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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 17, 2013

Longe de Boston, em países como Paquistão e Afeganistão, o horror é diário

Longe de Boston, em países como Paquistão e Afeganistão, o horror é diário
Você vai ver milhões de vezes as imagens da lastimável tragédia da Maratona de Boston. 
As emissoras de televisão vão passar as cenas durante muitos dias, e novos detalhes trarão dor, choque e raiva. 
O que ocorreu é um horror. É uma desgraça. É um absurdo. 
Cada vítima tem que ser lamentada e para sempre lembrada nos esforços pela paz mundial. 
E que as famílias encontrem forças para seguir adiante. 
Mas não se esqueça das pessoas que, longe dos holofotes, longe de todos nós, vivem esta situação pavorosa não ocasionalmente – mas todos os dias. 
As mortes lá se acumulam o tempo todo: crianças, mulheres, velhos. 
Em países como o Paquistão e o Afeganistão, a morte é precedida pela visão aterrorizante de aviões não tripulados que sobrevoam cidades e aldeias quase que ininterruptamente antes de soltar bombas que matam 50 civis para cada terrorista. 
Lamente, lamente muito, os acontecimentos de ontem em Boston. 
Mas reserve um pouco de sua justa indignação para os mortos invisíveis que estão tão longe de você e das emissoras de televisão. 
É possível que, se não fosse tanta a brutalidade vivida cotidianamente naquelas terras tão devastadas, não tivéssemos agora que nos amargurar com as imagens de Boston que veremos tantas vezes nestes dias. 
(Publicado no DCM) 
do Blog COMUNICA TUDO
*cutucandodeleve

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