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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 04, 2011

Crimes da "Veja" acordam o PT

O que seria apenas mais uma investida da revista VEJA, na cruzada do grupo do Millenium para manter o governo Dilma contra a parede e demonizar Lula, José Dirceu e o PT, pode ter se transformado em um elemento detonador de uma reação do partido contra a partidarização de veículos de comunicação, que a sua militância vem cobrando faz tempo.
O congresso do PT, realizado nesse final de semana em Brasília, aprovou resolução que defende a regulamentação de mídia e o fim dos monopólios de meios de comunicação, que no Brasil é composto por poucas famílias. Embora ninguém fale em represália, os recentes acontecimentos referentes à “reportagem” da revista VEJA, que usou de métodos criminosos para obter imagens com o intuito de transformar José Dirceu em vilão perpétuo, mexeu com os brios dos petistas, que decidiram reafirmar o seu apoio pelo projeto que Franklin Martins elaborou no segundo mandato de Lula.
Dilma e Lula foram aclamados como de costume, porém nesse ano foi mais intensa a recepção ao petista José Dirceu, fortalecido que sai do episódio do Naoum Plaza Hotel. Os discursos se convergiram sobre a necessidade de regulamentação e críticas à partidarização dos principais veículos de comunicação foram ouvidas quase em uníssono.
A reação da velha mídia é para lá de previsível, repetem como um mantra a palavra “controle” como se impedir propriedade cruzada e concentração do mercado fosse modo de censura. Eles se apóiam na crença que assassinando o contraditório podem impor suas falácias com maior facilidade, mas não resistem a meia hora de debate. Logo eles que deram sustentação à ditadura militar, e consequentemente à censura, a perseguição política, à prisão injustificada, à tortura, ao assassinato e desaparecimento de brasileiros.
O posicionamento do PT em favor do projeto de regulamentação de mídia é um bom sinal, mas sendo o mais realista possível, não garante que o projeto vai à frente e emplaque. A gente tem que lembrar que o projeto do Franklin repousa na gaveta de Paulo Bernardo, que tem dado declarações muito vagas a respeito do interesse do governo em levá-lo adiante. Dilma não tem comprado brigas com a imprensa como fez Lula, embora nesse congresso tenha verbalizado algumas críticas mais contundentes. A posição do governo ainda é uma incógnita, no entanto tenho que reconhecer que as declarações mais enfáticas de Gilberto Carvalho ao defender o projeto, podem sinalizar uma guinada positiva.
Acontece que mesmo com o apoio do PT e com o aval de Dilma, a caminhada para a aprovação no congresso nacional promete ser uma das mais difíceis. Fora o PT, o pequeno PCdoB, parte do PDT e nenhuma certeza do PSB, os demais partidos da base são compostos por políticos profissionais pouco afeitos a confrontos com grupos midiáticos, muitos deles dependem desses veículos para chegar a seus eleitores. A briga é de partidos mais à esquerda que não tem maioria para aprovar projetos mais ousados e precisam convencer moderados. A causa de esquerda não garante a adesão do PSOL, que tem se alinhado em oposição frontal a qualquer proposta do governo.
A alopragem da VEJA, além de arranhar ainda mais a sua desgastada imagem e render-lhes um processo criminal e outro civil que promete desfalcar o orçamento dispensado pela revista para pagar indenizações pelas mentiras que escreve, serviu para aumentar a pressão da militância sobre o governo, sobretudo o ministro das comunicações, pelo encaminhamento do marco regulatório. A reportagem que a revista produziu não acrescenta nada que possa ser usado contra o Dirceu, é mais uma peça de ficção travestida de jornalismo que só serve para alimentar a sede reacionária de uma minoria despeitada.
A conclusão é que a revista se queimou, cometendo crimes por nada, um tiro no pé. As reações descabeladas de blogueiros da revista dão uma mostra de como sentiram o golpe. Aos papagaios da VEJA espalhados nos outros veículos restou o contorcionismo para justificar a ação da revista e o constrangedor silêncio frente aos crimes contra a democracia. A democracia vira uma palavra suja na boca e no punho dessas pessoas.
*comtextolivre

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