Extra! Globo descobre porque Barbosa saiu! Ele é “filho de Ogum!”
Eu deixei passar essa porque, sinceramente, não quis acreditar no que estava lendo, ainda mais partindo de uma das poucas profissionais do Globo que eu ainda gosto.
Mas aí vem o Kiko Nogueira estragar tudo e me fazer dar umas boas gargalhadas numa tarde chata.
Só queria acrescentar uma coisa: o Globo está virando jornal de adolescente. Tem uma matéria hoje no jornal impresso dizendo que Barbosa “confirma ameaças”. Ué? O Globo deu capa dois dias a isso e não tinha confirmado antes?
Aí a gente vai ver a “confirmação” e tem lá apenas o seguinte:
Hoje, ele confirmou que sofreu ameaças recentemente, conforme noticiou a revista “Veja”. Mas minimizou o peso desse fato na decisão de antecipar sua aposentadoria.
- Imagina! – respondeu, perguntado se as ameaças tinham influenciado sua atitude.
Coitado do Barbosa! Virou mesmo um personagem de novela da Globo. Ele fala “imagina”, ou seja, negando que tenha saído por ameaças, o que teria sido covardia indescritível de sua parte, e o Globo faz uma matéria inteira dizendo que ele confirma que recebeu ameaças mas que “minimizou o peso desse fato na decisão” de pendurar as chuteiras.
Os editores do Globo estão ficando meio burros ou é impressão minha? No desespero de encontrar uma explicação para a derrota moral de Barbosa, que é a causa real de sua saída, eles inventam que o ministro saiu por medo de “ameaça”. E isso porque alguém disse a alguém que disse a outro que ele recebeu um telefonema…
Olha, nem eu, que talvez seja o blogueiro que mais criticou Barbosa nos últimos tempos o acusaria de ser um covarde. Só falta essa! Um juiz abandonar um cargo vitalício porque recebeu uma ameaça por telefone… E ainda mais no caso de Barbosa. Quem o ameaçaria? Um amigo de Genoíno? Ora, tenha dó!
Agora, essa matéria da Flavia Oliveira chamando Barbosa de “guerreiro de Ogum” é outra prova do desespero. Atribuir a um presidente do STF, a figura que deveria se guiar pela mais pura racionalidade, humanismo e valores democráticos, a característica de uma entidade religiosa, é o cúmulo do culto à personalidade e da mistificação.
Mas aí deixo vocês com o Kiko, que escreveu uma crônica simples e divertida sobre o novo esforço da Globo de criar uma aura mística para Barbosa.
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Joaquim Barbosa, guerreiro de Ogum
Por Kiko Nogueira, no Diario do Centro do Mundo
Coube ao Globo, em duas matérias ontológicas, “explicar” a aposentadoria de Joaquim Barbosa, o personagem que ajudou a criar e cuja trajetória precisava de um desfecho menos decepcionante.
A primeira é uma tentativa de vitimizar JB. Aplicando a técnica do jornalismo declaratório, mas sem dar crédito a quem teria criado a teoria (vale lembrar a reportagem sobre o contínuo do advogado que falou com alguém que ouviu de uma pessoa que Marcelo Freixo alguma coisa), a saída de Barbosa foi “precipitada pelas ameaças que ele vem sofrendo”.
“Ele estava cansado, quer viver a vida. Estava muito patrulhado, se sentia agredido com palavras, com provocações. Me disse: ‘Tô precisando viver’”, teria dito um amigo, cuja impressão virou fato.
A conclusão é que Barbosa teria vazado por medo. Se o presidente do STF prefere sair correndo diante de “ameaças” no Facebook, o que seria de você diante dessas circunstâncias? Para que serve o sistema judiciário? Ao tentar transformar Barbosa numa vítima, a história o retrata como um covarde. Mas a coisa não termina aí.
Também de acordo com o Globo, Joaquim Barbosa foi embora porque é filho de Ogum. Sim, filho de Ogum. “A mitologia dos orixás conta que Ogum ajudou na criação do mundo com instrumentos de ferro, que abriram caminhos e viabilizaram a agricultura. Como recompensa, lhe foi oferecida a coroa de Ifé”, diz um artigo. “Ogum recusou o reino. Em vez de ter súditos, preferia caçar e guerrear. Foi, então, viver sozinho, a caminhar pelas estradas”.
A loucura continua, agora à la Mestre Yoda: “É guerreiro incansável Joaquim Barbosa. O combate o alimenta”. “Joca” já teria contado aos mais próximos (?!?) que não ficaria mais tempo no Supremo. “Poderia ganhar mais uma batalha. Ou perder. Preferiu sair de cena. E confirmar o mito do orixá que não esquenta lugar. Ogum segue adiante, para caçar e guerrear em outras bandas. E onde chegar, é certo, demanda haverá”.
Desde o juiz carioca que afirmou, numa sentença, que manifestações religiosas afro-brasileiras não são religiões se prestou um serviço tão caro contra a umbanda e o candomblé.
Enquanto JB não faz as malas, o CNJ, ainda presidido por ele, continua em campanha. Uma questão foi postada nas redes sociais oficiais da entidade: “Seu mandato como presidente da Corte terminaria em novembro próximo. Na sua opinião, qual o maior destaque na atuação do ministro?”
A personalização da gestão de Joaquim Barbosa está ali, cristalizada. Talvez os autores da enquete não esperassem a intensidade da reação contrária, mas a resposta “a aposentadoria” foi a mais gentil para esse guerreiro de Ogum.
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