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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 21, 2012

Lula e Hollande criticam austeridade e defendem crescimento contra crise global

O ex-presidente brasileiro e o atual mandatário francês se reuniram nesta quarta-feira (20) no Rio de Janeiro, para discutir a crise econômica e as propostas da Rio+20. No encontro, Lula disse que a vitória de Hollande favorece a adoção de medidas para enfrentar os atuais desafios, e o francês elogiou as políticas dos governos progressistas da América Latina.
Rio de Janeiro – O ex-presidente Lula se encontrou no final da manhã desta quarta-feira (20) com o socialista François Hollande, recém-eleito presidente da França, em um hotel na zona Sul da cidade. Durante pouco menos de uma hora, ambos discutiram a crise européia e alternativas às políticas de austeridade, que, na visão deles, têm impedido a recuperação econômica do bloco.

“Ambos concordaram que é preciso propor medidas corajosas e vencer os desafios sociais, políticos e econômicos que se colocam ao mundo: resolver a crise do emprego, combater a pobreza e dar à juventude esperança de futuro”, revelou nota divulgada pela assessoria de Lula.

O mesmo texto anota que o brasileiro considerou que “a vitória de Hollande favorece a adoção de medidas para enfrentar os desafios que se colocam para o mundo em geral, e para a Europa em particular, após esse período prolongado de imposição de soluções ortodoxas para uma crise que decorre fundamentalmente da desregulamentação do capital financeiro mundial”.

Por sua vez, o francês elogiou os "governos progressistas da América Latina" e suas políticas de superação da crise, que buscam não comprometer o crescimento e a distribuição de renda. Nem Hollande, nem Lula concederam entrevista aos jornalistas após o encontro. Um assessor do ex-presidente alegou a necessidade de o ex-presidente preservar sua garganta, após o tratamento de câncer por que passou.

Por essa razão, Lula também reduziu suas atividades na Rio+20. No início da tarde, ambos seguiram para o complexo do Rio Centro, na zona oeste da cidade, para acompanhar a cerimônia de abertura da conferência da ONU. A última atividade prevista pela assessoria de Lula será um jantar, na quinta-feira (21), com representantes africanos, no Palácio da Cidade, sede da Prefeitura do Rio.

A decisão de Lula em rever o atual mandatário francês se deve à proximidade entre os dois. Ambos já haviam se encontrado em Madri, em outubro de 2011, quando Hollande ainda era candidato. Na ocasião, o ex-presidente defendeu uma “solução brasileira” para a crise européia, com incentivo ao crescimento econômico, geração de postos de trabalho e distribuição de renda.

Vitorioso nas eleições, Hollande se tornou o primeiro presidente socialista francês desde François Mitterrand, que governou o país por 14 anos, entre 1981 e 1995. Ele tomou posse no mês passado e, agora, pressiona a chanceler alemã, Angela Merkel, a rever as políticas de austeridade disseminadas na zona do euro.Carta Maior
*Oterroronordeste

Unasur se reúne con urgencia para analizar el juicio político al presidente Lugo

 

 

El presidente de Ecuador, Rafael Correa, anunció hoy que la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur) se reunirá de urgencia para sentar postura sobre el juicio político al presidente de Paraguay, Fernando Lugo.
Correa dijo esto durante una conferencia que está brindando en uno de los salones de la sede de la Conferencia de Naciones Unidas para el Desarrollo Sustentable Río+20, que se celebra en Río de Janeiro, informó la agencia estatal IPParaguay.
Correa dijo al auditorio que tenía pensado asistir esta tarde a la Cumbre de los Pueblos, que se celebra en paralelo a la Conferencia de la ONU, pero que por la convocatoria de urgencia de la Unasur no lo podrá hacer. "Como ustedes saben están impulsando juicio político a nuestro querido presidente de Paraguay", expresó Correa. 
 da Ag. de notíciasTelam
*BrasilMobilizado

Os ricaços e os 13 jatinhos ilegais 

 

Eu e muita gente gostariamos de saber quem são os ladrões - que a imprensa chama de empresários -, que tiveram jatinhos apreendidos pela PF. Por que não divulgam os nomes destes criminosos.

