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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 02, 2016

MACHISMOz :Foi base para propriedade privada e capitalismo. Deu forma à Igreja. Antecede as classes sociais. Modela as instituições. Mas pode ser destruído…

Machismo, a opressão primeira




Foi base para propriedade privada e capitalismo. Deu forma à Igreja. Antecede as classes sociais. Modela as instituições. Mas pode ser destruído…
Por Marília Moschovick, do Outras Palavras 
O machismo é uma ideia.
A ideia machista baseia-se numa classificação do mundo em objetos, comportamentos, trejeitos, desejos e ideias “masculinos” e “femininos”. O que torna essas coisas masculinas ou femininas não é, ao contrário do que se diz por aí, estarem ligadas a grupos de “homens” ou “mulheres”, respectivamente. Uma coisa não é feminina porque é feita por mulheres, nem masculina porque é feita por homens. A relação vem na mão inversa: uma coisa é feita por mulheres porque é feminina e “mulher” é uma identidade que se baseia num equilíbrio não muito exato, nem muito rígido entre essa “feminilidade” e “masculinidade” (entre outras coisinhas mais). O mesmo no caso dos homens. Uma mulher pode ser vista como “menos mulher” quando faz algo não-feminino ou “mais masculino”, e um homem pode ser visto como “menos masculino” quando faz algo não-masculino ou “mais feminino”. Uma coisa classificada como “feminina” ou “masculina”, porém, não passa a ser classificada de outra maneira quando alguém do gênero “oposto” a pratica. A ideia machista é, essencialmente, que nesse jogo de masculinidades e feminilidades, não importa o contexto, uma relação de poder rege sempre a hierarquização das coisas: a primazia da masculinidade sobre a feminilidade. A masculinidade mais “errada” sempre estará mais certa do que a feminilidade mais “certa”.
machismo é também uma história. Longa.
Não se constroem padrões como esse da noite para o dia. O machismo não é invenção moderna. Acompanha as culturas das quais somos herdeiros há milênios. Pode ser encontrado em ainda outras mais. Em praticamente todos os tempos históricos. O machismo não nasceu com o capitalismo: o capitalismo é que foi forjado sobre um pensamento machista. O machismo não nasceu com a Igreja: a Igreja é que tomou os contornos dele. O machismo não nasceu com a propriedade privada no pré-feudalismo europeu: esse último é que se baseou nele. O machismo não tem origem, nacionalidade. Não depende do racismo nem de classes sociais para existir. O machismo está aí — porque só passamos a enxergá-lo há pouco mais de um século, contra milênios de sua existência anterior. Porque lutamos umas poucas pessoas contra ele, enquanto as estruturas mais elementares da nossa sociedade (Estado, religião, família, conhecimento, educaçãoescola, ciência, filosofia, indústria, classes, racismo) já nasceram modeladíssimas por ele. O machismo é a hegemonia, descritinha, sem tirar nem por.
Por isso, o machismo é sempre um sistema.
Lutar contra ele não é fácil. É preciso subverter toda uma lógica. É preciso desorganizar as bases mais sólidas sobre as quais o mundo inteiro hoje se apóia. Mover placas tectônicas, com o peso da terra, das pessoas, construções que sobre elas se fizeram. É preciso bagunçar a história, abandonar certezas, se dispor ao erro. Combater o machismo não é para amadores. Enquanto cada um e cada uma de nós se construiu e se constrói cotidianamente como sujeito, como pessoa, ele está lá. Nas visões que nos são ofertadas e das quais bebemos para elaborar novidades (nenhuma criação parte do zero, é fato). Nas definições que as palavras nos impõem, nos limites da linguagem, na necessidade de comunicação: lá vem ele, de novo. Quando nos olhamos no espelho. Tão arraigado que parece natural. Parece vir das entranhas, parece estar no DNA. E sempre que assim parecer, não se engane. É mentira. Terremotos existem.
O machismo pode ser destruído.


Leia a matéria completa em: Machismo, a opressão primeira - Geledés http://www.geledes.org.br/machismo-a-opressao-primeira/#ixzz41i7A7uuZ 
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