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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 03, 2012

A dura tarefa de governar, onde os interesses pessoais inconfessáveis prevalece

Recado da presidente para a base Dilma diz que a coalizão de legendas é fundamental para tocar os projetos do governo

» JULIANA BRAGA
» PAULO DE TARSO LYRA



Dilma se emocionou na hora de agradecer ao ex-ministro da Pesca Luiz Sérgio (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dilma se emocionou na hora de agradecer ao ex-ministro da Pesca Luiz Sérgio

A presidente Dilma Rousseff aproveitou ontem a posse do novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB-RJ), para tentar estancar a crise que enfrenta no relacionamento com a base aliada. Inspirada pela conversa que teve na véspera com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma afirmou que “a democracia brasileira tem sido marcada pelo exercício do poder por meio de alianças e coalizões políticas e que, nisso, seu governo não é diferente”, afirmou.

Foi uma semana difícil para a presidente. Na terça-feira, apesar de comemorar a aprovação da Fundação de Previdência dos Servidores Públicos (Funpresp), Dilma viu o PDT votar majoritariamente contra a proposta e o PSB inverter os sinais emitidos até então de apoio à iniciativa e rechaçar o fim da aposentadoria integral dos servidores. Na quarta-feira, foi a vez de o PMDB iniciar a coleta de assinaturas para um manifesto contra o PT e o governo.

A presidente fez questão de destacar a importância dos aliados. “Eu queria dizer que o meu governo é apoiado e integrado por um amplo conjunto de partidos, que estão unidos por visões comuns quanto às tarefas estratégicas que a nossa geração deve responder ao presente, mas também, ao futuro do país”, pontuou ela.

Dilma, inclusive, emocionou-se ao agradecer ao ex-ministro da Pesca Luiz Sérgio (PT-RJ) que, em menos de um ano e meio, foi exonerado da segunda pasta e retorna para o Congresso como deputado federal. Apesar das críticas que sofreu ao longo deste tempo, ele nunca reclamou em público do desprestígio, o que lhe valeu uma saudação especial da presidente. “Você foi e é um amigo, um parceiro e compreende a natureza que a política, muitas vezes, acaba por nos impor em nome dos interesses do país”, disse ela. “Nós temos certeza de que, ao longo do caminho, muitas vezes somos obrigados a prescindir de grandes colaboradores”, completou.

Minhoca no anzol

Se Dilma tentou retomar a relação política com a base aliada, transferiu para o vice-presidente, Michel Temer, a tarefa de pacificar o PMDB. Como Dilma viajará no início da próxima semana para a Alemanha, será Temer quem vai receber o grupo de parlamentares peemedebistas insatisfeitos com o Planalto. Um dos idealizadores do movimento, o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) afirmou que a ideia do manifesto começou com os “minoritários” na bancada e acabou estendendo-se à totalidade dos parlamentares. “Mas não votaremos contra o governo. Votamos a favor do Funpresp. Mas queremos também discutir outros assuntos da nossa pasta, como Código Florestal, distribuição dos royalties e mais recursos para os municípios”, defendeu Forte.

Durante a posse, o novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, agradeceu a confiança da presidente e tentou minimizar sua falta de experiência na área. “Eu não quero que a presidenta fique triste, de ter um ministro da Pesca que não é um especialista e que não é bom de colocar minhoca no anzol. Mas, colocar minhoca no anzol a gente aprende rápido. Pensar nos outros que é um pouco mais difícil”, disse.

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