Por Altamiro Borges
Numa ação conjunta da Polícia Federal e da Receita Federal, realizada na madrugada desta quinta-feira (21), foram apreendidos 13 jatinhos de luxo utilizados ilegalmente por ricaços brasileiros. Batizada de Operação Pouso Forçado, ela envolveu 50 agentes da PF e 25 auditores fiscais e percorreu os aeroportos de Congonhas (SP), do Galeão (RJ) e de Jundiaí e Viracopos, no interior paulista.


Segundo os responsáveis pela operação, o esquema de importação irregular de jatos executivos causou prejuízos de pelo menos R$ 192 milhões com a sonegação de impostos. O valor total das aeronaves ultrapassa R$ 560 milhões – apenas um dos jatos custa cerca de R$ 100 milhões. Segundo relatou à Folha o superintendente-adjunto da Receita Federal, Marcos Prado Siqueira, essa foi a maior apreensão de bens do órgão em uma única operação.
Empresa de fachada em paraísos fiscais
As investigações da Operação Pouso Forçado começaram há um ano. Pelo esquema, brasileiros criavam uma empresa de fachada em paraísos fiscais, que firmava contrato com um banco estrangeiro para que o avião fosse registrado nos EUA. Com isso, os jatos voavam para o Brasil como se estivessem a serviço da empresa estrangeira e não pagavam os impostos de importação.
“Havia uma ocultação dos reais proprietários dessas aeronaves. Elas ficavam aqui, mantidas por brasileiros, que pagavam pilotos e arcavam com todos os custos de manutenção e de aluguel de hangares. E era para essas pessoas que as aeronaves voavam... Houve casos em que os jatos eram alugados para terceiros, funcionando como um táxi aéreo”, explica Marcos Prado Siqueira.
Globo vai mostrar a cara dos criminosos?
Os nomes dos ricaços envolvidos na ação criminosa não foram divulgados. Segundo a Polícia Federal, os responsáveis podem ser indiciados pelos crimes de descaminho e falsidade ideológica. Será que as emissoras de televisão, que adoram explorar as imagens de ladrões de galinha sendo presos e humilhados, irão atrás destes ricaços caloteiros. Como já adiantou Marcos Siqueira, os criminosos “são de gente com altíssimo poder aquisitivo, que tem todas as condições para recolher os impostos”. 

MP derruba fim de sacolinhas plásticas em São Paulo

 

O acordo que acabou com a distribuição de sacolinhas plásticas em estabelecimentos comerciais, como os supermercados, em São Paulo, foi suspenso nesta terça-feira, segundo confirmou o Ministério Público do Estado.

 O Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo decidiu por unanimidade que o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que limitava o direito do consumidor em receber gratuitamente as sacolas plásticas, não é válido e com isso os estabelecimentos devem voltar a distribuir as sacolinhas em cumprimento ao Código de Defesa do Consumidor, segundo o MP.

 Segundo o Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida), os estabelecimentos comerciais que deixarem de distribuir as sacolas gratuitamente correm o risco de serem acionados pelos órgãos de defesa do consumidor, mediante denúncia.

 Para a Plastivida, "o Conselho Superior do MP entendeu que existe um descompasso muito grande e que o ônus da não distribuição das sacolas plásticas está recaindo apenas sobre os consumidores. Na visão do órgão, essa situação precisa ser revertida o quanto antes", afirmou Jorge Kaimoti Pinto, advogado da entidade.

 A petição contra a homologação do TAC foi uma ação movida pela Plastivida, pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idecon) e pelo SOS Consumidor, segundo a Plastivida. De acordo com o MP, uma nota sobre a decisão do Conselho deve ser divulgada na tarde desta quarta-feira.
*umpoucodetudodetudoumpouco

