Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Depoimentos, atitudes e opiniões de José Serra (PSDB/SP) durante a crise internacional de 2008/2009, mostra que se ele fosse o presidente da República, na época, teria quebrado o Brasil pela 4ª vez (*).
Observe no vídeo como Serra diz que o governo estava fazendo tudo errado, e que ele previu como certo que em 2010 viria o caos.
Depois que a marolinha passou, em debate recente no portal UOL, o demo-tucano cometeu a picaretagem de mentir como se tivesse feito, como governador, o que Lula fez como presidente. Trata-se de uma impostura, pois o vídeo comprova que ele não fez nada do que disse, e ainda falou no ano anterior que Lula estava fazendo tudo errado.
(*) Serra ajudou a quebrar 3 vezes o Brasil durante o governo FHC, quando ele foi Ministro de Planejamento, conselheiro, homem forte, e escolhido para sucessor daquele desgoverno. *amigosdopresidentelula
Em entrevista ao jornalista Roberto D´Avila, (o economista sem diploma), José Serra, fala sobre os equívocos do governo federal no enfrentamento da crise econômicade 2009 e seus efeitos no Brasil.
Imagine o que aconteceria com o Brasil, e com os brasileiros, se esse energúmeno fosse o presidente. Conte também quantas mentiras o Zé é capaz de dizer em apenas 6 minutos. Como diz Paulo Henrique Amorim, ele é um "jênio".
Ainda bem que esse risco não corremos mais, (falo do Serra, porque crise econômica nunca se sabe, né): Bye-bye Serra Forever! *comtextolivre
“No Brasil, a direita vem a reboque da social-democracia. O Serra no meu tempo não era tão conservador. Algumas pessoas, quando envelhecem, ficam burras”
A TV Gazeta exibe nesta terça-feira, 24 de agosto, o debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante (PT), Celso Russomanno (PP), Fabio Feldmann (PV), Geraldo Alckmin (PSDB), Paulo Bufalo (PSOL) e Paulo Skaf (PSB).
O debate começa às 23h e terá duas horas de duração. A TV Gazeta, a Rádio Gazeta, a Rádio Eldorado e o Portal Estadão vão transmitir o debate, ao vivo.
Local: Auditório Gazeta, no prédio da Fundação Cásper Líbero -SP
Petista perguntou se tucano colocaria os filhos em escola pública e o acusou de se esquivar na resposta; candidato do PSDB disse que os investimentos de sua gestão no setor foram superiores aos realizados pelo PT na prefeitura
Daniel Bramatti – O Estado de S.Paulo
O debate Estadão/TV Gazeta, que reuniu ontem candidatos ao governo paulista, foi marcado por um duelo entre Geraldo Alckmin (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT) em torno do tema educação. Outros supostos pontos fracos de gestões do PSDB no Estado foram usados pelos demais candidatos como forma de atingir Alckmin, líder nas pesquisas de intenção de voto. Mercadante perguntou a Alckmin se ele colocaria os filhos em escola pública e acusou o tucano de não responder a esse questionamento em outras ocasiões. O tucano afirmou que um de seus filhos estudou em uma Fatec, uma escola pública, e que outros estudaram em Brasília.
O petista não se mostrou satisfeito e disse que a falta de uma resposta clara evidenciava o fato de que a situação da educação pública estadual não é boa, diferentemente do que Alckmin tem afirmado.
Ao se defender, o candidato do PSDB citou dados estatísticos e o fato de São Paulo ter obtido as melhores notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), exame federal que mede a qualidade do ensino. No contra-ataque, Alckmin afirmou que o PT, na Prefeitura de São Paulo, reduziu os investimentos em educação – dado contestado por Mercadante.
O petista também criticou o que chama de aprovação automática de alunos em escolas públicas, mesmo os que não sabem ler e escrever. Afirmou ainda que metade dos professores do Estado não são concursados e acusou os sucessivos governos tucanos em São Paulo de não terem agido para resolver o problema. Criticou ainda a política de concessão de bônus por desempenho para professores e disse que estabelecer um plano de carreira é melhor forma de promover os educadores por mérito.
Logo no início do debate, Alckmin fez um ataque indireto a Mercadante. Afirmou que seu governo, caso seja eleito, não terá “aloprados” – referência ao escândalo que envolveu petistas na compra de um dossiê às vésperas da eleição de 2006.
Sem citar o principal adversário, Mercadante responsabilizou os tucanos pelo arquivamento de “cem CPIs” na Assembleia Legislativa.
