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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 05, 2014

Extra! Globo descobre porque Barbosa saiu! Ele é “filho de Ogum!”

Enviado por  o

Eu deixei passar essa porque, sinceramente, não quis acreditar no que estava lendo, ainda mais partindo de uma das poucas profissionais do Globo que eu ainda gosto.
Mas aí vem o Kiko Nogueira estragar tudo e me fazer dar umas boas gargalhadas numa tarde chata.
Só queria acrescentar uma coisa: o Globo está virando jornal de adolescente. Tem uma matéria hoje no jornal impresso dizendo que Barbosa “confirma ameaças”. Ué? O Globo deu capa dois dias a isso e não tinha confirmado antes?
Aí a gente vai ver a “confirmação” e tem lá apenas o seguinte:
Hoje, ele confirmou que sofreu ameaças recentemente, conforme noticiou a revista “Veja”. Mas minimizou o peso desse fato na decisão de antecipar sua aposentadoria.
- Imagina! – respondeu, perguntado se as ameaças tinham influenciado sua atitude.
Coitado do Barbosa! Virou mesmo um personagem de novela da Globo. Ele fala “imagina”, ou seja, negando que tenha saído por ameaças, o que teria sido covardia indescritível de sua parte, e o Globo faz uma matéria inteira dizendo que ele confirma que recebeu ameaças mas que “minimizou o peso desse fato na decisão” de pendurar as chuteiras.
Os editores do Globo estão ficando meio burros ou é impressão minha? No desespero de encontrar uma explicação para a derrota moral de Barbosa, que é a causa real de sua saída, eles inventam que o ministro saiu por medo de “ameaça”. E isso porque alguém disse a alguém que disse a outro que ele recebeu um telefonema…
Olha, nem eu, que talvez seja o blogueiro que mais criticou Barbosa nos últimos tempos o acusaria de ser um covarde. Só falta essa! Um juiz abandonar um cargo vitalício porque recebeu uma ameaça por telefone… E ainda mais no caso de Barbosa. Quem o ameaçaria? Um amigo de Genoíno? Ora, tenha dó!
Agora, essa matéria da Flavia Oliveira chamando Barbosa de “guerreiro de Ogum” é outra prova do desespero. Atribuir a um presidente do STF, a figura que deveria se guiar pela mais pura racionalidade, humanismo e valores democráticos, a característica de uma entidade religiosa, é o cúmulo do culto à personalidade e da mistificação.
Mas aí deixo vocês com o Kiko, que escreveu uma crônica simples e divertida sobre o novo esforço da Globo de criar uma aura mística para Barbosa.
*
Joaquim Barbosa, guerreiro de Ogum
Por Kiko Nogueira, no Diario do Centro do Mundo
Coube ao Globo, em duas matérias ontológicas, “explicar” a aposentadoria de Joaquim Barbosa, o personagem que ajudou a criar e cuja trajetória precisava de um desfecho menos decepcionante.
A primeira é uma tentativa de vitimizar JB. Aplicando a técnica do jornalismo declaratório, mas sem dar crédito a quem teria criado a teoria (vale lembrar a reportagem sobre o contínuo do advogado que falou com alguém que ouviu de uma pessoa que Marcelo Freixo alguma coisa), a saída de Barbosa foi “precipitada pelas ameaças que ele vem sofrendo”.
“Ele estava cansado, quer viver a vida. Estava muito patrulhado, se sentia agredido com palavras, com provocações. Me disse: ‘Tô precisando viver’”, teria dito um amigo, cuja impressão virou fato.
A conclusão é que Barbosa teria vazado por medo. Se o presidente do STF prefere sair correndo diante de “ameaças” no Facebook, o que seria de você diante dessas circunstâncias? Para que serve o sistema judiciário? Ao tentar transformar Barbosa numa vítima, a história o retrata como um covarde. Mas a coisa não termina aí.
Também de acordo com o Globo, Joaquim Barbosa foi embora porque é filho de Ogum. Sim, filho de Ogum. “A mitologia dos orixás conta que Ogum ajudou na criação do mundo com instrumentos de ferro, que abriram caminhos e viabilizaram a agricultura. Como recompensa, lhe foi oferecida a coroa de Ifé”, diz um artigo. “Ogum recusou o reino. Em vez de ter súditos, preferia caçar e guerrear. Foi, então, viver sozinho, a caminhar pelas estradas”.
A loucura continua, agora à la Mestre Yoda: “É guerreiro incansável Joaquim Barbosa. O combate o alimenta”. “Joca” já teria contado aos mais próximos (?!?) que não ficaria mais tempo no Supremo. “Poderia ganhar mais uma batalha. Ou perder. Preferiu sair de cena. E confirmar o mito do orixá que não esquenta lugar. Ogum segue adiante, para caçar e guerrear em outras bandas. E onde chegar, é certo, demanda haverá”.
Desde o juiz carioca que afirmou, numa sentença, que manifestações religiosas afro-brasileiras não são religiões se prestou um serviço tão caro contra a umbanda e o candomblé.
Enquanto JB não faz as malas, o CNJ, ainda presidido por ele, continua em campanha. Uma questão foi postada nas redes sociais oficiais da entidade: “Seu mandato como presidente da Corte terminaria em novembro próximo. Na sua opinião, qual o maior destaque na atuação do ministro?”
A personalização da gestão de Joaquim Barbosa está ali, cristalizada. Talvez os autores da enquete não esperassem a intensidade da reação contrária, mas a resposta “a aposentadoria” foi a mais gentil para esse guerreiro de Ogum.
torquemada-aposentado
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