Países Desenvolvidos: Os Criminosos Ambientais


Mais uma vez no Rio+20 iremos ouvir o brado da devastação da Amazônia, e ninguém vai sair protestando contra o desmatamento quase total das Florestas Temperadas. 
Por que ninguém exige o reflorestamento do Mid-West Americano e da Europa?
Por que os brasileiros gastam 95% do seu tempo contra o desmantamento da Amazônia e nada protestam contra o desmatamento das Florestas Temperadas? 
Em 2003, escrevi o artigo abaixo na Veja: Salvem as Florestas Temperadas, e a repercussão foi quase nula.
Não fui convidado para nenhuma das 54 Conferências sobre Ecologia realizadas no Brasil de lá para cá, ninguém achou este tema importante suficiente para se discutir.
Eis o artigo de 2003, que infelizmente continua válido.  
No filme A Bruxa de Blair, sucesso de bilheteria do cinema alternativo americano, há uma cena que fez meu sangue de ecologista amador brasileiro e defensor do crescimento sustentável literalmente borbulhar.
Os três estudantes do longa estão totalmente perdidos numa floresta da Nova Inglaterra e a garota começa a entrar em pânico achando que nunca mais sairia daquela selva.
Seu colega então diz algo parecido com: 
"Não seja idiota, nós destruímos todas as nossas florestas temperadas.É só andarmos mais meia hora em linha reta que logo sairemos daqui".
Ecologistas do mundo todo vivem fazendo protestos para preservar a floresta tropical brasileira, mas raramente param para refletir sobre essa corajosa crítica contida nesse filme, que fez tanto sucesso.
Se alguém se perder na Floresta Amazônica, poderá ter de andar por noventa dias até achar uma saída, tal o nível de preservação de nossa Amazônia, comparada com as demais florestas.
Então, não seria correto também discutir a reconstituição das florestas temperadas, há muito tempo dizimadas?
Na Europa e nos Estados Unidos, boa parte das florestas foram destruídas.
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O "Crescente Fértil" descrito na Bíblia é hoje o Iraque da "Desert Storm".
Em contrapartida, 86% da Floresta Amazônica continua intacta.Images (27)
No famoso Museu Smithsonian de Washington, vi um painel que orgulhosamente mostrava um pioneiro derrubando uma árvore para criar uma área arável e poder "suprir nossos antepassados com a comida necessária". Texto deles. 
Destruíram tantas florestas temperadas para plantar comida que hoje eles têm muito mais agricultores do que o necessário, a maioria economicamente inviável.
Com a produtividade atual da agricultura, bastaria cultivar as planícies naturais que todos os países já possuem.
A destruição das florestas temperadas é uma das razões dos maciços subsídios que a Europa e os Estados Unidos dão à agricultura, razão de nossos protestos junto à OMC.
Quando negociadores do governo brasileiro reclamam desses subsídios, a resposta é que eles são necessários para manter a população no campo.
Caso contrário, os países teriam enormes espaços e terras vazias, com todo mundo vivendo nas cidades.
O erro dessa lógica política está na frase "espaços e terras vazias", uma vez que essas terras não eram "vazias" antes de as florestas temperadas serem dizimadas.
Há muito deveríamos ter colocado na agenda mundial a necessidade da reconstituição das florestas temperadas ao lado da preservação da Floresta Amazônica - o que exigiria dos países desenvolvidos a lenta substituição dos agricultores subsidiados por guardas e bombeiros florestais em constante vigilância.
Pelo menos os agricultores passariam a ser úteis, em vez de receber subsídios para nada plantarem.
Os espaços não ficariam vazios, como temem os políticos desses países. Voltariam ao equilíbrio original.
Isso teria importantes consequências econômicas para o Terceiro Mundo.
Acabaria com os enormes subsídios agrícolas e equilibraria a balança comercial de muito país em desenvolvimento.
Bjorn Lomborg, autor do The Skeptical Environmentalist, escreve na página 117 uma frase de muita coragem política:
"Que base nós (Primeiro Mundo) temos para nos indignarmos com o desmatamento das florestas tropicais, considerando o nosso desmatamento na Europa e Estados Unidos?É uma hipocrisia aceitar que nós nos beneficiamos imensamente da destruição de enormes áreas de nossas próprias florestas mas não vamos permitir que países em desenvolvimento se beneficiem como nós o fizemos.Se não quisermos que eles usem seus recursos naturais do jeito que nós usamos os nossos, devemos compensá-los de acordo".
Obviamente, ele foi massacrado, e por muitos brasileiros. 
Da próxima vez que um amigo, um jornalista ou um diplomata estrangeiro lhe indagar sobre o que estamos fazendo com nossa Floresta Amazônica, antes de responder, pergunte-lhe o que ele está fazendo para reconstituir 85% de suas florestas temperadas.
Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

Fonte: Blog.Kanitz.com.br
*SoaBrasil

Charge do Dia

Paraguaios se levantam contra golpe de Estado

A sociedade paraguaia está recorrendo a todos os meios, inclusive as redes sociais, como o Facebook, para tentar barrar o que eles consideram um golpe de Estado contra a presidência de Fernando Lugo.
Segundo informam a resistência paraguaia, que se levanta contra o pedido de impeachment de Lugo no Congresso, esta é a vigésima quarta vez que a maioria colorada e oviedista tenta derrubar o presidente democraticamente eleito.