Saúde. Celso Russomanno, do PP, acusou o atual governo de pagar baixos salários aos médicos e prometeu implantar um piso de R$ 12 mil para a categoria.
Paulo Skaf, do PSB, confrontou Alckmin no tema segurança. Atribuiu a queda no número de homicídios no Estado à aprovação do Estatuto do Desarmamento e disse que houve aumento de outros crimes, como roubos de cargas.
Mais uma vez o tucano recorreu às estatísticas – disse que São Paulo tem um dos menores índices de homicídios por 100 mil habitantes e prometeu aumentar em 6 mil o efetivo de policiais.
Skaf também criticou o alto valor dos pedágios nas estradas estaduais. Disse que as maiores empresas concessionárias tiveram, no ano passado, taxas de lucro superiores às alcançadas por bancos.
O candidato do PV, Fábio Feldmann, criticou a forma como PT e PSDB conduzem o debate sobre a educação. Ele destacou que é preciso adequar o ensino aos novos desafios do século 21.
Paulo Bufalo, do PSOL, criticou todos os adversários e atacou o acordo de refinanciamento da dívida paulista com a União que resultou, entre outros pontos, na federalização e privatização de ativos do Estado, como o Banespa. O debate foi mediado pela jornalista Maria Lydia, da TV Gazeta. Contou ainda com a participação de Silvia Correa e Paulo Markun (da emissora); e Luiz Fernando Rila e Celso Ming, ambos do Estado.
Confronto
GERALDO ALCKMIN (PSDB) “Meu governo não teve e não terá aloprados. Vamos trabalhar para servir à população de SP”
ALOIZIO MERCADANTE (PT) “Eu entendo que a grande oportunidade da juventude é a qualidade do ensino. Esse é o passaporte para o futuro”
CELSO RUSSOMANNO (PP) “Não temos um serviço público no Estado de São Paulo, nem na administração direta nem na indireta, que realmente funcione. E é assim que vamos dar transparência ao governo de São Paulo”
PAULO SKAF (PSB) “O que falta é as pessoas se sentirem seguras e essa segurança, lamentavelmente, ninguém sente no nosso Estado de São Paulo”
FÁBIO FELDMANN (PV) “A política no Brasil da maneira como está sendo feita perdeu alma, perdeu encanto, perdeu conteúdo”
PAULO BUFALO (PSOL) “Eu continuo sem gravata e meu filho está na escola pública porque eu acredito neste Estado. O PSOL defende um projeto em que as prioridades sejam definidas pelas necessidades da população”
Altos… Os candidatos mantiveram o nível do debate alto, sem ofensas pessoais
Russomanno e Feldmann saíram dos temas habituais e abordaram o pagamento dos precatórios no Estado
…e baixos Mercadante usou a maior parte do tempo da primeira questão, sobre ética, para falar das realizações do governo Lula
Russomanno não respondeu à pergunta de Feldman sobre pré-sal. Preferiu falar de Rodoanel
Paulo Skaf estourou o tempo da réplica sobre segurança pública. Na tréplica, Alckmin também passou alguns segundos
Paulo Bufalo escorregou no português mais de uma vez. Em uma delas, disse: “Aí está as raízes do problema”
Presidente Lula assiste a imagens do tempo em que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC durante inauguração da TV dos Trabalhadores, em São Bernardo do Campo (SP). Foto: Domingos Tadeu/PR
Depois de acalentar por 30 anos o sonho de ter uma emisora própria, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP) enfim vê sua TV no ar – a TV dos Trabalhadores (TVT) foi inaugurada nesta segunda-feira (23/8) em São Bernardo do Campo (SP), com a presença do presidente Lula e primeira-dama, ministros e prefeitos da região. Mas a grande luta começa agora, advertiu Lula: convencer o público a assistir a programação.
“Agora é que começa a prova dos nove, é que temos que provar que valeu à pena a gente brigar por 23 anos para ter uma TV”, disse o presidente, lembrando que mais do que competência para conseguir o canal, os trabalhadores terão agora que mostrar competência para produzir informação relevante que interesse à sociedade como um todo e não apenas a uma pequena parcela dela. “É uma TV para os trabalhadores e também para o povo brasileiro.”
Lula defendeu uma maior participação de sindicatos e movimentos sociais na exploração de concessões públicas de TVs no País, tendo suas próprias emissoras, porque essas concessões são “bens de todos os brasileiros, que devem ser distribuídos de modo a contemplar todos os setores de nossa sociedade”, disse.
