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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 20, 2015



da Folha
A campanha do segredo, por Janio de Freitas
Que argumentos Eduardo Cunha formula para atrair prefeitos e políticos regionais para sua candidatura?
A disputa pela presidência da Câmara introduz uma novidade que só se percebe nas suas preliminares, mas não na finalidade que, no entanto, não pode ser insignificante. E o mais provável é que não traga contribuição para atenuar as calamidades da política. Ao contrário.
Ao oficializar sua candidatura, o deputado Eduardo Cunha disse que iria correr o país, e pareceu que apenas usava de exagero para acentuar sua disposição de enfrentar a esperada oposição do governo e dos governistas menos infiéis. As últimas disputas pela presidência da Câmara tornaram normais as imitações de campanha eleitoral, com folhetos programáticos, cartazes, brindes, e outros usos publicitários. Eduardo Cunha sai da norma para o avião.
Se o corpo eleitoral é composto só pelos deputados, aí está o território a ser trabalhado pelos candidatos. Não para Eduardo Cunha. Ele busca fora da Câmara a presidência da Câmara. Viaja mesmo, como disse, pelo país afora, contatando prefeitos não só do seu PMDB, políticos regionais de diferentes partidos, e até governadores que precisam fazer o encontro em sigilo.
É claro que Eduardo Cunha procura conquistar pressões locais sobre os deputados/eleitores, para lhe darem os votos. Sua atual condição de favorito atesta, em princípio, a eficiência dos argumentos que utiliza na campanha fora da Câmara. Mas que argumentos formula para atrair prefeitos e políticos regionais? Que argumentos são esses que não convenceriam os deputados/eleitores em contatos com os próprios, precisando que sejam submetidos a pressões de suas bases políticas? Eduardo Cunha não diz, e os contatados calam. Por certo, com fortes razões para tanta confidencialidade.
Notícias esparsas mencionam viagens de Eduardo Cunha. Nenhuma pôde expor medidas por ele projetadas, caso eleito. Não é só que o país ignore o que pensa da e para a Câmara quem deseja, com tanta determinação, vir a presidi-la. Deputados/eleitores também desconhecem.
Essas coisas não levam a bons prenúncios. Ainda mais com alguém de histórico discutido e de presente perturbador, até para os seus correligionários mais próximos.
Mas Eduardo Cunha faz escola. Nas andanças, que no demais não seria fácil. Um dos seus dois adversários, Júlio Delgado, do PSB, deu para viajar também. Por isso estava no avião da Gol que teve um tremelique no Rio Grande do Sul. O escolado Arlindo Chinaglia, porém, não dá sinais, com seu ar de tédio, do que faz para salvar o governo e o PT da presidência de um dos outros dois. Sobretudo do ameaçador Eduardo Cunha.
DO BURACO AO CÉU
Com previsível fartura de frases feitas e uma passeata patética de poderosos idem, François Hollande derrubou as análises políticas do pós-atentado ao "Charlie". Todas previram, como efeito da ação terrorista, o fortalecimento da extrema-direita, de Marine Le Pen, e da pretensão de retorno do ex-presidente Sarkozy. O presidente, que já estava em funda rejeição, desceria mais no buraco.
A vulgaridade de Hollande elevou dos 19% aos 40% a proporção dos franceses que nele confiam. Se não cometer algum ato inteligente até a eleição, já passou de derrotado fácil a reeleito sem risco.
Política e eleitorados são o mesmo aqui, lá e em toda parte. As exceções só ocorrem como fenômenos.

Se Dieudonné tivesse gozado com Allah ou Maomé, hoje seria apontado como exemplo de coragem e liberdade. Infelizmente, brincou com o lado errado.

França: liberdade de expressão com asterisco

Ficamos a saber que o famoso comediante e actor francês Dieudonné M'Bala M'Bala foi preso sob a acusação de "apologia do terrorismo".

Dieudonné, por causa das suas batalhas em defesa do povo palestiniano e da resistência dos povos oprimidos contra a agressão imperialista, por anos foi pintado pelos media de regime como "anti-semita", uma acusação sempre rejeitada pelo actor.

Dieudonné tinha participado na marcha do dia 11 de Janeiro, aquela contra o terrorismo e para a defesa da liberdade de expressão, a tal Je Suis Charlie. Mas pouco depois escreveu na sua página Facebook: Je me sens Charlie Coulibaly, "Eu sinto-me Charlie Colulibaly", referindo-se a Amedy Coulibaly, o autor do massacre no supermercado hebraico.

Isso foi suficiente para ser colocado na prisão, com a acusação de apologia do terrorismo, apesar de Dieudonné (que, lembramos, é um comediante) ter realçado como a sua fosse sátira.
Podemos pensar que a frase incriminada, aquele "Eu sinto-me Charlie Colulibaly", não seja muito
simpática. O que é verdade: tem a mesma sensibilidade dos cartoons de Charlie Hebdo.

E é mesmo este o ponto: num País que desce nas ruas para defender a "liberdade de pensamento", nem todos têm o direito de fazer sátira. Pelo menos, não de um certo tipo.

Se Dieudonné tivesse gozado com Allah ou Maomé, hoje seria apontado como exemplo de coragem e liberdade. Infelizmente, brincou com o lado errado.

O que fez mais de errado o comediante? Nada, só aquela frase. Por isso a prisão é um claro acto político e judicial: acusa-se uma ideia, um pensamento, nada mais do que isso. Qual o nome desta atitude? Deixem ver..."Democracia" não..."Liberdade", não, não é...ah, é este: "Fascismo".

