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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Cunha, a nova faca no pescoço de Dilma

 Autor: Fernando Brito

cunhafesteja
Consumou-se o óbvio.
Eduardo Cunha teve uma vitória avassaladora, eleito em primeiro turno, com praticamente o dobro dos votos de Arlindo Chinaglia.
Não foi, propriamente, uma vitória da Oposição, mas uma vitória de oposição ao Governo.
Foi, sobretudo, uma vitória do “sindicato” dos deputados, o que já, de cara, Cunha deixou claro ao prometer colocar, de imediato, em votação e aprovar o orçamento impositivo, ou a “mordida” obrigatória no dinheiro público para projetos de prefeituras, de estados e para os malsinados “convênios”, dos quias não me permito falar por problemas estomacais.
Cunha vai seguir, claro, fazendo seus lobbies, como fez nos governos de Lula e de Dilma.
Mas, depois de um pequeno período de “pose de estadista”, o que ele fará é o mesmo, em ponto muito maior.
Porque, agora, é quem decide o que entra ou não em pauta para votação.
Cunha mudou de “ordem de grandeza”.
O negócio, agora, não é uma diretoria da Caixa ou de algum outro órgão.
É tudo.
Experimente-se, para ver, resistir à sua gazua.
Porque, no sistema eleitoral que temos, montam-se bases parlamentares com base em que?
Porque é que Marina, com Itaú e tudo, não conseguiu formar partido e Paulinho da Força fez o Solidariedade com um pé nas costas?
E não pense que essas “boas obras” vão para a conta deles, não.
Vão para a conta do governo que eles pressionam e politicamente chantageiam.
O Governo Dilma ganhou a reeleição, mas reluta em assumir o poder.
E o poder exige alinhamento entre os que o partilham.
Se não há um mínimo de alinhamento, não pode haver esta partilha.
Atentem para o que quer dizer o resultado.
Mesmo com parte dos votos tucanos para Julio Delgado, o “cunhismo” teve maioria absoluta da Câmara.
Com o PSDB fechado, tem maioria até para mudanças constitucionais.
Resta ao governo, agora, a triste sina de negociar cada projeto de lei ou Medida Provisória no varejinho da esquina parlamentar.
Ou dialogar com a população, o que até ameaçou fazer – e recuou – ao propor a reforma político-eleitoral em 2013.
Mas dialogar com a população, como?
Cada vez mais o governo vai atando seus movimentos.
Eu sigo os conselhos do velho Brizola e recorro aos poetas, a um dos grandes, Cartola:
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés
*Tijolaço

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