Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 20, 2015

Se Dieudonné tivesse gozado com Allah ou Maomé, hoje seria apontado como exemplo de coragem e liberdade. Infelizmente, brincou com o lado errado.

França: liberdade de expressão com asterisco

Ficamos a saber que o famoso comediante e actor francês Dieudonné M'Bala M'Bala foi preso sob a acusação de "apologia do terrorismo".

Dieudonné, por causa das suas batalhas em defesa do povo palestiniano e da resistência dos povos oprimidos contra a agressão imperialista, por anos foi pintado pelos media de regime como "anti-semita", uma acusação sempre rejeitada pelo actor.

Dieudonné tinha participado na marcha do dia 11 de Janeiro, aquela contra o terrorismo e para a defesa da liberdade de expressão, a tal Je Suis Charlie. Mas pouco depois escreveu na sua página Facebook: Je me sens Charlie Coulibaly, "Eu sinto-me Charlie Colulibaly", referindo-se a Amedy Coulibaly, o autor do massacre no supermercado hebraico.

Isso foi suficiente para ser colocado na prisão, com a acusação de apologia do terrorismo, apesar de Dieudonné (que, lembramos, é um comediante) ter realçado como a sua fosse sátira.
Podemos pensar que a frase incriminada, aquele "Eu sinto-me Charlie Colulibaly", não seja muito
simpática. O que é verdade: tem a mesma sensibilidade dos cartoons de Charlie Hebdo.

E é mesmo este o ponto: num País que desce nas ruas para defender a "liberdade de pensamento", nem todos têm o direito de fazer sátira. Pelo menos, não de um certo tipo.

Se Dieudonné tivesse gozado com Allah ou Maomé, hoje seria apontado como exemplo de coragem e liberdade. Infelizmente, brincou com o lado errado.

O que fez mais de errado o comediante? Nada, só aquela frase. Por isso a prisão é um claro acto político e judicial: acusa-se uma ideia, um pensamento, nada mais do que isso. Qual o nome desta atitude? Deixem ver..."Democracia" não..."Liberdade", não, não é...ah, é este: "Fascismo".

Vamos ver agora se o enxame de políticos, jornalistas, intelectuais que gritavam Charlie terão a coragem de denunciar a prisão do comediante francês. Alguém acredita nisso?


Ipse dixit.

Fonte. The Guardian
*InformaçaoIncorrecta

Nenhum comentário:

Postar um comentário