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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 21, 2012


Cooperativas do MST vendem 15 toneladas de arroz orgânico para Pão de Açúcar

Via MST
Daniel Santini
Da Agência Repórter Brasil
O grupo Pão de Açúcar, principal rede varejista do Brasil, anunciou na tarde desta terça-feira, 19, a compra de 15 toneladas de arroz orgânico produzido pela Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A transação foi divulgada durante o debate "Segurança e Soberania Alimentar", evento que faz parte das atividades da Cúpula dos Povos, da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
A venda foi apresentada como a maior transação comercial do movimento de camponeses com um mercado feita com o apoio do programa Brasil Sem Miséria, que intermediou a negociação.
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"Parece contraditório, mas sentimos a necessidade de expor e divulgar mais sobre o movimento para a classe média, mostrar que nossa produção é social e ambientalmente sustentável", afirmou Milton Formazieri, da coordenação nacional do MST. O arroz produzido sem veneno no Rio Grande do Sul será encaminhado às lojas da rede no Centro-Oeste. Na embalagens haverá símbolos do MST. O movimento espera até o final do ano manter transações semanais de 10 toneladas.
O Pão de Açúcar diz ter interesse em manter negócios com cooperativas de camponeses ligados ao movimento. "Nossa intenção é ampliar ainda mais estas negociações. Temos a preocupação de pensar na questão ambiental e também na social", afirmou Paulo Pompilio, das Relações Institucionais, que diz que o grupo tem inteção de ampliar as negociações com movimentos sociais e valorizar a produção sem agrotóxicos ou defensivos.
O anúncio foi feito na abertura do evento e foi discutido no debate sobre segurança e soberania alimentar, mediado pelo jornalista Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brasil.
O representante do Governo Federal, Pepe Vargas, Ministro do Desenvolvimento Agrário, citou a transação como um exemplo da importância de se considerar segurança e soberania alimentar como conceitos que vão além da alimentação pura e simples. "É preciso considerar a dimensão da saúde, ambiental, cultura e social do processo de alimentação. São conceitos importantes e precisamos pensar políticas públicas e segurança alimentar", afirmou. Ele listou o Programa Nacional de Alimentação Escolar como um exemplo de programa estatal semelhante.
O ministro foi questionado sobre o uso maciço de agrotóxicos pela agricultura brasileira, expansão de sementes transgênicos, o Código Florestal e reforma agrária por internautas e participantes, que enviaram perguntas por redes sociais. Admitiu que existem problemas a serem superados, mas defendeu que é preciso ter paciência para avanços. "O neoliberalismo encontra-se em uma profunda crise, mas, como todo sistema em crise, ele não muda de imediato. É um processo que às vezes é mais longo do que a gente imagina". Alguns participantes da plateia vaiaram quando Pepe Vargas defendeu as decisões do Governo Federal relativas ao Código Florestal.
Comércio responsável
Para Renato Maluf, do Centro de Referência e Segurança Alimentar da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, é importante aproveitar o momento para repensar os modelos de produção e distribuição. "É uma crise estrutural do sistema. Temos que aproveitar para debater a maneira como ele se organiza. A lógica comercial pura e simples não funciona mais. Não há mais espaço para as mesmas referências que se vinha usando, para a liberalização radical do mercado", defende. "O Brasil adquiriu muita proeminência internacional, em parte por boas razões, em parte por outras nem tão boas assim. Tem um Brasil que nós da sociedade civil não gostamos. É o que surfa na onda da crise, fatura nas exportações, a partir de um programa agrícola altamente vulnerável", afirma.
"Não estou falando contra o comércio internacional, mas contra um tipo de comércio e produção. Nós temos insistido muito que a gente quer que o governo atue internacionalmente como queremos que atue aqui. E a população tem direito à informação. Somos permanentemente bombardeados por informações enviesadas. É importante o favelado saber o que é soberania alimentar, não só os camponeses. É preciso repensar esse modelo que distanciou produção do consumo e entregou nossa alimentação na mão de três ou quatro transnacionais que, de fato, determinam o que a gente come", afirmou.
As duas participantes internacionais do debate, Karen H-Kuhn, diretora do programa internacional do Instituto para Política de Agricultura e Comércio, que participou por teleconferência, e Esther Penunia, secretária-geral da Associação Asiática de Agricultores, destacaram a importância de se considerar os processos produtivos ao se falar em segurança e soberania alimentar. "Muitas vezes, se fala somente no acesso à comida, sem pensar em como esta comida é produzida, em quem produz", afirmou Karen. "Fazendeiros precisam de terra para produzir. Quando se fala de alimentação, estamos falando da maneira como a gente vive", afirmou Esther.
*GilsonSampaio

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