Cooperativas do MST vendem 15 toneladas de arroz orgânico para Pão de Açúcar

Via MST
Daniel Santini
Da Agência Repórter Brasil
O grupo Pão de Açúcar, principal rede varejista do Brasil, anunciou na tarde desta terça-feira, 19, a compra de 15 toneladas de arroz orgânico produzido pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A transação foi divulgada durante o debate "Segurança e Soberania Alimentar", evento que faz parte das atividades da Cúpula dos Povos, da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
A venda foi apresentada como a maior transação comercial do movimento de camponeses com um mercado feita com o apoio do programa Brasil Sem Miséria, que intermediou a negociação.
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Colheita do arroz agroecológico mostra força da Reforma Agrária
"Parece contraditório, mas sentimos a necessidade de expor e divulgar mais sobre o movimento para a classe média, mostrar que nossa produção é social e ambientalmente sustentável", afirmou Milton Formazieri, da coordenação nacional do MST. O arroz produzido sem veneno no Rio Grande do Sul será encaminhado às lojas da rede no Centro-Oeste. Na embalagens haverá símbolos do MST. O movimento espera até o final do ano manter transações semanais de 10 toneladas.
O Pão de Açúcar diz ter interesse em manter negócios com cooperativas de camponeses ligados ao movimento. "Nossa intenção é ampliar ainda mais estas negociações. Temos a preocupação de pensar na questão ambiental e também na social", afirmou Paulo Pompilio, das Relações Institucionais, que diz que o grupo tem inteção de ampliar as negociações com movimentos sociais e valorizar a produção sem agrotóxicos ou defensivos.
O anúncio foi feito na abertura do evento e foi discutido no debate sobre segurança e soberania alimentar, mediado pelo jornalista Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brasil.
O representante do Governo Federal, Pepe Vargas, Ministro do Desenvolvimento Agrário, citou a transação como um exemplo da importância de se considerar segurança e soberania alimentar como conceitos que vão além da alimentação pura e simples. "É preciso considerar a dimensão da saúde, ambiental, cultura e social do processo de alimentação. São conceitos importantes e precisamos pensar políticas públicas e segurança alimentar", afirmou. Ele listou o Programa Nacional de Alimentação Escolar como um exemplo de programa estatal semelhante.
O ministro foi questionado sobre o uso maciço de agrotóxicos pela agricultura brasileira, expansão de sementes transgênicos, o Código Florestal e reforma agrária por internautas e participantes, que enviaram perguntas por redes sociais. Admitiu que existem problemas a serem superados, mas defendeu que é preciso ter paciência para avanços. "O neoliberalismo encontra-se em uma profunda crise, mas, como todo sistema em crise, ele não muda de imediato. É um processo que às vezes é mais longo do que a gente imagina". Alguns participantes da plateia vaiaram quando Pepe Vargas defendeu as decisões do Governo Federal relativas ao Código Florestal.
Comércio responsável
Para Renato Maluf, do Centro de Referência e Segurança Alimentar da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, é importante aproveitar o momento para repensar os modelos de produção e distribuição. "É uma crise estrutural do sistema. Temos que aproveitar para debater a maneira como ele se organiza. A lógica comercial pura e simples não funciona mais. Não há mais espaço para as mesmas referências que se vinha usando, para a liberalização radical do mercado", defende. "O Brasil adquiriu muita proeminência internacional, em parte por boas razões, em parte por outras nem tão boas assim. Tem um Brasil que nós da sociedade civil não gostamos. É o que surfa na onda da crise, fatura nas exportações, a partir de um programa agrícola altamente vulnerável", afirma.
"Não estou falando contra o comércio internacional, mas contra um tipo de comércio e produção. Nós temos insistido muito que a gente quer que o governo atue internacionalmente como queremos que atue aqui. E a população tem direito à informação. Somos permanentemente bombardeados por informações enviesadas. É importante o favelado saber o que é soberania alimentar, não só os camponeses. É preciso repensar esse modelo que distanciou produção do consumo e entregou nossa alimentação na mão de três ou quatro transnacionais que, de fato, determinam o que a gente come", afirmou.
As duas participantes internacionais do debate, Karen H-Kuhn, diretora do programa internacional do Instituto para Política de Agricultura e Comércio, que participou por teleconferência, e Esther Penunia, secretária-geral da Associação Asiática de Agricultores, destacaram a importância de se considerar os processos produtivos ao se falar em segurança e soberania alimentar. "Muitas vezes, se fala somente no acesso à comida, sem pensar em como esta comida é produzida, em quem produz", afirmou Karen. "Fazendeiros precisam de terra para produzir. Quando se fala de alimentação, estamos falando da maneira como a gente vive", afirmou Esther.
*GilsonSampaio