Vamos ver agora se o enxame de políticos, jornalistas, intelectuais que gritavam Charlie terão a coragem de denunciar a prisão do comediante francês. Alguém acredita nisso?


Ipse dixit.

Fonte. The Guardian
*InformaçaoIncorrecta

"VIRA LATAS" NÃO QUEREM ENTREGAR APENAS O PETRÓLEO.....QUEREM ENTREGAR O NEGOCIO DE R$ 20 BI POR ANO

 Por Fernando Brito 

É duro conseguir quem queira fazer investimentos de longo prazo no Brasil e foi assim ao longo de toda a nossa história moderna.
Não apenas porque um país em perdas permanentes como o nosso não acumula capitais para isso,
como há no Brasil uma elite servil, incapaz de pensar qualquer futuro para si senão o de gerente local
do capital internacional.
A decisão da Petrobras de estimular, com garantias de compra (enquanto o Governo dava a garantia de
financiamentos), a construção de sondas de perfuração de poços de petróleo em águas ultraprofundas
é, guardadas as proporções e características, muito mais “capitalista” do que as que a ela podem se
comparar, como a construção da siderúrgica de Volta Redonda ou das hidrelétricas que – apesar da
seca – nos produzem energia numa das matrizes mais limpas do mundo.
Porque, embora com as carências tecnológicas que as quase quatro décadas de paralisia da indústria
naval nos impuseram, ela traz para o país a construção de algo tão imprescindível à exploração do
petróleo quanto são o aço e a energia para a atividade econômica.
Não se acha petróleo – nem se coloca o petróleo que é achado em condições de ser explorado – sem
estas sondas.

E a alternativa a fazê-las aqui é alugar no mercado internacional.
Onde um navio-sonda com capacidade para operar em profundidades de lâmina d’água superiores a 4
mil pés ( pouco mais de 1.300 metros, a partir do qual se considera “águas profundas”) custa, por dia,
Por dia, notem bem.
Como, no pico da atividade do pré-sal, a Petrobras terá de usar, por anos a fio, 40 destas sondas, é
coisa de mais de US$ 20 milhões de dólares a cada vez que o sol nasce.
Ou quase US$ 8 bilhões a cada ano.
Em reais, uns R$ 20 bilhões cada vez que se trocar a folhinha.
Tratar isto como uma como ima irrelevância para o país, ou como se fosse destinado a negociatas um
empréstimo de R$ 9 bilhões – empréstimo, não doação – para que não se comprometa o programa de
construção da metade – só a metade – dos navios-sonda de que a Petrobras precisará, como faz hoje a
Folha de S. Paulo, não pode ser só falta de noção de sua importância.
Ninguém pensou em inviabilizar a Siemens porque um – ou vários – de seus dirigentes se meteram em
falcatruas. Nem os franceses a Alstom porque andou subornando e fazendo cartéis, um deles aqui
pertinho, na Paulicéia.
Obama comprou as ações da GM, na crise de 2008 por US$ 49 bilhões de dólares e as vendeu, há
menos de dois anos, por US$ 39 bilhões, um subsídio do Tesouro norte-americano de US$ 10 bilhões
para que não quebrasse a maior montadora de veículos dos EUA.
E olhem que eram automóveis, que podem ser importados de qualquer baiúca, em qualquer parte do
mundo, não um equipamento de altíssima tecnologia.
A imprensa brasileira divide-se em um sabujismo total aos interesses estrangeiros e uma lapidar
ignorância.
Gênio mesmo é o Roger Agnelli, que pegou US$ 1,3 bilhão com os chineses, para comprar navios
chineses, para levar minério para a China.
E, pior, que viraram “micos” navais, que a empresa agora tenta vender, com prejuízo.

A Petrobras vem sendo esquartejada por bandidos, há anos. Eles visam roubar a coletividade para usufruírem mais bens materiais e maior poder político.

Je suis Petrobras! Je suis BraSil! Je suis Povo Brasileiro!

