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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 02, 2013

O Miojo no Enem




















Concordo que a complacência perante as liberalidades tomadas nas redações do Enem precisa ser discutida. A ruptura dos padrões formais socialmente aceitos (ou impostos) e da linguagem dita “culta” pressupõe um domínio prévio desses modelos. E também implica o discernimento das circunstâncias mais apropriadas para os diferentes tipos de manifestação escrita.

O nível da formação dos estudantes que ingressam na universidade é baixíssimo, e em muitos casos chega ao completo despreparo para qualquer atividade acadêmica. Professores de faculdades são obrigados cada vez mais a instruir seus alunos em rudimentos que deveriam ter sido assimilados já no colegial, senão antes. O problema, gravíssimo e subestimado, atinge alunos oriundos de todas as classes sociais. Boa parte da tolerância com os supostos gestos de rebeldia juvenil pretexta lutar contra os enquadramentos para não enfrentar essa questão.

Mas precisamos ter em conta que o fracasso educacional brasileiro inclui o sistema tradicional de vestibulares e toda a economia cínica e embrutecedora que se aproveita dele. É um esquema pesadíssimo de interesses financeiros que possui respaldos inclusive na mídia corporativa – e não é por acaso que a sanha desqualificadora aplicada contra o exame federal não se repete nos similares privados, igualmente repletos de estranhezas.

O Enem deve ser aprimorado, mas continua sendo a alternativa possível para um futuro menos trágico na formação da juventude.
*Guilhermescalzilli

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