?
Não há possibilidade de desenvolvimento sustentável no capitalismo.
Rio+20: um convescote para os grandes
Laerte Braga(*), especial para sua coluna no QTMD?
A principal reclamação de alguns funcionários de governos participantes da Conferência é que os preços no Rio de Janeiro estão insuportáveis e as diárias para debater idéias que salvem o mundo da destruição capitalista – sem fugir do capitalismo – são insuficientes. Não estão permitindo visitas “pedagógicas” para conhecimento da “realidade” às quadras das escolas de samba e coisas que tais.
Vai ser interessante se os encarregados da agenda de Hilary Clinton resolverem colocar a senhora secretária de Estado ao lado de um favelado.
Muitos anos atrás uma polêmica alimentou a revista O CRUZEIRO (tiragem de quase cinco milhões de exemplares semanais e em três línguas). O jornal norte-americano THE NEW YORK TIMES publicou o retrato (montagem como se provou depois) de um menino dormindo num catre numa favela e uma barata passeando sobre seu corpo.
Na semana seguinte O CRUZEIRO mostrou uma foto semelhante em New York e não era montagem.
Não sei como os norte-americanos enxergam o Brasil neste momento. Água por exemplo recebem instruções para só beber mineral. Na década de 50 viajavam com soro antiofídico. A prevenção contra a hipótese de algum alto dignatário de Wall Street vir a ser atacado por uma cascavel em plena Avenida Atlântica.
As visitas que no duro mesmo mais encantaram o Brasil foram as de Orson Welles e Ava Gardner. Welles saiu com Grande Otelo filmando na Amazônia e no Pantanal, isso até bem antes, deu um show de como beber no Hotel Glória e Ava Gardner, sua mulher, no mínimo atirou objetos pesados pela janela de seu quarto no hotel em meio a uma bebedeira que rendeu um mês de manchetes, opiniões, análises, etc.
Eu sempre que me lembro desse episódio, me lembro também da frase de Rita Hayworth ao anunciar o seu divórcio de Orson Welles – “estou cansada de ser casada com um gênio e acordar ouvindo genialidades”.
Em tese a RIO + 20 é uma conferência “sobre desenvolvimento sustentável, vamos tentar esclarecer sobre os objetivos e expectativas da RIO + 20, tendo em vista que as negociações para o documento final da Conferência já estão sendo realizadas”. A declaração é de Brice Lalonde, Coordenador Executivo da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
Farsa.
Os principais países – potências – já anunciaram que não assumirão compromisso algum. Vão ouvir, pensar, propor, negar, tocar o barco capitalista no esquema predador de sempre, o capitalismo é predador por natureza.
Não há possibilidade de desenvolvimento sustentável no capitalismo.
O outro lado da moeda será a presença de governantes de países sistematicamente marginalizados pelos grandes e a perspectiva de espaços para debates e protestos contra a forma como o mundo vem sendo destruído.
Dentre as presenças significativas o presidente do Irã Ahamoud Ahmadinejad. E as previsíveis distorções da mídia de mercado sobre o quer que fale.
Quando era presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em estrita obediência ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, tratou de liquidar com o sistema financeiro do País, abrindo os portos a bancos estrangeiros. Só não conseguiu derrubar os grandes privados – dois apenas – e os oficiais, que na hora agá faltou peito para privatizar.
O PROER custou perto de 20 bilhões de reais para sanear bancos brasileiros e entregá-los a bancos estrangeiros.
Hoje, esses bancos, caso do SANTANDER, estão afundando e vão custar aos cofres do Banco Central Europeu, do FMI, cem bilhões de euros, perto de 230 milhões de reais.
Um quarto dos espanhóis está sem emprego, as perspectivas são as piores possíveis, 22% dos gregos não sabem o que é trabalho e segundo os “especialistas”, a crise ronda Portugal, Itália, Irlanda, Grã Bretanha, França e pode chegar a Alemanha.
O desenvolvimento sustentável vai se manter na transformação das guerras no grande negócio do capitalismo. Hoje privatizadas e dessa forma escancaradas.
O mundo se estrepa nesse jeito de sustentar qualquer coisa que não sejam os bancos e as grandes corporações.
A RIO + 20 vai abrir perspectivas reais no paralelo, digamos assim. Nos protestos populares, na rejeição ao capitalismo.
Duvido que o discurso de Hilary Clinton se preste a alguma coisa que não às costumeiras ameaças ao Irã e agora à Síria.
O complexo ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A entende por sustentável a devastação de países como o Iraque, a Líbia, o Afeganistão, o aumento dos arsenais de armas químicas e biológicas (milhares de veteranos de guerra sofrem de doenças causadas pelo uso de balas de urânio empobrecido), as ogivas nucleares e a intocabilidade do sistema financeiro internacional.
As lições de resistência do povo grego às medidas de austeridade, como chamam a barbárie, devem servir de exemplo para o repúdio a esses propósitos.
No mais Hilary deve falar da “ameaça” iraniana, da “ameaça síria” e da disposição de seu “país” (não existe mais é um conglomerado de bancos e empresas) em proteger os povos “oprimidos” no mundo inteiro.
Sobre Guantánamo nada.
Vai ser um misto de divertido e ridículo ver de volta eternos papagaios de pirata, como Sérgio Cabral e Eduardo Paes no canto das fotos, ou apertando mãos de governantes estrangeiros, banqueiros, etc, etc.
E declarações pomposas do tipo “estamos salvando o mundo”.
O importante na RIO + 20 vai ser a voz das ruas, o repúdio a hipocrisia capitalista.
Fora disso é um convescote dos grandes.
*Laerte Braga é jornalista e colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Empodera Povo“.
*GilsonSampaio

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