Paulo Metri 
A Petrobras vem sendo esquartejada por bandidos, há anos. Eles visam roubar a coletividade para usufruírem mais bens materiais e maior poder político. Além disso, no estágio atual da humanidade, o ladrão de sucesso, aquele que rouba sem ser descoberto, deve se sentir orgulhoso perante sua categoria, pela esperteza demonstrada. Quem sabe o quanto a Petrobras já foi roubada, desde priscas eras, é o engenheiro Pedro Celestino Pereira, que escreveu o artigo “Em defesa da Petrobras”.
Mal comparando, porque muitos terroristas têm crenças, que podem ser consideradas erradas, mas seus métodos violentos de destruição do inimigo lembram muito os assaltantes do Estado brasileiro, ou seja, os usurpadores da nossa sociedade.
A Petrobras caricatura, sem ter esta intenção, a exploração das empresas estrangeiras no nosso país, mostra com ênfase as imperfeições destas empresas, salienta seus traços grotescos de não contribuição para o desenvolvimento nacional, como as empresas nacionais contribuem. A Petrobras não remete lucro para o exterior, não paga preços superfaturados de importações da matriz, até porque pertence à sociedade brasileira. Assim como não subfatura as exportações para a matriz, não finge comprar assistência técnica para transferir mais lucro para fora, não traz equipamentos, engenharias e modelos obsoletos para aumentar a rentabilidade de projetos aposentados nos países de origem.
Nos anos 90, encapuzados neoliberais de caneta-metralhadoras nas mãos, invadiram a empresa, tentando matá-la, buscando trocar seu nome, vendendo suas ações em fóruns hostis ao nosso povo, buscando fatiá-la como preparação para a privatização futura, tudo para a glória do líder supremo, o capital internacional. Os encapuzados gritavam: “vamos vingar os anos de rebeldia com o impuro monopólio estatal e sem a sagrada competição”. Competição esta regulada por seguidores do fundamentalismo neoliberal, colocados nos cargos do governo brasileiro pelos próprios terroristas.
Trabalhadores da empresa, comprometidos com a sociedade e de visão cristalina, foram expurgados pelos adeptos da religião radical. Outros, com instinto de sobrevivência, se subordinaram aos novos mandamentos, apesar de não crerem no novo livro sagrado. Alguns se tornaram adeptos fanáticos desta religião, pois, desde criancinhas, graças a seus DNA, eram adoradores da esperteza para o acúmulo da capital.
Trata-se de um embate de diferentes culturas. De um lado, aquela que privilegia a ganância, com princípios como: deve-se comprar onde for mais barato, mesmo que não seja uma compra local; nada de ajudar ao atingimento de políticas públicas; dilapide-se o patrimônio coletivo, por exemplo, através de um programa de desinvestimento; crie-se um exército de traidores do povo, dentro do Estado brasileiro, para influenciar em decisões governamentais de grande repercussão para a sociedade, como as decisões de leilões de petróleo ou de fixação do percentual do lucro da atividade petrolífera a ser destinado para o Fundo Social. Já a outra cultura, que se choca com a da ganância, é a da solidariedade, cujas características são intuitivas, não precisando de explicações.
Os encapuzados neoliberais atacaram não só a Petrobras, mas todo o Estado brasileiro, com a corrupção dos núcleos Al-Qaeda no congresso nacional, que aprovava leis em detrimento do interesse do povo, com os talibãs da comunicação a desinformarem e alienarem os brasileiros. E, assim, dilapidaram boa parte da riqueza nacional já constituída.
Agora, surgem uns alienados roubando também a empresa, que, como células perdidas do terrorismo neoliberal são verdadeiros broncos, ladrões de galinha nada sutis, tanto que foram descobertos, mas até ajudaram a dissimular a atuação dos seguidores do grande capital internacional. Ajuda que inspira a possibilidade de se identificar o ocorrido como operação da CIA e NSA.
Eu não sou somente Petrobras. Mais que tudo, sou sociedade brasileira!
Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania.



segunda-feira, janeiro 19, 2015

em uma espiral de destruição e de morte, que ameaça a sobrevivência da própria espécie e explode em ódio, estupidez e sangue, como agora, em Paris, neste começo de ano.

O TERROR, O OCIDENTE E A SEMEADURA DO CAOS.

