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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 25, 2015

Premiar bandido delator, o fundo do poço da Justiça brasileira

 Carlos Motta
Se a Justiça brasileira nunca foi essas coisas e insiste em continuar sendo lenta, cara, amiga dos poderosos e implacável com os coitadinhos; 
se a Justiça brasileira, dizem as pesquisas de opinião pública, é considerada uma das instituições menos confiáveis da sociedade;
se a Justiça brasileira é incapaz de mudar a sua imagem de elitista e de superprotetora de seus interesses;
se a Justiça brasileira pune seus membros corruptos aposentando-os com régios salários;
se a Justiça brasileira insiste em atuar como se o tempo tivesse parado no país, agora, com essa decisão de premiar, não só com o perdão da pena, mas também monetariamente, bandidos alcaguetes, ela, definitivamente, chega ao fundo do poço do descrédito.

O dedo-duro, ou o delator, cagueta, cabueta, dedo de cimento armado, dedo de seta, delator, x-nove, espião, informante, dedo de anzol, língua nervosa, língua de tamanduá, língua maldita, língua de sabão, corujão - como se vê, há muitos sinônimos para ele - é, por si só, uma figura abjeta, ignóbil.
Pior quando, além de se prestar ao serviço de delação, ele é também criminoso.
E, pior de tudo, é quando juízes, promotores, delegados etc etc trocam seu trabalho de investigar e recolher provas pelos serviços nojentos desses dejetos humanos.
Aí é o ponto final de qualquer esperança de ver o Brasil melhorar.
Só nos resta indicar a esses doutos aplicadores da justiça os sábios versos de Pedro Butina e Evandro do Galo, cantados pelo mestre Bezerra da Silva na sugestiva composição "Defunto Caguete".
A sabedoria popular, muitas vezes, esclarece o que os doutores relutam em explicar...
Caguete é mesmo um tremendo canalha
Nem morto não dá sossego
Chegou no inferno, entregou o diabo
E lá no céu caguetou São Pedro
Ainda disse que não adianta
Porque a onda dele era mesmo entregar
Quando o caguete é um bom caguete
Ele cagueta em qualquer lugar

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