Denúncia gravíssima: Não temos laboratórios para verificar toxicidade dos agrotóxicos, diz Anvisa

Via MST

José Coutinho
O Brasil se tornou o país que mais usa agrotóxicos em todo o mundo, fazendo uso inclusive de venenos que forma banidos em outros países, pois foi comprovado que causam danos à saúde, como câncer.
Para Heloísa Rey Farza, médica especialista em toxicologia e técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a legislação permissiva à entrada de agrotóxicos e o sucateamento da agência, que conta com poucos profissionais e nenhum laboratório, permitem a liberação desses venenos no mercado.
"O governo não tem laboratório público para fazer os mesmos testes que exigimos da indústria, que pode apresentar os resultados que quiser. Muitas vezes pegamos fraudes nos estudos e pedimos que sejam refeitos. Mas muitas vezes não pegamos, porque não vimos o teste acontecer", denuncia.
Confira a entrevista de Heloísa à Página do MST.
Quantos técnicos a Anvisa tem?
Atualmente temos 22 técnicos, encarregados de fazer a avaliação toxicológica dos agrotóxicos, entre outras coisas . Nós não registramos agrotóxico. Quem registra é a área a qual o agrotóxico vai servir. Se é para tratamento de florestas, águas superficiais, é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Se for para a agricultura, quem registra é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Ibama, Anvisa e MAPA recebem três dossiês. O nosso é toxicologia, saúde. Se faz mal ou não à saúde, e é nessa base que fazemos nosso trabalho.
Agora, quando nós dizemos que determinado produto pode ser utilizado para agricultura ou meio ambiente, opinião que deve coincidir com a dos outros dois órgãos, nós nos baseamos na legislação atual, que não protege a saúde da população. Pelo contrário, ela é permissiva.
Por exemplo, a legislação só permite tirar um produto cancerígeno do mercado se ele for cancerígeno para dois tipos de animais nos testes. E quem fornece para nós os documentos de testes em animais?  A indústria.
O que o governo pode fazer para atestar?
O governo não tem laboratório público para fazer os mesmos testes que exigimos da indústria, que pode apresentar os resultados que quiser. Muitas vezes pegamos fraudes nos estudos e pedimos que sejam refeitos. Mas muitas vezes não pegamos, porque não vimos o teste acontecer. Se o agrotóxico é cancerígeno para uma espécie, mas não para outra, estamos de punhos amarrados e temos que liberar, mesmo se soubermos que provavelmente houve fraude. Nós é que temos de provar que o produto é cancerígeno, não a indústria. Na realidade, o que acontece é essa inversão de provas, com o governo tendo de provar que faz mal à saúde e não a indústria tendo que provar que não faz mal á saúde. Por conta dessa legislação antiga, acabamos obrigados a liberar muita coisa que não queremos.
Por que a Anvisa não tem uma estrutura maior?
Não podemos contratar funcionários via concurso público por causa do inchamento do setor público. Fizemos uma contratação para a Anvisa em 2005, mas muitos do que entraram já saíram, pois o salário é muito baixo.  Médicos, por exemplo, não param na Anvisa por causa do salário. Com isso, a equipe vai empobrecendo, porque tem que ser multidisciplinar. A Agência de Proteção Ambiental (EPA, sigla em inglês), órgão semelhante à Anvisa nos Estados Unidos, conta com 500 funcionários que fiscalizam as empresas e analisam os agrotóxicos . Eles consomem menos agrotóxicos que nós.
Como é feita a análise toxicológica?
Nós temos um arcabouço que dá segurança na análise. A Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD, sigla em inglês) estabeleceu parâmetros para estudos de laboratório. Criou documentos que guiam as formas pelas quais os testes devem ser feitos. O que nós não temos como controlar é se tudo o que está dito no dossiê das empresas realmente foi feito. Por isso, não há como saber se os resultados apresentados são reais.  Temos mecanismos para impor algumas regras na análise, como seguir à risca a legislação e as regras da OECD, mas não podemos garantir que o resultado apresentado pela indústria seja verídico.
