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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 04, 2013

Por um prazer sem couraças


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Tensões acumuladas na pelve reduzem ato sexual a algo como um alívio. Há caminhos para superar este empobrecimento de emoções
Kátia Marko, editora da coluna Outro Viver | Imagem: Pablo Picasso, Dora e o Minotauro (1936)
“Seu ato sexual e o sexo tântrico são profundamente diferentes. Seu ato sexual é para se aliviar, é como um bom espirro. A energia é jogada fora e você fica aliviado. Isso é destrutivo, não é criativo. É bom, terapêutico: ajuda você a relaxar, nada mais.” Quando eu li esta afirmação do mestre indiano Osho pela primeira vez, veio aquela resistência inicial. Mas com o passar do tempo, na busca por mais consciência da minha sexualidade, pude comprovar que desfrutamos o mínimo do nosso potencial sexual.
Pesquisas amplamente divulgadas apontam que a média da duração de uma relação sexual é de 23 minutos. No Brasil, a média é de 21 minutos, sendo que 15 minutos são de preliminares. Isto demonstra que a maioria dos homens não consegue manter a penetração sem ejacular por mais de 10 minutos. Podemos dizer então que a ejaculação precoce é mais comum do que pensamos. O tipo mais admitido é quando o homem ejacula antes do ato sexual ou logo no início. Mas será que ejacular em 10, 15 ou 20 minutos também é uma forma de ejaculação precoce? Para compreender isso devemos entender o sistema energético do ser humano.
A excitação sexual ativa uma poderosa energia. Muda a temperatura do corpo, a respiração acelera. Parece que o corpo vai explodir. As preliminares ativam ainda mais esta energia, e quanto mais ela aumenta, mais ela nos leva para espaços de prazer, amor, vida, de uma profunda revitalização. O que acontece é que as tensões corporais, principalmente da região pélvica, bloqueiam o sistema energético e, desta maneira, ficamos com pouca capacidade de suportar o alto nível de energia. Ejaculando, há uma baixa de energia, gerando uma frustração.
Já quando conseguimos passar dos 40, 45 minutos, uma hora, a energia fica mais tempo circulando em nosso sistema, revigorando, relaxando, tornando-o mais vital, propiciando mais prazer. O terapeuta bioenergético Prem Milan, idealizador da Comunidade Osho Rachana, explica que o orgasmo é aquele momento antes da ejaculação. “É o momento em que tua cabeça se perde. São pequenos segundos que podem e devem ser ampliados porque eles vão te levar para um nível de prazer muito maior. Mas a energia é tão forte que simplesmente teu corpo não aguenta mais. Aí vem a ejaculação, como se fosse uma descarga. O teu corpo não consegue mais suportar tanta energia e tanto prazer. Ejacular alivia. Só que é apenas um alívio. É a parte mais pobre do prazer.”
Segundo Milan, algumas pessoas desenvolvem uma ansiedade aguda em situações de prazer e outras chegam a sentir dor quando a excitação do prazer se torna muito intensa. “Medo do prazer é medo da dor, não apenas da dor física que o prazer causa no corpo rígido e contraído, mas também da dor psicológica da perda, da frustração e da humilhação”.
Há um outro tipo de orgasmo. Nele, sem ejacular, você não chega ao pico da excitação, mas no vale mais profundo do relaxamento. “A excitação é apenas o começo. E uma vez que o homem tenha penetrado, ambos, amante e amado, podem relaxar. Nenhum movimento é necessário. Eles podem relaxar num abraço amável. Quando o homem sentir ou a mulher sentir que a ereção vai ser perdida, então é necessário um pequeno movimento para voltar a excitação. E depois, um novo relaxamento. Este abraço intenso pode durar horas, sem ejaculação, e depois ambos podem adormecer juntos. Este é o orgasmo do vale. Ambos se encontram como dois seres relaxados. Após o ato sexual tântrico, e mesmo por dias, você se sentirá relaxado – você se sentirá tranqüilo, à vontade, não violento, sem raiva, não deprimido”, descreve Osho.
É claro que essa experiência não se alcança de uma hora para hora e é preciso ultrapassar vários limites até chegarmos a essa total unidade entre sexo e coração. Mas acredito ser um caminho que valha a pena.
Katia Marko é jornalista, terapeuta bioenergética e uma pessoa em busca de si mesma. Para ler todos os seus textos publicados em Outras Palavras, clique aqui
*GilsonSampaio

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