Por um prazer sem couraças
Tensões acumuladas na pelve reduzem ato sexual a algo como um alívio. Há caminhos para superar este empobrecimento de emoções
Kátia Marko, editora da coluna Outro Viver | Imagem: Pablo Picasso, Dora e o Minotauro (1936)
“Seu
ato sexual e o sexo tântrico são profundamente diferentes. Seu ato
sexual é para se aliviar, é como um bom espirro. A energia é jogada fora
e você fica aliviado. Isso é destrutivo, não é criativo. É bom,
terapêutico: ajuda você a relaxar, nada mais.” Quando eu li esta
afirmação do mestre indiano Osho pela primeira vez, veio aquela
resistência inicial. Mas com o passar do tempo, na busca por mais
consciência da minha sexualidade, pude comprovar que desfrutamos o
mínimo do nosso potencial sexual.
Pesquisas
amplamente divulgadas apontam que a média da duração de uma relação
sexual é de 23 minutos. No Brasil, a média é de 21 minutos, sendo que 15
minutos são de preliminares. Isto demonstra que a maioria dos homens
não consegue manter a penetração sem ejacular por mais de 10 minutos.
Podemos dizer então que a ejaculação precoce é mais comum do que
pensamos. O tipo mais admitido é quando o homem ejacula antes do ato
sexual ou logo no início. Mas será que ejacular em 10, 15 ou 20 minutos
também é uma forma de ejaculação precoce? Para compreender isso devemos
entender o sistema energético do ser humano.
A
excitação sexual ativa uma poderosa energia. Muda a temperatura do
corpo, a respiração acelera. Parece que o corpo vai explodir. As
preliminares ativam ainda mais esta energia, e quanto mais ela aumenta,
mais ela nos leva para espaços de prazer, amor, vida, de uma profunda
revitalização. O que acontece é que as tensões corporais, principalmente
da região pélvica, bloqueiam o sistema energético e, desta maneira,
ficamos com pouca capacidade de suportar o alto nível de energia.
Ejaculando, há uma baixa de energia, gerando uma frustração.
Já
quando conseguimos passar dos 40, 45 minutos, uma hora, a energia fica
mais tempo circulando em nosso sistema, revigorando, relaxando,
tornando-o mais vital, propiciando mais prazer. O terapeuta
bioenergético Prem Milan, idealizador da Comunidade Osho Rachana,
explica que o orgasmo é aquele momento antes da ejaculação. “É o momento
em que tua cabeça se perde. São pequenos segundos que podem e devem ser
ampliados porque eles vão te levar para um nível de prazer muito maior.
Mas a energia é tão forte que simplesmente teu corpo não aguenta mais.
Aí vem a ejaculação, como se fosse uma descarga. O teu corpo não
consegue mais suportar tanta energia e tanto prazer. Ejacular alivia. Só
que é apenas um alívio. É a parte mais pobre do prazer.”
Segundo
Milan, algumas pessoas desenvolvem uma ansiedade aguda em situações de
prazer e outras chegam a sentir dor quando a excitação do prazer se
torna muito intensa. “Medo do prazer é medo da dor, não apenas da dor
física que o prazer causa no corpo rígido e contraído, mas também da dor
psicológica da perda, da frustração e da humilhação”.
Há
um outro tipo de orgasmo. Nele, sem ejacular, você não chega ao pico da
excitação, mas no vale mais profundo do relaxamento. “A excitação é
apenas o começo. E uma vez que o homem tenha penetrado, ambos, amante e
amado, podem relaxar. Nenhum movimento é necessário. Eles podem relaxar
num abraço amável. Quando o homem sentir ou a mulher sentir que a ereção
vai ser perdida, então é necessário um pequeno movimento para voltar a
excitação. E depois, um novo relaxamento. Este abraço intenso pode durar
horas, sem ejaculação, e depois ambos podem adormecer juntos. Este é o
orgasmo do vale. Ambos se encontram como dois seres relaxados. Após o
ato sexual tântrico, e mesmo por dias, você se sentirá relaxado – você
se sentirá tranqüilo, à vontade, não violento, sem raiva, não
deprimido”, descreve Osho.
É claro que essa
experiência não se alcança de uma hora para hora e é preciso ultrapassar
vários limites até chegarmos a essa total unidade entre sexo e coração.
Mas acredito ser um caminho que valha a pena.
–
Katia
Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si
mesma. Para ler todos os seus textos publicados em Outras Palavras, clique aqui
*GilsonSampaio
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