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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 19, 2015

PAPA NAO PODE SER JUIZ DO LIMITE DA CRITICA RELIGIOSA NÃO TEM MORAL HISTÓRICA

Nossa Idade Média: religiosos não podem ser os juízes do limite da crítica à religião



por Paulo Jonas de Lima Piva

Mesmo com tantos avanços científicos e tecnológicos ainda vivemos num mundo em que as pessoas acreditam em divindades, livros sagrados, messias, espíritos, vida após a morte e capetas. Por outro lado, há muitos que não acreditam. Para administrar tal discrepância, a tolerância mostrou-se o melhor caminho no mundo secularizado e pós-teocêntrico. E como parte constituinte do valor da tolerância está o direito de crítica aos dogmas religiosos - aliás, um grande avanço civilizacional -, o qual inclui o humor como uma de suas formas.

Criticar dogmas religiosos, dentre eles seus personagens, é bem diferente de ofender o direito de fé das pessoas. Obviamente é de se esperar que nos sintamos incomodados de algum modo quando nossos dogmas são alvejados por críticas muitas vezes duras. Aí o problema é de quem se ofendeu com as críticas aos dogmas e não de quem critica os dogmas dessa fé. Pois se a crítica deixar se levar pelas reclamações dos carolas, pela sensibilidade da paixão dos religiosos, como quer o papa Francisco, o pensamento crítico simplesmente irá se atrofiar. Portanto, é fundamental que insistamos: criticar os dogmas religiosos, seja por meio de argumentos sisudos, seja por meio do humor, é diferente de insultar o direito de fé dos religiosos. E se estes se sentirem ofendidos com as críticas sisudas ou sarcásticas aos dogmas da sua religião, o problema é do religioso que ainda não se preparou psicologicamente para viver numa sociedade pluralista. O que é inaceitável é que os religiosos estabeleçam os limites dessa crítica, como quer fazer o papa, pois são parte diretamente interessada na questão.
*opensadordaaldeia

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