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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 18, 2011

Tudo, e duma só vez

Quarta-feira, uma coligação de organizações pacifistas israelitas publicou uma lista de cinquenta razões pelas quais israel deveria apoiar um Estado palestiniano.
Mesmo concordando com apenas cinco delas, não seriam suficientes? Qual exactamente a alternativa agora que os céus estão a fechar-se à nossa volta?

O que vamos dizer dizemos na próxima semana na ONU? O que poderíamos dizer?
Se estivéssemos na Assembleia Geral ou no Conselho de Segurança, deveríamos expor nossa completa nudez: israel não um Estado palestiniano. Ponto.
E não há único argumento para justificar a actual situação o negar um reconhecimento internacional do Estado.
[...]

A próxima semana será o momento da verdade para israel, ou mais precisamente o momento em que o seu engano será revelado ao público. Tanto o presidente, como o primeiro-ministro ou o embaixador nas Nações Unidas, seriam incapazes de ficar diante dos representantes das Nações do mundo e explicar a lógica de israel, nenhum deles seria capaz de convencê-los de que há algum mérito na posição israelita.

Trinta anos atrás, israel assinou um acordo de paz com o Egipto no qual dizia de "reconhecer os direitos legítimos do povo palestiniano" e estabelecer uma autoridade autónoma nos territórios ocupados e na Faixa de Gaza dentro de cinco anos. Nada disso aconteceu.

Dezoito anos atrás, o primeiro-ministro de israel assinou os Acordos de Oslo, com os quais israel empenhava-se para iniciar as conversações para chegar a um acordo final com os Palestinianos, dentro de cinco anos. Também isso não aconteceu. A maioria das disposições do acordo, desde então, têm falhado, na maioria dos casos por causa de israel. O que poderá dizer acerca de tudo isso apoiante de israel nas Nações Unidas?

Durante anos, israel disse que Yasser Arafat era o único obstáculo para a paz com os Palestinianos.
Arafat está morto, e mais uma vez nada aconteceu.
israel disse que se o terrorismo tivesse parado, uma solução teria sido encontrada.
O terrorismo parou, e ainda nada.

As desculpas de israel tornaram-se cada vez mais vazia e a nua verdade está cada vez mais visível: israel não quer chegar a um acordo de paz que envolva o estabelecimento dum Estado palestiniano. A coisa não pode ser ainda ocultadas pelas Nações Unidas. E o que israel e Netanyahu podem esperar dos Palestiniano? [...]

A verdade é que os Palestinianos têm apenas três opções, não quatro: rendição sem condições e prosseguir com a  ocupação israelita ao longo de mais 42 anos; lançar uma terceira intifada; ou tentar mobilizar o mundo.
Escolheram a terceira opção, o menor dos males a partir da perspectiva israelita. O que poderia afirmar israel acerca disso, que é um movimento unilateral, como disseram os Estados Unidos? O que resta aos Palestinianos? A arena internacional. E se nem isso conseguirá salva-los, então haverá outra revolta do povo nos territórios.

Os Palestinianos nos Territórios Ocupados agora são três milhões e meio, e não vão viver para outros 42 como marginalizados, sem direitos civis. Conseguirão Netanyahu e Shimon Peres ser capazes de explicar porque os Palestinianos não merecem o  seu próprio Estado?


Este não é um texto dum blogueiro antissemita, mas um texto escrito per israelitas, publicado por Gideon Levy num diário israelita, Haaretz.

Há, também no interior de israel, pessoas que não entendem.
Não entendem, por exemplo, a política aparentemente "suicida" do primeiro-ministro.

Em poucos dias, israel conseguiu prejudicar os relacionamentos com a Turquia, antigo aliado, com o Egipto, e atacar, sem fornecer justificação nenhuma, os territórios ocupados, matando 15 pessoas.

Cada vez mais isolado, israel não apenas não revê as próprias posições como até exaspera os tons: Netanyhau chama em causa ameaças existenciais e utiliza uma política de arrogância para instrumentalizar o medo.

Parece uma atitude sem sentido.
Mas, talvez, haja duas possíveis interpretações.

A primeira vê israel aumentar o preço do reconhecimento do Estado palestiniano. Na próxima semana será complicado impedir tal reconhecimento nas Nações Unidas: israel está ciente disso e pode exasperar os tons agora para obter mais depois, como "compensação" pela derrota internacional.

Mas é uma hipótese fraca.
Se o medo de israel estivesse relacionado com a decisão das Nações Unidas, Tel Aviv deveria ter procurado alguns entendimentos com os outros Países da área médio-oriental. E não, como fez, um isolamento ainda maior.

Por isso sobra a segunda hipótese, infelizmente: preparação em vista dum novo conflito. Talvez não imediato, mas algo para o qual é bem preparar-se, pois há muitas coisas que têm de ser "ajeitada" na zona:
os tediosos Palestinianos;
os velhos aliados, os Turcos;
os novos islâmicos no poder, o Egipto;
o aqui-inimigo, o Irão;
o velho inimigo, a Síria;
as bombas que continuam a explodir, o Iraque.

Poderia ser possível encarar um problema de cada vez, mas israel não parece desejosa de seguir esta estrada, como demonstram os recentes acontecimentos na Turquia, na Palestina e no Egipto.

Não seria mais prático encontrar uma única resposta para resolver tudo e duma só vez?
Não é verdade que as guerras fazem também milagres nos casos de economias em dificuldades?

(Nota final, tomamos nota: agora que a guerra da Líbia está "resolvida", eis que aparece um novo caso, óptimo para manter elevada a tensão internacional. Tudo segundo os planos...)


Ipse dixit.
*InformaçãoIncorreta

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