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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 12, 2014

Estamos na expectativa pela participação do esqueleto-robô que fará um jovem com lesão de medula espinhal dar o pontapé inicial da Copa do Mundo. 

O ex-presidente Lula visitou recentemente o laboratório do projeto Andar de Novo montado na AACD – Associação à Criança com Deficiência, em São Paulo.

O projeto pode ser um salto tecnológico sem precedentes para que pessoas paraplégicos possam voltar a andar, além de destacar nossa área de pesquisa. Mas tem sido alvo de alguns setores insatisfeitos. Entenda o motivo na reportagem do Viomundo:

por Conceição Lemes

Se você pensa que jogo bruto, rasteiras e tentativas de assassinato de reputação são coisas da política, prepara-se para conhecer os bastidores de uma guerra na ciência de ponta. Vai se surpreender como nós.

Divergências são comuns no mundo acadêmico. Fazem parte da evolução do conhecimento científico. Certas disputas, porém, viram carnificina.

Em 12 de junho, na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, em São Paulo, o mundo assistirá ao vivo a demonstração de um salto da ciência: um jovem paraplégico, “vestindo” uma “roupa robótica” (exoesqueleto), dará o chute inaugural na cerimônia.

É apenas a primeira etapa do projeto Andar de Novo, liderado pelo o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis e do qual participam 156 pesquisadores do Brasil, EUA, Inglaterra, França, Suíça, Alemanha, Portugal, Chile, entre outros países.

O objetivo dessa pesquisa, no futuro, é permitir que paraplégicos possam andar novamente.

Porém, Nicolelis e o projeto Andar de Novo estão sendo alvejados por alguns pesquisadores que tentam transformar esse momento histórico da ciência brasileira em algo ruim.

Em 29 de março, reportagem publicada pela Folha de S. Paulo traz críticas ao seu trabalho. Diz a matéria:

Edward Tehovnik, pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN, chegou a trabalhar com Nicolelis, mas rompeu com o cientista, que o demitiu. Ele questiona quanto da demonstração de junho será controlada pelo exoesqueleto e quanto será controlada pelo cérebro da criança.

“Minha análise, baseada nos dados publicados, sugere que menos de 1% do sinal virá do cérebro da criança. Os outros 99% virão do robô”. E ele pergunta: “Será mesmo a criança paralisada que vai chutar a bola?”.

Sergio Neuenschwander, professor titular da UFRN, diz que a opção pelo EEG é uma mudança muito profunda no projeto original. Ele diz que é possível usar sinais de EEG para dar comandos ao robô, mas isso é diferente de obter o que seria o código neural de andar, sentar, chutar etc.

“O fato de ele ter optado por uma mudança de técnica mostra o tamanho do desafio pela frente.”

Engana-se quem acha que por trás desses ataques estejam razões puramente científicas.

Há guerra de egos, inveja do sucesso alheio, brigas pelo poder, disputas por verbas e até motivos ideológicos. Nicolelis vota abertamente em Lula, Dilma e no PT. E os seus pares (a esmagadora maioria) e a mídia não perdoam o seu posicionamento político. Já um dos seus críticos é antipetista, como perceberão mais adiante.

Mergulhamos então na internet. Ouvimos várias pessoas, entre os quais pesquisadores e alunos, para conhecer melhor os pesquisadores entrevistados pela Folha e tentar entender o que está acontecendo.

Miguel Nicolelis é pesquisador e professor da Universidade Duke, nos EUA, e coordenador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), no Brasil.

Em junho de 2011, o IINN-ELS, criado por ele em 2005, passou por uma cisão.

O professor Sidarta Ribeiro deixou a instituição. Foi dirigir o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Neuenschwander faz parte do grupo que acompanhou Ribeiro.

Tehovnik, que em fevereiro já havia detonado Nicolelis na mesma Folha, foi para o Instituto do Cérebro em 2012, após ser demitido do IINN-ELS por falta de produção científica.

Com base nessa e em outras informações levantadas, o Viomundo pediu a Tehovnik e Neuenschwander, via e-mail, que esclarecessem as críticas e outras questões surgidas na apuração desta matéria. Reafirmamos a solicitação outras vezes. Nenhum respondeu.

FONTES DA FOLHA NUNCA TRABALHARAM COM INTERAÇÃO CÉREBRO-MÁQUINA

É de 1985 o primeiro artigo cogitando a possibilidade de interação do cérebro com computador — a chamada interface cérebro-máquina.

Em 1999, Nicolelis e seu colega John Chapin, da Universidade Duke (EUA), comprovaram isso num estudo pioneiro com ratos. Em 2000, demonstraram em macacos. Em 2004, em seres humanos.

A interface cérebro-máquina é uma das áreas da ciência onde avanços estão ocorrendo. Tanto que, em 2011, a Fundação Nobel (a mesma dos prêmios) realizou, em Estocolmo, Suécia, um simpósio chamado 3 M: Mente, Máquinas e Moléculas.