Concessões que devem ser exploradas, sim, pelas empresas comerciais, mas também pelas empresas públicas e por entidades da sociedade civil organizada. É isso que reza a nossa Constituição. E é isso que está presente em nossas leis. É com a multiplicidade de vozes, afinal, que se executa o canto da democracia plena. E nesta sinfonia não pode – nunca – faltar a voz dos trabalhadores. A inauguração desta emissora gerida pelos trabalhadores dá novo vigor a algo que é sagrado para todos nós: a liberdade de imprensa.
Desde o ano passado que eu estou aqui batendo na tecla da concentração de terras no Brasil, dizendo que, enquanto a oposição segue reclamando das ações do MST, as terras do país continuam sendo vendidas para o capital estrangeiro.
A manchete de hoje do Valor Econômico mostra que o presidente Lula assinou o parecer da AGU que restringe e regulariza a compra de propriedades no Brasil por pessoas físicas estrangeiras e por empresas que usam cidadãos brasileiros como “laranjas” para a aquisição de propriedades agrárias. A assinatura de Lula torna obrigatório o cumprimento do parecer da AGU em todo a administração pública.
De acordo com o jornal, a nova interpretação da lei que limita esses negócios vai fixar uma área máxima para o tamanho das propriedades compradas por capital estrangeiro, seja por pessoas físicas ou jurídicas. Além disso, o projeto pretende criar uma autorização especial para aumentar a fiscalização sobre essas transações, através de registros separados nos cartórios.
A medida não tem nada de xenófoba e é estratégica diante do avanço de estrangeiros sobre terras brasileiras, motivados pela valorização das commodities agrícolas e pelo desenvolvimento dos biocombustíveis. O mercado já chiou, como mostra outra matéria do mesmo Valor, dizendo que a medida afugenta o investidor, mas a decisão de Lula foi acertada para conter uma preocupante invasão estrangeira em terras brasileiras.
Segundo os índices do IED (Investimento Estrangeiro Direto) publicados pelo Valor em dezembro do ano passado, 25% dos municípios do Brasil tem propriedades agrárias compradas com capital estrangeiro. Em 124 destes municípios, as terras compradas por estrangeiros já somam mais da metade de todas as grandes e médias propriedades.
Claro que as novas regras não incluem os estrangeiros residentes no país. Seu objetivo não é excluir o direito à propriedade dos imigrantes que aqui estão. A lei é uma questão de soberania nacional e visa reduzir a presença do capital especulativo na agricultura familiar e na compra de grandes agroindústrias como usinas de cana.
No setor canavieiro, por exemplo, o capital estrangeiro investido vai chegar a 20% do total do mercado no ano de 2010, graças especialmente à compra de uma série de usinas Santelisa Vale pela empresa francesa Louis Dreyfus.
Se somarmos a região Sul, a região Centro-Oeste e os estados de São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Amazonas, Bahia e Pará, o capital estrangeiro já soma 3.6 milhões de hectares, ou três vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. Em todo o país, o número chega a 4.3 milhões de hectares.
A nova regra já poderá incidir sobre situações mal esclarecidas como a venda, noticiada hoje no Valor, dos ativos florestais da empresa Bardella Indústrias Mecânicas, para um comprador não identificado, no valor de R$ 119 milhões, pagos à vista, segundo o diretor de Relações com Investidores da empresa, José Roberto Mendes da Silva. Não se sabe se os novos detentores da terra serão estrangeiros, mas, se forem, terão que atender às novas limitações, que passaram a vigorar imediatamente após a assinatura.
O juiz Mário Devienne Ferraz, da Justiça Eleitoral de São Paulo, acolheu pedido de liminar do deputado federal Paulo Maluf (PP) e suspendeu a propaganda eleitoral do delegado federal e candidato a deputado Protógenes Queiroz (PCdoB) na TV.
Entre os méritos de Protógenes, a propaganda apresentava a prisão de Paulo Maluf, que considerou “o conteúdo ofensivo e degradante”.
O delegado afirmou que as imagens exibidas em seu programa eleitoral “são imagens públicas da punição penal aos prejuízos causados por Maluf à prefeitura e ao Estado de São Paulo”.
Protógenes tem 48 horas para recorrer da decisão. O candidato foi notificado nesta sexta-feira (20), às 18h30.
Maluf já conseguiu a suspensão e pede também a “perda do tempo equivalente ao tempo usado no período do horário gratuito subsequente”. Se houver reincidência, haverá perda do dobro do tempo.
