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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 14, 2011

Eric Hobsbawm: - "Lula ajudou a mudar o equilíbrio do mundo".

Lula continua em sua intensa agenda internacional. Na quarta-feira encontrou-se em Londres com o Eric Hobsbawm, historiador britânico e um dos mais importantes intelectuais da atualidade, ainda na ativa aos 94 anos. É autor de livros clássicos como "A Era das Revoluções", "A Era do Capital", "A Era dos Impérios" e "A Era dos Extremos".

Lula e Hobsbawm foram convidados pela Organização Não-Governamental britânica OXFAM para uma conferência sobre rumos para diminuição da desigualdade social no mundo. Antes disso, se reuniram na casa embaixador brasileiro Roberto Jaguaribe para uma conversa entre companheiros.

Hobsbawm elogiou muito Lula ao falar com a imprensa após o encontro:

"Lula ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas... fez um trabalho maravilhoso não somente para o Brasil, mas também para a América do Sul... Eu o conheci primeiro em 1992, muito tempo antes de ser presidente. Desde então, eu o admiro. E, quando ele virou presidente, minha admiração ficou quase ilimitada. Fiquei muito feliz em poder vê-lo de novo."

Sobre o novo papel de Lula, o historiador disse:

"... claramente Lula está ciente de que entregou o cargo para um outro presidente e não pode parecer que está no caminho desse novo presidente... Acho que Lula deve se concentrar em diplomacia e em outras atividades ao redor mundo. Mas acho que ele espera retornar no futuro. Tem grandes esperanças para [tocar] projetos de desenvolvimento na África, [especialmente] entre a África e o Brasil. E certamente ele não será esquecido como presidente."

A respeito da presidente Dilma Rousseff, Hobsbawm disse ainda não conhecê-la bem, mas tem boas expectativas:

"É extremamente importante que o Brasil tenha o primeiro presidente que nunca foi para a universidade e venha da classe trabalhadora e também seja seguido pela primeira presidente mulher. Essas duas coisas são boas. Acredito, pelo que ouço, que a presidente Dilma tem sido extremamente eficiente até agora, mas até o momento não tenho como dizer muito mais".

Palestra para empresários

Nesta quinta-feira (14), Lula faz o trabalho profissional, dando uma palestra para empresários a convite da empresa Telefonica, em Londres. O tema é perspectivas de investimento no Brasil e sobre o fortalecimento da democracia na América do Sul. De certa forma Lula une o útil (o trabalho remunerado) ao agradável: falar bem do Brasil e contribuir para criar empregos aqui.

Prêmio e encontro com chefe de governo

Depois, ele embarca para a Espanha, onde receberá um prêmio da Prefeitura de Cádiz na sexta e, no sábado, se reúne com o primeiro-ministro José Luis Zapatero. À tarde, o descanso do guerreiro: aproveita para assistir ao jogo de futebol entre Barcelona e Real Madrid.

Lula: 'Todos brasileiros são do povão'


O ex-presidente Lula comentou  em Londres, nesta quinta-feira, as recentes declarações de Fernando Henrique Cardoso. Em artigo publicado nesta semana, FHC escreveu que se os tucanos continuarem tentando dialogar com o "povão", acabarão "falando sozinhos". Na opinião dele, o PSDB deve investir "nas novas classes médias".

Para Lula, as afirmações foram incompreensíveis. "Eu, sinceramente, não entendi o que ele quis dizer. Nós já tivemos políticos que disseram preferir cheiro de cavalo do que de povo. Agora, tem um ex-presidente que fala para não ficar atrás do povão, esquecer o povão", disse o petista, citanto declaração do general João Batista Figueiredo, o último presidente durante a ditadura militar.

Lula foi além, e disse: "Não sei como alguém que estudou tanto, depois diz que quer esquecer do povão. O povão é a razão de ser do Brasil. E do povão fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres, porque todos são brasileiros".

Oposição

Lula disse que o PT saiu ainda mais fortalecido das últimas eleições e que isso está incomodando a oposição. No entanto, ressaltou que isso faz parte do processo democrático e lembrou que também já esteve do lado enfraquecido. "O governo não engoliu a oposição. O que aconteceu é que ele saiu mais forte do processo eleitoral. Mas isso é assim mesmo. Eu já fui oposição com apenas 16 deputados. Ou seja, também já fui pequeno"

Lula ainda declarou que "a oposição precisa saber que o povo brasileiro não aceita mais uma oposição vingativa, com ódio, negativista. O que o povo brasileiro quer é gente que pense com otimismo no Brasil. Afinal de contas, a gente conquistou um ponto de auto-estima que não pode recuar mais. E é isso o que a oposição não compreende".

Discurso

Lula discursou nesta manhã na capital do Reino Unido para investidores e acionistas do Grupo Telefonica. Durante o evento, Lula destacou as oportunidades de investimento na América do Sul e o desempenho da economia brasileira nos últimos anos.

Sobre a escalada da inflação, o ex-presidente disse não estar preocupado e destacou que a meta de 4,5% estabelecida em seu governo prevê margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo. "Por isso estamos dentro da meta e a presidenta Dilma já tomou as medidas para controlá-la. Não tenho medo que a inflação volte", garantiu.

Lula deixa a capital britânica no início da tarde de hoje com destino a Espanha. No país, ele recebe o prêmio Libertad na sexta-feira. Na sequência, terá encontros privados com o presidente do Grupo Telefonica, Cesar Alierta, e com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Ele fica em Madrid até sábado e vai acompahar a partida entre Real Madrid e Barcelona, no estádio Santiago Bernabéu, pelo Campeonato Espanhol. Lula embarca de volta para o Brasil na mesma noite.
*osamigosdopresidentelula

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