(Jornal do Brasil) - O Há alguns dias, terroristas franceses, ligados, aparentemente, à Al Qaeda, atacaram a redação do jornal satírico parisiense Charlie Hebdo, em represália pela publicação de caricaturas sobre o profeta Maomé.
Doze pessoas foram assassinadas, entre elas alguns dos mais famosos cartunistas e intelectuais do país, e dois cidadãos de origem árabe, um deles, estrangeiro, que trabalhava há pouco tempo na publicação, e um membro das forças de segurança que estava nas imediações.
Logo em seguida, houve, também, outro ataque, a um supermercado kosher na periferia de Paris, em que 4 judeus franceses e estrangeiros morreram.
Dias depois, milhões de pessoas, e personalidades de vários países do mundo, se reuniram nas ruas da capital francesa, para protestar contra o atentado, e se manifestar contra o terrorismo e pela liberdade de expressão.
Na mesma primeira quinzena de janeiro, explodiram carros-bomba, e homens-bomba, também ligados a grupos radicais islâmicos, no Líbano (Beirute), na Síria (Aleppo), na Líbia (Benghazi), e no Iraque (Al-Anbar), com dezenas de mortos, em sua maioria civis.
Mas, como sempre, não seria normal esperar que algum destes fatos tivesse a mesma repercussão do atentado em Paris, capital de um país europeu, ou que a alguém ocorresse produzir cartazes e neles escrever Je suis Ahmed, ou Je suis Ali, ou Je suis Malak, Malak Zahwe, a garota brasileira, paranaense, de 17 anos, que morreu na explosão  de um carro-bomba, junto com mais 4 pessoas (20 ficaram feridas), no dia 2 de janeiro, em Beirute.
No entanto, os homens, mulheres e crianças, mortos, todos os dias, no Oriente Médio e no Norte da África, são tão frágeis e preciosos, em sua fugaz condição humana,  quanto os que morreram na França,  e vítimas dos mesmos criminosos, criados pela onda de radicalização e rápida expansão do fundamentalismo islâmico, nos últimos anos.
Raivosas, autoritárias, intempestivas, numerosas vozes se alçaram, em vários países, incluído o Brasil, para gritar - em raciocínio tão ignorante quanto irascível - que o terrorismo não tem que ser "compreendido" e, sim, "combatido".
Os filósofos e estrategistas chineses ensinam, há séculos, que sem conhecê-los, não é possível vencer os eventuais adversários, nem mudar o mundo.
Além disso, não podemos, por aqui, por mais que muitos queiram emular os países "ocidentais", em seu ardoroso "norte-americanismo" e "eurocentrismo", esquecer que existem diferenças históricas, e de política externa, entre o Brasil, os EUA, e países da OTAN como a França.
Podemos dizer que Somos Charlie, porque defendemos a liberdade e a democracia, e não aceitamos que alguém morra por fazer uma caricatura, do mesmo jeito que não podemos aceitar que uma criança pereça bombardeada pela OTAN no Afeganistão ou na Líbia, ou porque estava de passagem, no momento em que explodiu um carro-bomba, por um posto de controle em Aleppo, na Síria.  
Mas é preciso lembrar que, ao contrário da França, nunca colonizamos países árabes e africanos, não temos o costume de fazer charges sobre deuses alheios em nossos jornais, não jogamos bombas sobre países como a Líbia, não temos bases militares fora do nosso território, não colaboramos com os EUA em sua política de expansão e manutenção de uma certa "ordem" ocidental e imperial, e, talvez, por isso mesmo - graças a sábia e responsável política de Estado, que inclui o princípio constitucional de não intervenção em assuntos de outros países - não sejamos atacados por terroristas em nosso território.
As raízes dos atentados de Paris, e do mergulho do Oriente Médio na maior, e, com certeza, mais profunda  tragédia de sua história, não está no Al Corão ou nas charges contra o Profeta Maomé, embora estas últimas possam ter servido de pretexto para ataques como o que ocorreu em Paris.
Elas começaram a se tornar mais fortes, nos últimos anos,  quando o "ocidente", mais especificamente alguns países da Europa e os EUA, tomaram a iniciativa de apoiar e insuflar, usando também as redes sociais, o "conto do vigário" da Primavera Árabe em diversos países, com a intenção de derrubar regimes nacionalistas  que, com todos os seus defeitos, haviam conquistado certo grau de paz, desenvolvimento e estabilidade para seus países nas últimas décadas.
Inicialmente promovida, em 2011, como "libertária", "revolucionária", a Primavera Árabe iria,  no curto espaço de três anos, desestabilizar totalmente a região, provocar massacres, guerras civis, golpes de Estado, e alcançar, por meio da  intervenção militar direta e indireta da OTAN e dos EUA em vários países, a meta de tirar do poder,  a qualquer custo, regimes que lutavam para manter um mínimo de independência e soberania em suas relações com os países mais ricos.
Quando os EUA, com suas "primaveras" - que não dão flores, mas são fecundas em crimes e cadáveres - não conseguem colocar no poder um governo alinhado com seus interesses, como na Ucrânia e no Egito, jogam irmão contra irmão e equipam com armas, explosivos, munições, terroristas, bandidos e assassinos para derrubar quem estiver no comando do país.
O objetivo é destruir a unidade nacional, a identidade local, o Estado e as instituições, para que essas nações não possam, pelo menos durante longo período, voltar a organizar-se, a ponto de tentar desafiar, mesmo que em pequena escala, os interesses norte-americanos.
Foi assim que ocorreu com a intervenção dos EUA  e de aliados europeus como a Itália e a França - contra a recomendação de Brasil, Rússia, Índia e China, no Conselho de Segurança da ONU -  no Iraque, na Líbia e na Síria.
Durante décadas, esses países - com quem o Brasil tinha, desde os anos 1970, boas relações - viveram sob relativa estabilidade, com a  economia funcionando, crianças indo para a escola, e diferentes etnias, religiões e culturas, dividindo, com eventuais disputas, o mesmo território.
Estradas, rodovias, sistemas de irrigação, foram construídos - também com a ajuda de técnicos, operários  e engenheiros brasileiros - com os recursos do petróleo, e países como o Iraque chegavam a importar automóveis, como no caso de milhares de Volkswagens Passat fabricados no Brasil, para vender aos seus cidadãos de forma subsidiada.
Na Líbia de Muammar Kadafi, segundo o próprio World Factbook da CIA, 95% da população era alfabetizada, a expectativa de vida chegava, para os homens, segundo dados da ONU, a 73 anos, e a renda per capita e o IDH estavam entre os maiores do Terceiro Mundo, mas esses dados nunca foram divulgados normalmente pela imprensa "ocidental".  
Pode-se perguntar a milhares de brasileiros que estiveram no Iraque, que hoje têm entre 50 e 70 anos de idade, se, naquela época, sunitas e xiitas se matavam aos tiros pelas ruas, bombas explodiam em Basra e Bagdá todos os dias, como explodem hoje, a qualquer momento, também em em Trípoli ou Damasco,  ou milhares de órfãos tentavam atravessar montanhas e rios sozinhos, pisando nos restos de outras crianças, mortas em conflitos incentivados por "potências" estrangeiras, ou tentavam sobreviver caçando, a pedradas, ratos por entre escombros das casas e hospitais em que nasceram.  
