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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 12, 2016

1943, em plena guerra mundial e com Natal repleta de soldados americanos, o Atheneu Norte-Riograndense

Posted: 11 Apr 2016 08:26 AM PDT
Atheneu
Em 1943, em plena guerra mundial e com Natal repleta de soldados americanos, o Atheneu Norte-Riograndense promoveu uma série de palestras para seus alunos e proferidas por jovens intelectuais potiguares. As conferências foram publicadas no mesmo ano e republicadas pelo Sebo Vermelho em 2012.
Na noite de 5 de agosto de 1943, a conferência ficou a cargo do jovem professor Luiz Maranhão Filho e tinha como tema “Lembranças de Zaratustra”. O texto de Maranhão é belamente construído e muito atual, atualizadíssimo, especialmente porque se renovam, nos dias atuais, pensamentos e propostas antidemocráticas e fascistas.
Luiz Maranhão enaltece, na primeira parte da conferência, a beleza literária de “Assim Falava Zaratustra”. Descreve como “grande e magistral poema, que logo nos sentimos atraídos pela sua poesia, antes de penetrarmos no imenso campo de sua essência”. Ou “a obra de Nietzsche-Zaratustra possui o encanto maravilhoso de todas as nuances, desenrolando-se  dentro de um jogo luminoso e colorido que nos leva a um estado de espírito quase sublime…”.
Prosseguindo na palestra, Luiz Maranhão alerta que apesar da beleza de estilo literário, “as ideias de Nietzsche foram, sem dúvida, antidemocráticas por excelência. Pela boca de Zaratustra, ele pregou a renovação da vida no sentido da aristocracia, aspirando ao reino dos super-homens”.
Comenta ainda o palestrante que “é uma verdadeira característica em Zaratustra, o desprezo pelo povo… E não somente quando despreza o povo mostra-se Zaratustra um antidemocrata. Essa qualidade envolveu-o totalmente, até mesmo quando teve de se referir às mulheres, negando-lhes a posição que viriam a desfrutar no círculo das atividades humanas”. Essa referência mostra uma característica marcante, por toda a vida, de Luiz Maranhão como um pioneiro feminista dentro do movimento de esquerda.
*AVerdade

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