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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 21, 2014

A GUERRA É A MÃE DA "DESTRUIÇÃO CRIATIVA"



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Joseph Schumpeter 
pictures by Santiago Caruso 
"As inovações no sistema econômico não aparecem, via de regra, de tal maneira que, primeiramente, as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão. Não negamos a presença desse nexo. Entretanto, é o produtor que, igualmente, inicia a mudança econômica, e os consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar”

Joseph Schumpeter , A Teoria do Desenvolvimento Econômico
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O economista austríaco Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) popularizou o conceito de “destruição criativa”, formulado anteriormente pelo teórico anarquista Mikhail Bakunin e pelo filósofo Friedrich Nietzsche. Em seu livro Socialismo, Capitalismo e Democracia (1942), Schumpeter sugere que os processos de inovação na economia surgem devido às crises do capitalismo, pelo fato de elas criarem a necessidade de se introduzir novas combinações de fatores produtivos para permitir a retomada do crescimento econômico. Para Schumpeter, os protagonistas destas inovações são os empresários empreendedores. Essas inovações inicialmente destroem velhas empresas e antigos modelos de negócios, mas pouco a pouco criam novos parâmetros, possibilitando, dessa maneira, uma reorganização da economia ou mesmo uma nova ordem econômica. Mas o conceito essencial, desenvolvido já em A Teoria do Desenvolvimento Econômico (1911), é que a inovação nasce na esfera da produção, não do consumo.
 
Carl von Clausewitz
Bomba atômica em Nagasaki
Na minha opinião, contudo, não é o empresário capitalista o grande responsável pela inovação econômica e tecnológica, mas o Estado, por meio da guerra. Se a guerra é a continuação da política por outros meios, como dizia Carl von Clausewitz, ela também é a mãe da tecnologia e da inovação. Se analisarmos as grandes invenções, principalmente dos últimos cem anos, verificaremos que as mais importantes – que resultaram na diminuição do sofrimento e na melhoria da qualidade de vida da humanidade – foram geradas por necessidades militares. Durante as duas guerras mundiais e a Guerra Fria, o imperativo de se produzir armas melhores e mais eficazes impulsionou a ciência e a tecnologia de modo nunca visto antes na história da humanidade. Senão vejamos:

O avião, inventado pelo brasileiro Santos Dumont com objetivos civis, somente se tornou viável quando foi adaptado para fins bélicos – o que ocorreu durante a I Guerra Mundial (1914-1918). A invenção mudaria completamente os paradigmas estratégicos, mas também viabilizaria a aviação comercial.  Já a exploração da energia nuclear nasceu de uma feérica competição entre americanos e alemães para dominar o processo de fabricação de bombas atômicas - arma com altíssima capacidade de destruição, como se verificou em Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Mas essa busca terrível produziu como grande subproduto civil o formidável desenvolvimento da medicina nuclear, uma especialidade médica que utiliza técnicas seguras e indolores para coletar informações para diagnóstico e mesmo tratar doenças.
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Míssil Intercontinental
 
O Sputnik I, lançado em 1957
 
A corrida nuclear durante a Guerra Fria levou ao desenvolvimento dos mísseis, veículos lançadores de ogivas atômicas. Eles nasceram dos foguetes - na verdade, ainda bombas voadoras, as alemães V-2, com as quais Hitler atormentou os britânicos no final da II Guerra. Primeiro, vieram os satélites, com o Sputnik dos soviéticos (1957) à frente. Reagindo à ofensiva da URSS,  a Nasa lançou em 1961 o primeiro satélite de comunicações, o Echo I, com capacidade de 12 ligações telefônicas simultâneas. Os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, foram os primeiros a serem transmitidos pelo mundo via satélite. A corrida espacial resultaria na produção de mísseis balísticos intercontinentais - os ICBMs, com múltiplas ogivas nucleares (MIRVs em inglês - Multiple Independent Reintrance Vehicle). 



Hedy Lamarr
Pouca gente sabe, mas os telefones celulares nasceram de sistema inventado por Hedy Lamarr - atriz hollywoodiana celebrizada no papel de Dalila, em Sansão e Dalila (1949). Ela criou um sofisticado aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas e o patenteou em 1940. A ideia surgiu ao lado do compositor George Antheil em frente a um piano. Eles brincavam de dueto; ela repetindo em outra escala as notas que ele tocava, experimentando o controle dos instrumentos. Ou seja, duas pessoas podem conversar entre si mudando frequentemente o canal de comunicação desde que façam isso simultaneamente.


Em 1948, quando começou a Guerra Fria, as válvulas utilizadas pelos computadores americanos foram substituídas por transístores. Mas a miniaturização dos equipamentos obrigou a criar algo que fizesse a conexação entre os transístores. Graças aos investimentos maciços do Departamento de Defesa, a Texas Instruments patenteou em 1958 o circuito integrado, em que todos os transístores ficavam conectados num chip. Nos anos 1960, os investimentos da Força Aérea dos EUA, que queriam aprimorar o direcionamento de mísseis dos aviões, permitiram o desenvolvimento do chip de silício, que depois migraria para relógios digitais, walkmans e que tais. Nos anos 1970, esse processo permitiu o surgimento do microprocessador. 

O temor de uma guerra nuclear obrigou o Departamento de Defesa dos EUA a criar uma rede de comunicação capaz de proteger informações para casos de guerra, a ARPANET, que estreou em 1968. Ela dividia informações em vários compartimentos e fazia cada pedaço seguir um curso diferente, preservando as informações ainda que um terminal fosse destruído. Esse sistema originou a nossa conhecida internet.

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O GPS (Sistema de Posicionamento Global) surgiu originalmente para orientar mísseis - como o famoso Tomahawk - e guiar tropas por meio de informações de satélites. O aparelho compara dados enviados pelos satélites e fornece latitude, longitude e altitude. Agora, tem ampa aplicação civil.
 
 
William T. Sherman

Heráclito dizia que "a guerra é mãe e rainha de todas as coisas; alguns ela transforma em deuses, outros, em homens; de alguns faz escravos, de outros, homens livres". Em compensação, o general William Sherman, aquele que destruiu Atlanta na Guerra da Secessão americana (1861-1865) e virou nome de tanque de guerra, observava que "somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno".






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