São, curdos, xiitas, sunitas, drusos, armênios,  cristãos maronitas, inimigos?
Antes, trabalhavam nos mesmos escritórios, viviam nas mesmas ruas, seus filhos frequentavam as mesmas salas de aula, mesmo que eles não tivessem escolhido, no início, viver como vizinhos.
Assim como no caso de hutus e tutsis em Ruanda, e em inúmeras ex-colônias asiáticas e africanas, as  fronteiras dos países do Oriente Médio foram desenhadas, na ponta do lápis, ao sabor da vontade do Ocidente, quando da partilha do continente africano por europeus, obedecendo não apenas ao resultado de Conferências como a de Berlim, em 1884, mas também à máxima de que sempre se deve "dividir para comandar", mantendo, de preferência,  etnias de religiões e idiomas diferentes dentro de um mesmo território ocupado pelo colonizador.
Eram Saddam Hussein e Muammar Kadafi, ditadores? É Bashar Al Assad, é um déspota sanguinário?
Quando eles estavam no poder, não havia atentados terroristas em seus países.
E qual é a diferença deles e de seus regimes, para os líderes e regimes fundamentalistas islâmicos comandados por xeques e emires, na mesma região, em que as mulheres - ao contrário dos governos seculares de Saddam, Kadafi e Assad - são obrigadas a usar a burka, não podem sair de casa sem a companhia do irmão ou do marido,  se arriscam a ser apedrejadas até a morte ou chicoteadas em caso de adultério, e não há eleições, a não ser o fato de que esses regimes são dóceis aliados do "ocidente" e dos EUA?
Se os líderes ocidentais viam Kadafi como inimigo, bandido, estuprador e assassino, por que ele recebeu a visita do primeiro-ministro britânico Tony Blair, em 2004; do Presidente francês Nicolas Sarkozy - a quem, ao que tudo indica, emprestou 50 milhões de euros para sua campanha de reeleição - em 2007; da Secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice, em 2008; e do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi em 2009? 
Por que, apenas dois anos  depois, em março de 2011 - depois de Kadafi anunciar sua intenção de nacionalizar as companhias estrangeiras de petróleo que operavam, ou estavam se preparando para entrar  na Líbia (Shell, ConocoPhillips, ExxonMobil, Marathon Oil Corporation, Hess Company)  esses mesmos países e os EUA, atacaram, com a desculpa de criar uma Zona de Exclusão Aérea sobre o país, com 110 mísseis de cruzeiro, apenas nas primeiras horas, Trípoli, a capital líbia, e instalações do governo, e armaram milhares de bandidos - praticamente qualquer um que declarasse ser adversário de Kadafi - para que o derrubassem, o capturassem e finalmente o espancassem, a murros e pontapés, até a morte?
Ora, são esses mesmos bandidos, que, depois de transformar, com armas e veículos fornecidos por estrangeiros, a Líbia em terra de ninguém, invadiram o Iraque e, agora, a Síria, e se uniram para formar o Estado Islâmico, que pretende erigir uma grande nação terrorista juntando o território desses três países, não por acaso os que foram mais devastados e destruídos pela política de intervenção do "ocidente" na região, nos últimos anos.       
Foram os EUA e a Europa que geraram e engordaram a cobra que ameaça agora devorar a metade do Oriente Médio, e seus filhotes, que  também armam rápidos botes no velho continente. Serpentes que, por incompetência e imprevisibilidade, depois da intervenção na Líbia,  a OTAN e os EUA não conseguiram manter sob controle.  
Os Estados Unidos podem, pelo arbítrio da força a eles concedida por suas armas e as de  aliados - quando não são impedidos pelos BRICS ou pela comunidade internacional - se empenhar em destruir e inviabilizar pequenas nações - que ainda há menos de cem anos lutavam desesperadamente por sua independência - para tentar estabelecer seu controle sobre elas, seu povo e seus recursos, objetivo que, mesmo assim, nunca conseguiram alcançar militarmente.
Mas não podem cometer esses crimes e esses equívocos, diplomáticos e de inteligência, e dizer, cinicamente, que o estão fazendo em nome da defesa da Liberdade e da Democracia.
Assim como não deveriam armar bandidos sanguinários e assassinos para combater governos que querem derrubar, e depois dizer que são contra o terrorismo que eles mesmos ajudaram a fomentar, quando esses mesmos terroristas, além de explodir bombas e matar pessoas em Bagdá, Damasco ou Trípoli, todos os dias, passam a fazer o mesmo nas ruas das cidades da Europa ou dos próprios Estados Unidos.
O "terrorismo" islâmico não nasceu agora.
Mas antes da balela mortífera da Primavera Árabe,  e da Guerra do Iraque, que levou à destruição do país, com a mentirosa desculpa da posse, por Saddam Hussein, de armas de destruição em massa que nunca foram encontradas - tão falsa quanto o pretexto  do envolvimento de Bagdá no ataque às Torres Gêmeas, executado por cidadãos sauditas, e não líbios, sírios ou iraquianos - não havia bandos armados à solta, sequestrando, matando e explodindo bombas nesses 3 países.
Hoje, como resultado da desastrada e criminosa intervenção ocidental, o terror  controla boa parte dos territórios e da sofrida população síria, iraquiana e líbia, e está unindo suas conquistas em torno da construção de uma nação maior, mais poderosa, e extremamente mais radical do ponto de vista da violência e do fundamentalismo, do que  qualquer um desses países jamais o foi no passado.
O ataque terrorista à redação e instalações do semanário francês Charlie Hebdo, e do Mercado Kosher, em Vincennes, Paris, foram crimes brutais e estúpidos.
Mas não menos brutais, e estúpidos, do que os atentados cometidos, todos os dias, contra civis  inocentes, entre muitos outros lugares, como a Síria, o Iraque, a Líbia, o Afeganistão.
Quem quiser encontrar as sementes do caos que também atingiram, em forma de balas, os corpos dos mortos do Charlie Hebdo poderá procurá-las no racismo  de um continente que acostumou-se a pensar que é o centro do mundo, e que discrimina, persegue e despreza, historicamente, o estrangeiro, seja ele árabe, africano ou latino-americano; e no fundamentalismo branco, cristão e rançoso da direita e da extrema direita norte-americanas, cujos membros acreditam piamente que o Deus vingador da Bíblia deu à "América" do Norte o "Destino Manifesto" de dirigir o mundo.
Em nome dessa ilusão, contaminada pela vaidade e a loucura, países que se opuserem a isso, e milhões de seres humanos, devem ser destruídos, mesmo que não haja nada para colocar em seu lugar, a não ser mais caos e mais violência, em uma  espiral de destruição e de morte, que ameaça a sobrevivência da própria espécie e explode em ódio, estupidez e  sangue, como agora, em Paris, neste começo de ano.

