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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, março 21, 2016

Após polêmica em musical, Chico Buarque reage com “espanto e muito desagrado”



Diretor Claudio Botelho atacou Dilma e Lula. Compositor não vai mais autorizar uso de suas canções
Segundo a assessoria de Chico Buarque, o compositor “reagiu com espanto e muito desagrado à postura do ator e diretor Claudio Botelho” que, durante o espetáculo Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos, em Belo Horizonte, atacou o ex-presidente Lula e pediu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O compositor, que não vai se manifestar publicamente sobre o caso,informou que não vai mais autorizar o uso de suas canções no musical.
A fala de Botelho aconteceu durante o espetáculo, e provocou a reação de parte da plateia, que começou a gritar em coro: “Não vai ter golpe!”
O espetáculo foi suspenso e as pessoas começaram a deixar o teatro, em clima de revolta.
Um áudio divulgado na internet registra Botelho no camarim, após a sessão, discutindo com a atriz Soraya Ravenle. Botelho afirma aos gritos que “são neofacistas, são escrotos, são petistas, são o que há de pior no Brasil.”
Na gravação, Botelho prossegue: “Essa gente chega e peita um ator que está em cena. Um ator que está em cena é um rei, não pode ser peitado. Não pode ser peitado por um negro, por um filho da puta que está na plateia. Eu estava fazendo uma ficção.”
Ainda na gravação, Soraya diz que não concorda com Botelho e que ele “tocou na ferida que está aberta a semana inteira”.
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