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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

É regra, na política, não se precipitar, deixar que as situações fluam.

Dilma e a lição de Pinheiro Machado

: Fernando Brito
gracasai
É das melhores frases do folclore político a de Pinheiro Machado, ao sair do Senado (no prédio onde hoje é a Faculdade de Direito da UFRJ) e dizer ao cocheiro, frente a uma manifestação de partidários de seu desafeto Nilo Peçanha, há um século:
- Vamos. Mas não  tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo!
É regra, na política, não se precipitar, deixar que as situações fluam. Mas também é regra não deixar que se deteriorem e, ao intervir, parecer comandado pelo inevitável e não pela vontade.
A demissão, agora consumada, da direção da Petrobras capitaneada por Graça Foster, teria provocado urticária em Pinheiro Machado.
Dilma colheu todos os desgastes de meses de massacre e, agora, fará com muito mais dificuldade (e concessões) o que antes podia ter feito.
É claro que o novo dirigente da Petrobras está definido. Se não estiver e Dilma venha a se expor, outra vez, ao capitis diminutio do “foi convidado mas não aceitou” será o impensável.
Esta história de “o Conselho de Administração se reunirá na sexta-feira” é pra boi dormir, trata-se apenas de agendar o óbvio e protocolar.
Idem a de que Lula “sugerirá” o nome de Henrique Meirelles. Como assim? É claro que se Lula acha que Meirelles na presidência da empresa servirá como um “paredão” contra as explorações contra a empresa, separando a gestão empresarial da responsabilização (e contabilização) pelos danos causados por Paulo Roberto Costa – e que não são assunto de contador, mas do Judiciário – ele já disse a Dilma, já convocou Meirelles e tem sua anuência e a da Presidenta.
Se não o fez, ou se sua sugestão não foi aceita, ele não estaria deixando isso “rolar”, ou estaria apenas por uma razão: sinalizar que o embrulho é só de Dilma, porque faz tempo que ele vem tentando desembrulhá-lo.
O mais curioso, em tudo isso, para esfumaçar o sonho dos ingênuos, é que Graça Foster, ao assumir a direção da empresa, foi saudada por todos como o início de uma “gestão técnica” na Petrobras, algo em que ela própria acreditava piamente.
A gestão de uma grande organização não é técnica, é sempre política, porque só a política pode trabalhar com os sinais que um ente que faça mais do que vegetar precisa ter para progredir.
A política não se exerce apenas com os iguais, do contrário teria outro nome.
Ela é, essencialmente, a capacidade de fazer vetores diferentes apontarem, até certo ponto, na mesma direção.
*Tijolaço

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