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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 23, 2013

SOBRE JORNALISMO, JORNALISTAS E BARÕES


Por que os jornalistas têm fama tão ruim? 
Por Paulo Nogueira 
Onde surgiram os jornais? E por quê? E como nós, jornalistas, ficamos tão malafamados? Bem. 
O crédito da inovação é geralmente concedido aos italianos de Veneza, no século XVI. O governo local decidiu publicar um jornal para manter os cidadãos a par dos acontecimentos. 
Era conhecido como “gazetta”, o nome de uma moeda barata veneziana. O jornal, mensal, custava uma “gazetta”. 
Os primeiros jornalistas eram chamados, na Itália, de “menanti”, uma derivação da palavra latina “minantis”, que significa “ameaçadores”. 
A fama dos jornalistas vem de longe, como se vê. 
A novidade logo se espalharia pelo mundo. 
No Reino Unido, o primeiro jornal apareceu na época em que o país estava sob a ameaça da Armada da Espanha, em 1588. 
O nome era “Mercúrio Inglês”. Como se deu em Veneza, o “Mercúrio Inglês” foi obra do governo, no caso o da rainha Elizabeth. O interesse era inflamar os ingleses contra os espanhóis. O jornal inventou coisas como a intenção da Espanha de matar a rainha. Também disse que os espanhóis levavam nos navios instrumentos de tortura para aplicar contra os ingleses. 
A palavra inglesa para jornal se transformou. Era, inicialmente, “news-book”, assim mesmo, com hífen. Depois, virou “newspaper”. 
Os franceses contestam que foram os italianos que inventaram os jornais. Segundo eles, o primeiro jornal foi feito por um médico de Paris, Théophraste Renaudot, em 1632. Para entreter seus pacientes, entre os quais estava Luís XIII; ele colecionava histórias. 
Num determinado momento, percebeu que sua vida ficaria mais fácil se as imprimisse e distribuísse aos pacientes. 
Logo o jornal foi aberto para o público em geral. O nome — “La Gazette”, como os jornais de Veneza – sugere que os italianos chegaram antes que os franceses à constatação de que havia mercado para notícias. 
No Brasil, apenas em 1808 surgiria o primeiro jornal, o “Correio Brasiliense”, impresso em Londres e distribuído na colônia por Hipólito José da Costa. 
Pouco depois, ainda em 1808, apareceria o primeiro jornal impresso no Brasil. 
O nome remetia aos venezianos: “Gazeta do Rio de Janeiro”. 
Para que você tenha uma ideia de nossa atraso, no começo dos anos 1800 já havia nos Estados Unidos 850 jornais. 
Chegamos, como de hábito, tarde – mas nossos jornalistas rapidamente conquistariam a fama de “menanti”. 
Um novo capítulo se abriria quando entraram em cena, mais tarde, os chamados barões da imprensa, no século XIX. A má fama apenas se acentuaria. 
John Stuart Mill, um dos grandes filósofos do liberalismo, disse que os jornalistas eram uma categoria comparável à de “porteiros de bordéis”, tais e tantas “as mentiras e a hipocrisia” a que a profissão supostamente nos obriga. 
Um dos primeiros barões da imprensa, o americano James Gordon Bennett II, do Herald, dizia que era “uma prostituta, como todos os jornalistas”. 
Bennett II era tão extravagante que urinou no piano em sua festa de noivado, razão suficiente para a noiva romper. 
Uma vez, em novembro de 1874, seu jornal publicou um texto que dizia que animais selvagens tinham escapado do zoológico de Nova York. Se você fosse até o fim, veria que era piada. Mas pouca gente foi, e os novaiorquinos viveram momentos de terror, aumentado porque Bennett II pôs nas ruas falsos caçadores de feras. 
O barão da imprensa Bennett dizia a seus subordinados que o leitor era ele
O barão da imprensa Bennett dizia a seus subordinados que o leitor era ele 
Bennett tinha um iate luxuoso com três suítes: uma para cada amante que levava e a terceira, com ar condicionado, para uma vaca que garantia leite fresco. 
Ele acabou pronunciando a quintessência da lógica hierárquica dos barões. 
Disse uma vez a seus jornalistas: 
“Eu sou o leitor. Vocês têm que agradar a mim.” Tenho em casa uma charge na qual um professor diz aos pais de um aluno que seu filho é maldoso, mentiroso, dissimulado – “todos os atributos, enfim, para se dar bem no jornalismo”.  
Os primeiros barões – sobretudo nos Estados Unidos e na Inglaterra — faziam dinheiro chantageando poderosos. 
Ameaçavam publicar coisas horríveis caso seus anseios financeiros não fossem satisfeitos. Tanto quanto jornalistas, eram chantageadores. 
Era uma prática que logo se globalizou. 
Assis Chateaubriand, o primeiro grande barão brasileiro da imprensa, montou o Masp por meio de expediente parecido. 
Doações de grandes quadros vieram quase sempre de achacamento. 
Empresários paulistas sofreram com Chateaubriand. 
Uma geração à frente da de Chateaubriand, outro império de mídia foi construído com meios não exatamente elogiáveis: a Globo
Chateaubriand achacou pela intimidação; Roberto Marinho viu na ditadura militar a chance de crescer muito além do jornal paroquial que herdara e carregara até ter mais de 60 anos. 
Ofereceu apoio aos generais, e estes lhe deram televisão, financiamentos, vantagens fiscais e outras facilidades que são a base das Organizações Globo. 
Como Bennett, Roberto Marinho sempre deixou claro que ele era o leitor. 
Isso significa que, na prática, ele está virtualmente vivo entre nós. Cada jornalista, cada articulista da Globo está, ainda hoje, escrevendo para Roberto Marinho, representado por seus três filhos. 
Não é das mais edificantes, definitivamente, a história do jornalismo – nem fora e nem, tampouco, no Brasil. 
O que pode mudar uma velha história viciada de interesses privados misturados a interesses alegadamente públicos é o jornalismo digital. É nessa hipótese que o Diário acredita. (Fonte: Diário do Centro do Mundo,  aqui). 
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Sempre com a tradicional ressalva: há exceções - que confirmam a regra. Janio de Freitas, da Folha, por exemplo... 
POSTADO POR DODÓ MACEDO
*cutucandodeleve

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