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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 23, 2011

Intelectuais israelenses apoiam reconhecimento do Estado Palestino

BBC


Líder do movimento estudantil francês em 1968, Daniel Cohn-Bendit, elogiou decisão de Abbas
Dezenas intelectuais de Israel participaram nesta quinta-feira, em Tel Aviv, de uma manifestação pedindo o reconhecimento do Estado Palestino e advertindo de que o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu "está levando os cidadãos do país a uma catástrofe".
O grupo - composto por escritores, cientistas e artistas - se reuniu em frente ao prédio onde foi assinada, em 1948, a declaração da independência de Israel, na Boulevard Rotschild, no centro de Tel Aviv.
O protesto ocorreu um dia antes do discurso do presidente palestino, Mahmoud Abbas, na ONU, no qual deverá pedir o reconhecimento do Estado Palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.
Os manifestantes divulgaram um abaixo-assinado apoiando o reconhecimento da Palestina e criticaram Netanyahu. “Dante de nossos olhos estarrecidos ocorre uma cena inacreditável – o premiê de Israel conduz os cidadãos para Massada", afirmaram, em referência ao suicido coletivo cometido em 1973 por guerreiros judeus que lutavam contra o Império Romano.

Maio de 68

Um dos participantes mais famosos no protesto era o líder do movimento estudantil na França em 1968, Daniel Cohn-Bendit.

Este governo está nos levando para um desastre. Acredito na igualdade entre os seres humanos e fico indignado com o fato de que nosso governo ignora a necessidade dos palestinos de ter um Estado independente".


Em entrevista à BBC Brasil, ele elogiou a decisão de Abbas de recorrer à ONU, pois com essa medida o presidente palestino "está obrigando a comunidade internacional a se mexer".
"Depois do pedido de Abbas algo terá que acontecer e tudo é possível, tanto o mal como para o bem. Pode haver violência, mas também pode haver uma retomada das negociações", disse.
Cohn-Bendit disse ainda que "os palestinos têm direito de ter o Estado deles exatamente como os israelenses têm direito a seu Estado".
Na opinião do político, que hoje é membro do Parlamento Europeu, não são os palestinos que apresentam um entrave às negociações de paz, e sim o governo de Netanyahu.

Salvar vidas

Durante o protesto, o astrofisico da Universidade de Tel Aviv, Elia Leibowitz, disse à BBC Brasil que resolveu participar "para poupar vidas".
"Se você colocar uma pluma na nascente de um rio ela vai acabar chegando até o mar. Não é mais simples colocar a pluma diretamente no mar?", questionou Leibowitz, acrescentando que "o Estado Palestino vai ser fundado, a única questão é quantos mortos ainda haverá até que isso aconteça".
"Quando são seres humanos e não plumas que fluem no rio, muitos morrem no caminho", disse.
Já o artista gráfico David Tartakover - ganhador do Prêmio Israel, a láurea mais importante outorgada pelo Estado - se mostrou mais pessimista.
Alex Levac (centro) e David Tartakover (esq.) são otimistas quanto ao futuro de Israel
"Estes deveriam ser dias de festa para nós os israelenses, com a declaração do Estado Palestino, mas infelizmente, por causa dos interesses eleitorais de Obama, estamos em uma situação sombria", afirmou o artista, em referência ao discurso proferido pelo presidente americano na ONU, em que se opôs à aceitação do pedido de reconhecimento ao Estado Palestino.
O fotógrafo Alex Levac, também ganhador do Premio Israel, se mostrou ainda mais pessimista..
"Este governo está nos levando para um desastre. Nasci na Palestina, na época do Mandato Britânico, mas a sede territorial e messiânica que vigora aqui mudou completamente a realidade. Acredito na igualdade entre os seres humanos e fico indignado com o fato de que nosso governo ignora a necessidade dos palestinos de ter um Estado independente".

Tensões

Em seu discurso, o ex-diretor geral do ministério das Relações Exteriores, Alon Liel, se dirigiu ao presidente Abbas.
"Vá em frente, Abu Mazen (apelido do presidente palestino), não perca a esperança por causa do discurso eleitoreiro de Obama, vá direto à Assembleia Geral da ONU e vocês, os palestinos, poderão obter 150 votos em seu favor".
"Não desista, Abu Mazen, a História vai julgar os países que votarem contra o reconhecimento do Estado Palestino, inclusive Israel", acrescentou Liel.
O governo israelense afirma que o reconhecimento do Estado Palestino aumentaria as tensões regionais e não resolveria as questões bilaterais pendentes.


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