A nossa atividade é controlar para ver se não há inverdade no que nos escrevem. Se houver alguma dúvida, pedimos para que refaçam. Além disso, comparamos os dados que nos são enviados com o que tem na literatura sobre toxicologia. Eventualmente, consultamos também agências reguladoras de outros países, como a Alemanha, para ver a situação desses produtos a nível internacional.
Tomamos todas as medidas possíveis para não deixar passar inverdades, mas se tivéssemos laboratórios públicos para fazer testes - não todos, porque sairia muito caro, mas pelo menos para refazer aqueles dos quais duvidamos - seria uma grande diferença. Se tivéssemos também mais gente na equipe para analisar de uma maneira mais profunda, avançaríamos mais.
O que nós temos feito para melhorar a análise são cursos de formação para os técnicos da área de gerência em toxicologia. Todos nossos técnicos são especialistas em toxicologia. Estamos terminando agora um curso de mestrado no tema, que a metade da nossa equipe fez e esperamos conseguir fazer para a outra metade. Depois dos cursos, houve uma melhora nítida na qualidade das análises.  O senso crítico é maior, a percepção das inverdades é maior, as decisões são ponderadas de forma mais científica, sem achismos ou consulta à literatura externa.
Qual a sua avaliação da Campanha contra os agrotóxicos?
São nossos parceiros, porque tanto eles quanto nós temos o interesse de que a população seja preservada dos efeitos nocivos dos agrotóxicos. Nós temos contribuído fornecendo subsídios e informações, que são o nosso papel. Fornecemos toda informação em toxicologia que é solicitada. Sempre participamos de palestras sobre agrotóxicos quando nos pedem.
Qual a sua opinião sobre a questão do agronegócio começar a adotar o discurso da agricultura sustentável?
O agronegócio não tem muita escolha. Produzir novos agrotóxicos está saindo muito caro. Gasta-se bilhões de dólares.  Além do mais, não é possível inventar moléculas infinitamente. Há poucos átomos existentes na natureza que possam ser combinados. Há 30 ou 40 anos para achar um ingrediente ativo que fosse eficaz do ponto de vista agronômico, era preciso pesquisar em torno de 1300 moléculas novas. Atualmente, para achar um ingrediente ativo novo, é preciso pesquisar 200.000 moléculas novas. Isso custa muito caro.
Não é mais rentável?
Não é mais rentável produzir agrotóxicos novos. As seis grandes indústrias de agrotóxicos têm pesquisado muito pouco os ingredientes ativos, tanto que nos apresentam pouca coisa. A própria indústria química, a de agrotóxico em particular, está reduzindo seu investimento. Aí surge a apropriação do discurso da agricultura sustentável, que é um discurso que mostra como essas corporações vão evoluir.
Daqui há pouco, eles próprios vão começar a falar mal de agrotóxico. O interesse das corporações está se voltando para a compra de sementes. Elas estão comprando sementeiras no mundo inteiro, de tudo. Não é apenas de soja, algodão, cana ou milho. Todo tipo de semente está sendo comprada. Se essas empresas mudarem uma vírgula na composição genética dessas sementes, elas passam a ser patenteadas. Esse é o nível em que a agricultura está chegando. O pagamento de royalties pelas sementes vai fazer com que se pague cada vez mais caro para produzir alimento. 
E o que fazer para evitar este quadro?
A primeira coisa é a população se dar conta do que está acontecendo. No caso dos agrotóxicos, a sociedade acordou para o problema quando o investimento neles está praticamente no fim da linha. Agora, é preciso intervir antes que a situação se instale de uma vez por todas. Cabe à população agir. E a população organizada é a primeira a se movimentar.
Os pequenos agricultores e as associações de agricultores devem começar a levantar este problema e fazer com que as pessoas ouçam, mostrando que estamos correndo um novo risco. Não só o de continuar consumindo agrotóxico, que serão produzidos até o último suspiro dessa indústria em particular, mas também prevenir que mais tarde sejamos obrigados a comprar sementes patenteadas de todos os alimentos.  
*GilsonSampaio