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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, abril 26, 2010


Celso Marcondes

Agora não tem mais volta, a direção do PSB definiu o script para uma “saída honrosa” do deputado.

Veremos os últimos dias de Ciro Gomes como eventual candidato à presidência da República. Depois do almoço desta quinta 22, que reuniu Ciro, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, foi iniciada a operação para que ele retire seu nome da disputa.

Foram meses de resistência do deputado. Nas primeiras pesquisas de opinião, em setembro passado, ele chegou a assustar. No levantamento feito pelo Ibope divulgado em 21 de setembro, era esta a situação: Serra 35% dos votos, Ciro 17%, Dilma 15% e Marina 8%. (link com matéria da coluna de 22 de setembro)

Naquele momento, Ciro defendia com energia a sua tese, segundo a qual seria muito mais inteligente para o governo federal ter dois candidatos na sua base de apoio. Porém, ela se confrontou diretamente com aquela sustentada pelo presidente Lula, o primeiro a insistir na ideia de uma eleição plebiscitária, reduzida ao embate entre um candidato de cada lado do ringue.

Os meses foram se passando, Serra foi se mantendo no mesmo patamar, por mais que “cozinhasse” o anúncio de sua candidatura e sofresse com o assédio de Aécio Neves.
Dilma, por sua vez, crescia mês a mês, com sua imagem cada vez mais identificada com a do presidente Lula.

Ciro, ao contrário, foi definhando. Em nenhum momento o PSB bancou seu nome, o que tornou inviável qualquer passo para formalizar alianças com outros partidos. Para complicar ainda mais, numa visita ao Planalto, ele recebeu um convite do presidente Lula: candidatar-se ao governo de São Paulo.

Transferiu seu título eleitoral para a capital paulista, deixando uma fresta da porta aberta para uma saída alternativa, mas entrou em guerra com o PT local. Atirou e levou chumbo, até que Aloizio Mercadante fosse sacramentado como candidato dos petistas em São Paulo.
Desde então, as pesquisas de opinião foram cada vez mais ingratas com o deputado cearense, até que as últimas começaram a colocá-lo atrás de Marina Silva, em quarto lugar. Seus 17% de setembro, passaram para 10%. E os 15% de Dilma para 34%, enquanto Serra permanecia incólume, dançando entre 35 e 40%, dependendo do instituto.

O almoço de ontem definiu o script dos próximos dias. Ciro foi informado que a prioridade do PSB para este ano é aumentar a bancada parlamentar e o número de governadores nos estados. E que para isso o melhor seria estar com Dilma desde cedo.

Os diretórios regionais do partido foram chamados a se posicionar sobre a questão. Eles dirão que concordam com a direção nacional do PSB e conclamarão o deputado a se engajar nas campanhas regionais. Dirão que ele é imprescindível neste papel.
Ato final: Ciro acata a decisão partidária e parte com Patrícia Pillar para uma viagem por terras europeias.

E a tese do deputado terá sido definitivamente enterrada.
Em junho tem a Copa do Mundo. Depois a campanha começa a sair dos pequenos círculos e chegar até o povo. Entrará no ar o horário gratuito na tevê e os debates, os comícios se espalharão pelo País.

Aí veremos quem sentirá saudades da eloquência do cearense paulista.

O que pensa o leitor de CartaCapital?

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