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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 14, 2011

Em público, Dilma chama atenção de Kassab por falta de creches em São Paulo

Cerimônia em São Paulo em que Dilma anunciou parcerias com Alckmin
e chamou atenção para metas não cumpridas por Kassab
(Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
A presidenta Dilma Rousseff aproveitou o evento desta terça-feira (13) no Palácio dos Bandeirantes para chamar a atenção publicamente do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM, a caminho do PSD), sobre a necessidade de fazer investimentos em creches. Faltam 147 mil vagas em creches, segundo a própria Secretaria Municipal de Educação.
Durante o discurso a respeito da liberação de recursos para o trecho Norte do Rodoanel, a presidenta fez questão de se dirigir a Kassab ao afirmar que o Ministério da Educação vai abrir um processo de seleção e de avaliação do atendimento de crianças em 136 municípios brasileiros. “Essa seleção indica São Paulo como uma das áreas com mais necessidade de creches, a cidade de São Paulo”, ponderou.
De acordo com levantamento da Rede Nossa São Paulo, que acompanha o cumprimento das metas estabelecidas por Kassab para sua gestão, o patamar relativo às creches está longe de ser atingido. O prefeito prometia, em 2009, ter 100% das crianças cadastradas em creches. Além disso, a ONG detectou que regiões de alta vulnerabilidade social não estão sendo atendidas a contento, com ritmo mais lento de execuções de obras e de cadastramento de entidades capacitadas a oferecer o serviço.
A presidenta pediu ainda a participação de Kassab na segunda fase do programa Minha Casa, Minha Vida, de concessão de crédito imobiliário para famílias de baixa e média renda. Dilma lembrou que existe na cidade uma grande dificuldade em encontrar terrenos para as construções. As construtoras indicam que o ritmo aquecido do mercado imobiliário torna cada vez mais difícil atender ao teto estabelecido pelo projeto.
Durante o governo Lula, chegou a haver críticas abertas do ex-presidente e do então assessor especial da Presidência, Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral, à política habitacional de Kassab. Ao ouvir queixas de catadores de materiais recicláveis em relação ao prefeito em dezembro de 2010, Lula lamentou ter de receber todos os anos o mesmo quadro, cobrou publicamente de Kassab que tratasse com carinho os mais pobres e disparou: "O problema do Brasil é que muita gente continua agindo como agia 20 anos atrás, sem se dar conta de que o país mudou".
Na ocasião, Carvalho arrematou, indicando que a fala de Lula se devia a uma certa impaciência pela inação do prefeito em tentar encontrar soluções, e completou que a mentalidade geral dos governantes brasileiros é de fazer desaparecer com quem provoque algum incômodo.
Na nova gestão, Kassab fez fortes gestos de aproximação ao Palácio do Planalto. Ele deixou o DEM para fundar o PSD, sigla que diz não ser “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”, e que não fará, a priori, oposição ao governo federal nem ao governo estadual. Nesta terça-feira (13), Kassab fez um enxuto discurso no qual ressaltou a importância da cooperação entre as diferentes esferas de governo.
João Peres
Na Rede Brasil Atual
*comtextolivre 

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