Fizemos uma busca no Pubmed, considerada uma das maiores base de dados de publicações científicas e de pesquisas biomédicas. Até 24 de abril, 1.789 artigos sobre a interface cérebro-máquina tinham sido publicados no mundo.

Em 2000, foram 19. Em 2005, 60. Em 2010, 170. Em 2013, 309. Este ano já somam 97.

Na semana passada, Miguel Nicolelis, postou na sua página no Facebook:

Precisamente às 12:21 do dia 29/04/2014, o BRA-Santos Dumont 1 deu os seus primeiros passos e chute controlados pela atividade cerebral de um paciente do projeto Andar de Novo que também experimentou a sensação tátil desses movimentos do exoesqueleto.

BRA-Santos Dumont 1 é o nome que recebeu o primeiro exoesqueleto. Os testes estão demonstrando que o conceito de controlar os movimentos do exoesqueleto pelo cérebro – a chamada interface cérebro-máquina — funciona e é viável.

Tehovnik, no entanto, contesta a validade científica da interface cérebro-máquina assim como do projeto Andar de Novo.

Curiosamente, ele e Neuenschwander não têm experiência com interface cérebro-máquina para reabilitação motora. Eles nunca trabalharam nem participaram de projeto de pesquisa na área. Também não têm publicação original na área.

O mais próximo que Tehovnik chegou foi o artigo de revisão “Transfer of information by BMI”, feito com mais dois autores e publicado na Neuroscience, em 2013.

Aí, sem experimento nenhum, apenas com base em alguns cálculos em computador, ele conclui que “mais pesquisas sobre a compreensão de como o cérebro gera movimento são necessárias antes de ICM poder se tornar uma opção razoável para pacientes paraplégicos”.

Para quem não sabe, a conclusão que “mais pesquisas são necessárias para compreensão de fenômeno X” é um lugar comum na literatura científica, geralmente utilizada quando o pesquisador não tem nada a concluir.

POUCOS TRABALHOS CIENTÍFICOS PUBLICADOS NOS ÚLTIMOS ANOS

Sergio Neuenschwander é brasileiro e sua área de pesquisa, a visão. Atualmente é professor titular do Instituto do Cérebro da UFRN.

Durante mais de 10 anos, atuou num dos mais sofisticados institutos de neurociência da Europa, o Instituto Max Planck, na Alemanha. Aí, fez pós-doutorado e trabalhou no laboratório do conceituado neurofisiologista Wolf Singer.

A ideia inicial era Neuenschwander trabalhar no IINN-ELS, mas, devido à cisão, nem chegou a atuar na instituição.

O seu nome aparece, junto com o de vários outros cientistas, como um dos responsáveis pela concepção do projeto de repatriação de capital humano, que está na origem tanto do IINN-ELS quanto do Instituto do Cérebro/UFRN.

Acontece que ele só voltou ao Brasil em 2011. Pedimos uma cópia de documentos oficiais que demonstrassem essa participação. Não enviou.

Segundo o Pubmed, Neuenschwander não publicou nenhum trabalho de relevância internacional desde a sua ida para o Instituto do Cérebro/UFRN. As suas 14 publicações listadas nessa base de dados são da época no Max Planck.

Já Tehovnik é canadense. Fez boa parte da carreira no laboratório de Peter Schiller, professor de fisiologia médica, sistema visual e sistema oculomotor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA.

Em 2009, veio ao Brasil pela primeira vez. Foi para assumir a vaga de professor adjunto na UFRN. Poucos meses depois pediu demissão.

No final de 2010, retornou. Foi trabalhar no IINN-ELS, onde recebeu uma bolsa DTI (desenvolvimento tecnológico industrial), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ficou até janeiro de 2012, quando foi demitido.

Ainda em 2012, prestou concurso para professor de Neuroengenharia no Instituto do Cérebro/UFRN. Foi reprovado.

Atualmente, com bolsa do CNPq, é pesquisador sênior visitante no laboratório de Sergio Neuenschwander. De acordo com o Pubmed, nos últimos cinco anos, publicou quatro trabalhos científicos originais, sendo três de revisão. Apenas um envolveu experimentos feitos nos tempos de MIT.



Diniz Neves de Lima comentou: "Para quem tem complexo de vira-lata e só reclama que nada presta no Brasil, temos muito do que nos orgulhar. Este futurista projeto deste genial brasileiro, Miguel Nicolelis mostra que o Brasil está sendo protagonista de um novo mundo, em que pese os latidos de uma mídia sabuja, que manipula os uivos rancorosos de uma matilha que não quer largar o osso do atraso social e tecnológico em que por séculos enterraram o nosso país".
Paulo Teixeira adicionou 2 novas fotos.

*BernardeteBaronti

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