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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 22, 2014



Neste fim de semana, Estado de S. Paulo, Folha e até Veja reconhecem o erro dos que previram caos durante o Mundial de 2014; na Folha, "prenúncio de que Copa seria o 'fim do mundo' não aguentou 3 dias"; no Estado, "apesar de problemas, Copa vence o caos"; em Veja, a mesma que previa que os estádios ficariam prontos apenas em 2038, "Só alegria até agora"; será que você foi enganado pelos arautos do "Imagina na Copa"?

22 DE JUNHO DE 2014 

247 - A mídia familiar brasileira reconhece: seus leitores foram enganados nos meses que antecederam a Copa do Mundo de 2014. Sabe aquele bordão, o Imagina na Copa? Ou a teoria de que os estádios não ficariam prontos e haveria caos nos aeroportos? Era apenas terrorismo midiático, com óbvias intenções políticas.

Não é exatamente isso o que dizem os jornais deste domingo, mas, assim, poderia ser escrita a história de como grandes conglomerados de mídia desembarcaram da teoria do caos na Copa.

No Estado de S. Paulo, a reportagem de Lourival Sant'anna informa que "apesar de problemas, Copa vence o caos". "Está tendo Copa sim e o Brasil não está fazendo tão feio", diz o texto, sem esconder sua má-vontade com o próprio País. "O resultado é surpreendente: nos pontos em que se temiam mais problemas, como os aeroportos, o transporte e a segurança pública, as coisas estão indo relativamente bem".

Na Folha, Nelson de Sá diz que "prenúncio de que Copa seria o 'fim do mundo' não aguentou três dias". A reportagem, no entanto, transfere para a mídia internacional os ataques ao Brasil, como se veículos internacionais não formassem suas opiniões e consensos a partir do que recebem de informação da mídia nativa. "Do início do ano até a abertura da Copa do Mundo, a imagem do Brasil foi alvo de um ataque de histeria da mídia ocidental", é a frase que abre a reportagem da Folha. Mas onde será que a mídia ocidental se informava sobre o Brasil?

Entre os profetas do caos que tiram o time de campo, até Veja, aquela que previa a entrega dos estádios apenas em 2038, deu uma guinada. Na capa deste fim de semana, o título "Só alegria até agora". No entanto, na chamada de capa, a revista adverte que é melhor aproveitar a festa, "pois legado duradouro, esqueça". Ou seja: como se estádios e aeroportos fossem desaparecer depois do Mundial.

A verdade, pura e simples, é que leitores foram enganados. E alguns que se deixaram enganados agora estão arrependidos, como a colunista Mariliz Pereira Jorge, da Folha, que caiu na esparrela do caos, deixou de tirar férias, de comprar ingressos e de aproveitar a #copadascopas. "Chega o ano em que a Copa é no Brasil. Sempre quis uma Copa no Brasil. Vou tirar férias, passar o mês viajando pelo país, assistir a todos os jogos possíveis, fazer festa na rua, me embebedar abraçada com gente desconhecida. Broxei junto com o clima anti-copa e não fiz nada para participar dela. Ela chegou e eu fiquei de fora", disse ela (leia mais aqui).

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