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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 15, 2011

Battisti já avista a luz no fim do túnel


Celso Lungaretti 
Cerca de 300 pessoas compareceram nesta 5ª feira (14) à PUC/SP, palco daquele que deverá ser o último debate sobre o Caso Battisti durante o período de prisão do escritor italiano no Brasil.
O senador Eduardo Suplicy informou que o procurador geral da República, Roberto Monteiro Gurgel, deverá entregar na próxima semana seu parecer, último detalhe pendente para que seja marcada a sessão na qual o Supremo Tribunal Federal apreciará a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de rechaçar definitivamente o pedido de extradição italiano.
Nos circulos bem informados, é dado como favas contadas que, apesar da faina obsessiva do ministro Cezar Peluso para tentar reverter uma decisão juridicamente perfeita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a maioria dos ministros não acompanhará o presidente do STF nessa aventura  institucional de consequências imprevisíveis. O equilíbrio de Poderes vai ser mantido.
Então, a única dúvida sobre o futuro de Battisti é quanto à sua permanência ou não no Brasil, depois que o STF reconhecer a legitimidade da decisão presidencial: o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, avaliou que ele se tornará imediatamente um estrangeiro em situação irregular no nosso país e “vai ter que ou buscar regularizar-se — ou seja, obter um visto de permanência no Brasil — ou ir para outro país”.
Aguardemos os próximos e emocionantes capítulos desta novela que Cezar Peluso e Gilmar Mendes vêm mantendo arbitrariamente no ar há quatro anos.
Eles o fazem cometendo gritante abuso de poder, pois, pela lei e pela jurisprudência, a pendenga deveria ter sido encerrada em janeiro/2009, com a decisão do ex-ministro Tarso Genro de conceder refúgio a Battisti; e mais ainda em dezembro/2010, quando o ex-presidente Lula deu a palavra final do Estado brasileiro.
Aquilo a que estamos assistindo em 2011 é uma das páginas mais vergonhosas do Judiciário brasileiro em todos os tempos: o sequestro de um cidadão por parte de quem mais obrigado está a cumprir e fazer cumprir as leis deste país, só lhe cabendo interpretá-las, não as transgredir.

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