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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, setembro 01, 2011

Festa de despedida

Maluf: início na ditadura, fim na democracia
(Foto: ABr)
Paulo Maluf está prestes a completar 80 anos e para comemorar a data prepara uma festa de arromba. Daquelas que não se esquecem tão cedo: o "Parabéns a Você" terá a presença - que luxo! - da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e do pianista Arnaldo Cohen. E os convidados serão recebidos na Sala São Paulo, lar da Osesp e templo da música denominada "erudita" em São Paulo.
Por falar em convidados, é quase certa a presença do vice-presidente Michel Temer, que deverá ir acompanhado de sua bela esposa, Marcela, e do governador Geraldo Alckmin, que certamente irá à festança com a primeira-dama paulista, a sempre chique dona Lu.
A noite promete. Maluf é daquelas pessoas que sabem como cativar os outros. Construiu a sua carreira política dessa maneira, se aproximando dos donos do poder desde cedo - é bom lembrar que o começo de tudo foi na época da ditadura militar. Subiu rapidamente - presidente da Caixa Econômica Federal, prefeito de São Paulo, secretário dos Transportes, governador, deputado federal...
Seu estilo, uma espécie de populismo conservador, caiu bem ao gosto dos paulistas. O "malufismo" marcou época e nem as dezenas de denúncias de malversação do dinheiro público e de superfaturamento de obras conseguiram abalar a sua popularidade. Seus eleitores se apropriaram do bordão de outro popular político paulista que o antecedeu, Adhemar de Barros: Maluf rouba, mas faz, diziam.
Sua decadência ocorreu na mesma proporção em que a democracia brasileira foi se consolidando. Maluf, definitivamente, não se deu bem com as mudanças. Sua imagem de político empreendedor e competente tocador de obras, migrou rapidamente para a de um homem público como tantos outros que sempre existiram por aí, preocupado apenas em aumentar a sua fortuna pessoal.
Hoje, ninguém duvida que o mandato legislativo é apenas um escudo contra os muitos processos a que responde na Justiça brasileira e internacional.
Sua festa de aniversário é emblemática: vai reunir o que de mais ultrapassado existe na política brasileira, num local frequentado por uma elite que se recusa a entender que o Brasil mudou e não admite mais a divisão entre Casa Grande e Senzala que durante muito tempo imperou por aqui.
A festa de sábado na Sala São Paulo pode vir a ser uma espécie de Baile da Ilha Fiscal paulistano, com a orquestra transformando o "Parabéns a Você" numa evocativa valsa, numa esquecida polca, numa melodia que lembrará aos ilustres convidados o tempo que se foi, o tempo que passou e - esperamos - não volta mais.
*comtextolivre

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