PAPA NAO PODE SER JUIZ DO LIMITE DA CRITICA RELIGIOSA NÃO TEM MORAL HISTÓRICA

Nossa Idade Média: religiosos não podem ser os juízes do limite da crítica à religião



por Paulo Jonas de Lima Piva

Mesmo com tantos avanços científicos e tecnológicos ainda vivemos num mundo em que as pessoas acreditam em divindades, livros sagrados, messias, espíritos, vida após a morte e capetas. Por outro lado, há muitos que não acreditam. Para administrar tal discrepância, a tolerância mostrou-se o melhor caminho no mundo secularizado e pós-teocêntrico. E como parte constituinte do valor da tolerância está o direito de crítica aos dogmas religiosos - aliás, um grande avanço civilizacional -, o qual inclui o humor como uma de suas formas.

Criticar dogmas religiosos, dentre eles seus personagens, é bem diferente de ofender o direito de fé das pessoas. Obviamente é de se esperar que nos sintamos incomodados de algum modo quando nossos dogmas são alvejados por críticas muitas vezes duras. Aí o problema é de quem se ofendeu com as críticas aos dogmas e não de quem critica os dogmas dessa fé. Pois se a crítica deixar se levar pelas reclamações dos carolas, pela sensibilidade da paixão dos religiosos, como quer o papa Francisco, o pensamento crítico simplesmente irá se atrofiar. Portanto, é fundamental que insistamos: criticar os dogmas religiosos, seja por meio de argumentos sisudos, seja por meio do humor, é diferente de insultar o direito de fé dos religiosos. E se estes se sentirem ofendidos com as críticas sisudas ou sarcásticas aos dogmas da sua religião, o problema é do religioso que ainda não se preparou psicologicamente para viver numa sociedade pluralista. O que é inaceitável é que os religiosos estabeleçam os limites dessa crítica, como quer fazer o papa, pois são parte diretamente interessada na questão.
*opensadordaaldeia

domingo, janeiro 18, 2015

AGORA O PAPA CHEGUEVARIZOU

Em discurso, Papa pede criação de Estado Palestino

Pontífice falou ainda sobre combate ao EI e sobre ataques em Paris

Papa discursou nesta segunda-feira e falou sobre diversos temas mundiais
Foto: Osservatore Romano / Reuters
Em discurso ao corpo diplomático do Vaticano nesta segunda-feira, o papa Francisco pediu a retomada das negociações entre Israel e Palestina e a criação de dois Estados. "[Que o Oriente Médio] possa recomeçar as negociações entre as duas partes, com intenção de fazer cessar a violência e a chegar a uma solução que permita tanto ao povo palestino como aos israelenses viverem em paz, com fronteiras claramente definidas e reconhecidas internacionalmente. Assim, a solução da criação dos dois Estados se tornará efetiva", discursou.
Durante a audiência na Santa Sé, o Pontífice voltou a destacar que o mundo vive uma "verdadeira guerra mundial combatida em partes" e que o "Oriente Médio sem cristãos ficará desfigurado e mutilado". Ele ainda lembrou a carta que enviou à região pelo Natal e assegurou que os moradores de lá não saem de suas orações. "Para que todas as comunidades cristãs, que dão um testemunho de fé e de coragem, desenvolvam um papel fundamental como artífices de paz, de reconciliação e de desenvolvimento nas respectivas sociedades a que pertencem", destacou.
Sem citar o nome Estado Islâmico (EI), o líder da Igreja Católica afirmou que é necessário ter uma "resposta unânime" da comunidade internacional. "Pelas agressões injustas, é preciso uma decisão unânime que, no quadro do direito internacional, pare a propagação da violência, restabeleça a concórdia e sare as profundas feridas que os desdobramentos dos conflitos provocaram", disse.
Ele ainda voltou a pedir que "os líderes religiosos, políticos e intelectuais, especialmente muçulmanos, condenem qualquer interpretação fundamentalista e extremista da religião". Destacando o fundamentalismo religioso, Jorge Mario Bergoglio falou que ele, além de "perpetrar horrendos massacres, refuta Deus para um mero protesto ideológico". Ainda no tema terrorismo, o Papa voltou a falar sobre os atentados de Paris na última semana.
Segundo o líder, o ataque "nasceu de uma cultura que rejeita o outro, rompe os laços mais íntimos e verdadeiros com o fim de dissolver e desintegrar toda a sociedade e para gerar violência e morte".
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Guerras locais
No dia em que o Paquistão lembra o primeiro mês da tragédia da escola militar de Peshawar, que matou 141 pessoas - entre as quais 132 crianças e adolescentes, o Pontífice destacou que "desejo renovar as minhas condolências às suas famílias e asseguro as minhas orações por tantos inocentes que perderam a vida".

Já sobre a Ucrânia, Bergoglio afirmou que o país virou um "dramático cenário de confrontos" e pediu que, "através do diálogo, se consolidem os esforços para cessar as hostilidades" e que "as partes envolvidas renovem o espírito através das leis internacionais e encontrem um sincero caminho de confiança recíproca e de reconciliação fraterna para superar a atual crise".
O sucessor de Bento XVI também lembrou os confrontos na Nigéria, dizendo que "as formas de brutalidade" no local fazem vítimas entre as crianças e as pessoas indefesas. Ele lembrou ainda o "trágico fenômeno" dos sequestros e disse que é preciso erradicar o rapto de meninas para serem vendidas como objetos.
O líder da Igreja Católica pediu ainda uma atenção especial aos ataques e guerras que ocorrem por todas as partes do continente africano, como no Congo e no Sudão do Sul. Além de se preocupar com o fim dos conflitos, Bergoglio também lembrou a situação das mulheres nas zonas de guerra.
"Não se pode esquecer que as guerras trazem consigo outro crime horrível, que é o estupro. Isso é uma gravíssima ofensa à dignidade das mulheres, que não são só violentadas na intimidade de seu corpo, mas também na sua alma. Esse é um trauma que dificilmente será esquecido e que traz ainda consequências de caráter social", ressaltou.
Ebola
O Papa discursou também que "entre os leprosos de nosso tempo, estão as vítimas desta nova e tremenda epidemia de ebola". Ele aproveitou para elogiar o empenho dos médicos, enfermeiros, religiosos e voluntários que estão ajudando a confortar e curar os doentes. Porém, renovou seu apelo para que "toda a comunidade internacional aja e forneça uma adequada assistência humanitária às pessoas".

EUA x Cuba
O Pontífice relembrou a volta das conversas entre Cuba e Estados Unidos e disse que esse é um "exemplo" de como o diálogo "pode edificar e construir pontes". Ele ainda saudou positivamente a decisão dos norte-americanos de fechar a prisão de Guantánamo e agradeceu a "generosa disponibilidade de alguns países" em receber os presidiários.

Irã
Bergoglio ainda pediu que o acordo nuclear do Irã seja resolvido "rapidamente" e elogiou os esforços feitos até o momento nessa direção.

Itália
Sobre a grave crise econômica que vive a Itália, Francisco disse que envia um "pensamento especial de esperança" porque no atual clima de "incerteza social, política e econômica, o povo italiano não ceda à falta de vontade e a tentação dos conflitos". Ele ainda pediu que os italianos "redescubram" os valores de atenção recíproca e solidariedade que são base de sua cultura e de convivência civil, "especialmente para os jovens". 

Washington vê o crescimento do Pequim, de Moscovo e sabe que aí será jogada a partida mais importante. Mas não há muito tempo à disposição: se Reino Unido, Canadá e Austrália

Porque é preciso apoiar a Rússia

Porque temos que apoiar a Rússia?
Porque sim. Que como resposta pode não ser o máximo mas é sem dúvida a melhor.

Sem ilusões (a Rússia está bem longe de ser perfeita), mas porque sim. Vamos ver qual a razão.
O colapso

Os Estados Unidos não são o império do mal. São a expressão duma elite económica e financeira que utiliza a classe política para manter a sua posição de poder. Para que isso funcione, nesta altura são obrigados a impor a sua visão ao resto do mundo.

Todavia, os EUA entraram numa fase que provavelmente será irreversível (o condicional é obrigatório, não podemos conhecer os futuros desenvolvimentos): a crise de 2007 foi, na verdade, uma lógica consequência cuja origens remontam a alguns anos antes, quando a política deixou de existir enquanto instituição autónoma para entregar-se totalmente ao poder económico-financeiro. Aí começou o colapso, mas os EUA ainda são muito poderosoe podem causar grandes estragos durante a queda

Washington vê o crescimento do Pequim, de Moscovo e sabe que aí será jogada a partida mais importante. Mas não há muito tempo à disposição: se Reino Unido, Canadá e Austrália ainda regem como fieis aliados (os media de Murdock fazem um óptimo trabalho neste aspecto), no resto do mundo as coisas estão diferentes.

A Administração sabe que não pode contar com a Europa Unida, oficialmente aliada, na verdade cada vez mais fragmentada e à beira da dissolução. Além disso, o sentimento anti-EUA cresce e até alguns governos começam a ficar muito desconfortáveis com as decisões de Washington (ver o caso das sanções contra a Rússia). No coração de Nações ocidentais, os líderes empresariais estão quase todos em favor de uma estreita cooperação com a Rússia e contra as medidas de punição.
Países que anteriormente altura tinham aderido à União Europeia com entusiasmo, agora aproximam-se ao lado de Moscovo. É o caso da Hungria (quenunca foi uma grande amiga da Rússia), daBulgária. Mesmo os Polacos começaram a fazer as contas.

Obama e os neoconservadores pensavam que Putin teria-se rendido se for atacado na Ucrânia. Mas estavam clamorosamente errados. A ofensiva americana, pelo contrário, ajudou dezenas de milhões de Russos a tomar consciência da situação e Putin consegue representa-los muito bem. De facto, na Ucrânia a situação entrou numa fase de espera sem fim à vista.

No Oriente Médio a situação não é melhor. A Síria, que parecia condenada, resistiu e agora o governo de Bassad recupera terreno. O Irão mudou os tons, escolheu a via diplomática, subtraindo assim razões de queixa à Washington. Os Países onde passou a vaga da Primavera Árabe ou estão numa situação de caos da qual ninguém consegue trazer benefícios (Líbia) ou abdicaram das soluções impostas pelos americanos (Morsi no Egipto) ou voltaram à normalidade (Tunísia).

Sobra o Iraque (outro fracasso dos EUA), onde agora actuam as tropas americanas na luta contra o "Califado", última esperança para desestabilizar de forma dramática as fronteiras da região. Mas a contra o Isis arrisca ser uma guerra muito dispendiosa, com um final que ainda não foi escrito e, sobretudo, longa. E Washington não tem este tempo todo.

Neste aspecto é importante quanto acontecido com o preço do petróleo: os americanos, na tentativa de pôr de joelhos a Rússia, deram luz verde aos Árabes da Península para uma operação de dumping que ao mesmo tempo, torna anti-económico o gas shale em pátria. Mas nem isso foi suficiente.

Washington sabe que a Rússia é um obstáculo fundamental na guerra não declarada contra a China, o verdadeiro último objectivo. Pelo que as alternativas, e com elas o tempo, estão a esgotar-se. Portanto, a agenda para o próximo futuro é simples: guerra sim ou guerra não.

Não com a actual Presidência. Antes disso, os Estados Unidos terão que resolver alguns problemas internos.
Raridade: um F-35 que voa
A máquina militar, por exemplo.  

O caos no mundo deve ser mantido, porque é aúnica maneira com a qual a estrutura militar americana pode justificar a sua existência. Mas éuma máquina cara e nem particularmente eficiente.

O novo jacto F-35 é paradigmático: custou mais deum trilião de Dólares só na fase dedesenvolvimento, mas nasceu como projecto jáfracassado e nunca deveria ter entrado em produção.

À despeito dessas despesas "pródigas", os militares dos EUA demonstraram não ser capazes de alcançar vitórias decisivas em nenhum conflito, independentemente do adversário. Estes, fracos ou esgotados, conseguem resistir e tornar uma guerra "relâmpago" num conflito perpétuo de baixa intensidade. O Afeganistão é o caso mais emblemático, mas nem podemos esquecer o já citado Iraque, a Somália, a Líbia, as Filipinas.

Pelo que é lícito prever que os últimos meses da Presidência Obama terão entre os vários objectivos também aquele de rever algo na máquina bélica. Uma vez arrumado o assunto, com um Presidente Republicano ou (mais provável) com Hillary Clinton, a discurso será diferente.

Esta a razão pela qual é preciso escolher a Rússia. O País de Putin hoje é o primeiro e mais importantebaluarte para travar os Estados Unidos, que estão a preparar-se para a guerraSe a resistência da Rússiacaísse,  o conflito entre China e EUA seria o seguinte e inevitável passo.
A Rússia

O que é hoje a Rússia? Como afirmado, está longe de ser perfeita. Não podemos esquecer que, como todos os BRICS, falamos dum País que escolheu a economia do "livre mercado", isso é, do Capitalismo. Os "mas" e os "ses" apenas servem para adocicar a pílula aos mais nostálgicos: são economias capitalistas e ponto final.

Mais: o actual sistema político da Rússia não se pode considerar um modelo de Democracia. O mesmo Putin é aquele que em Portugal é definido como "cromo" (não acaso é amigo pessoal de Berlusconi...).
É mesmo o caso?
Mas a Rússia tem enviado sinais moderados e inteligentes nos últimos tempos.

Decidiu não intervir de forma directa no conflito da Ucrânia, mantendo uma postura nos bastidores, tal como feito pelos Estados Unidos. Decidiu não intervir na Crimeia, deixando que fossem as populações (de maioria russa) a viabilizar a anexão. Decidiu fornecer de carvão a Ucrânia, apesar do governo de Kiev tentar tudo e mais alguma coisa para provocar Moscovo.

Ao mesmo tempo, conseguiu defender o Rublo (até a data, pelo menos), tem trabalhado para sair dos esquemas financeiros ocidentais e para uma alternativa euro-asiática, sem que isso prejudicasse as tentativas de diálogo com a Países da Europa Ocidental.

Na prática, a Rússia evita qualquer atitude "belicosa", deixando que seja Washington a esgotar-se nas tentativas hostis. A Rússia pode fazer isso, pois sabe que o entendimento com Pequim avança com bom ritmo e se anuncia cada vez mais promissor. Tem "as costas quentes" e não está disposta a perder o que construiu nas últimas décadas em troca duma aventura sangrenta e do êxito indecifrável. Esta é a razão pela qual é preciso apoiar a Rússia: não será ela a procurar o conflito.

Mais uma vez: nem Moscovo, nem Pequim, nem nenhum dos outros BRICS poderá ser considerado uma alternativa ao actual sistema até quando continuar a utilizar as mesmas ferramentas. O paradigma da mudança ainda não está no horizonte, infelizmente.

Mas no curto e médio prazo, Moscovo é a melhor garantia de Paz.
E isso é mais do que suficiente.


Ipse dixit.
*informaçaoincorrecta