Por ora, Protógenes está proibido de dizer que prendeu o ex-governador de São Paulo. Além de prender Maluf, Protógenes foi responsável pela prisão do banqueiro Daniel Dantas, durante Operação Satiagraha.
*ProtógenesQueiróz
Se, sim, viúvos e viúvas do grande prócer paulista migrarão seus votos pra quem?
"Aos vinte e nove de maio de mil oitocentos e oitenta e dois, nesta igreja matriz batizei solenemente a Getúlio nato a 19 de abril deste ano, filho legítimo de Manoel do Nascimento Vargas e de Cândida Dorneles Vargas. F.p. (foram padrinhos) Antônio Garcia da Rosa e Leocádia Francisca Dorneles Garcia. E que para constar lancei este assento que assino. O vigário encomendado, Roque Rotundo."
Porque não mataram Getúlio Por Brizola Neto Deputado Federal do PDT-RJ A essa hora da manhã, 56 anos atrás, as ruas já estavam cheias de uma multidão atônita, em pânico, em lágrimas. O estampido do pequeno revólver que disparara a bala fatal no coração de Getúlio Vargas ecoava como se fosse um poderosíssimo canhão, um grunhido de dor que enchia os subúrbios das cidades, tomava corpo, em pernas, caminhões, trens, ônibus e começava a fluir para as praças. Eram ondas e mais ondas de trabalhadores e trabalhadoras, de gente humilde, de patriotas. E a dor e a raiva, tão sempre companheiras, misturavam-se numa comoção coletiva e em atos de inconformismo, queimando os jornais que detratavam o velho e até empresas estrangeiras. O então jovem gaúcho Paulo José, o grande ator, conta que a multidão, em Porto Alegre, saiu “depredando tudo que tivesse nome americano: o Consulado, as Lojas Americanas, até a American Boite…” Nem eu, nem você, vivemos essas cenas. Elas se perderam no tempo e sobrevivem apenas nos velhos e riscados filmes em preto e branco, como o que reproduzo aí embaixo, uma regravação de Zé Ramalho, do genial “Ele disse”, composto por Jackson do Pandeiro sobre a carta testamento de Getúlio ainda ali, no terremoto da tragédia. Mas será que é mesmo assim? Será que como as velhas fotos de família que parecem nos retratar como já não somos mais, na aparência, não se guardam ali as raízes do que fomos e somos e que irrigam nossos sonhos e desejos. O Vargas dos direitos trabalhistas, do petróleo, da exploração soberana dos nossos recursos naturais, dos bairros operários, dos Iapis, que entoava o seu “trabalhadores do Brasil” ao discursar, para mostrar que falava ao povo, essencialmente, e não às elites deste país é uma destas raízes. Formou-se e tomou corpo absorvendo a seiva das lutas sociais da primeira metade do século 20 e cresceu em direção à luz do sonho de uma soberania nacional, um desenvolvimento autônomo que, como o sol, não importa que o quão longe esteja, nos alimenta com sua força vital. Ah, quantos machados e quantas serras tentaram cortar esta raiz. A ditadura e seus porões e seus exílios. Depois, os professores de finos modos e feroz crueldade, como Fernando Henrique e, como ele, outros tantos que, filhos de Vargas, desejaram tomar daquele pequeno revólver e disparar não contra seu peito, mas contra o que dentro dele havia: o desejo de um Brasil soberano, livre, forte, dono de suas riquezas e habitado por uma gente que reunia todas as diferenças de pele, voz, secas, águas, campos, praias, frios calores, mas que se igualava naquela expressão que os chamava à consciência de que éramos um povo e um povo valoroso: “Trabalhadores do Brasil”. Se Vargas estava morto,o que mais queriam matar? Era isso, meus amigos, era isso. Os que vieram de Vargas, na primeira geração, Jango e Brizola, receberam um anátema. Eram malditos. Foi preciso bani-los, para o exílio, para a morte ou para o desterro político do “ultrapassado, populista, demagogo”. Não houve poucos, que, com a arrogância dos que acham que, antes deles, nada havia, repetiram o que vinha das vozes oficiais, fixando seus olhos nas origens e nos defeitos dos homens, sem serem capazes de entender que ali não estavam apenas homens de carne e osso, mas personagens da história. Mas o processo social é caprichoso. Ao tomar posse, depois de uma estrondosa eleição popular, Getúlio saudou o povo trabalhador dizendo: “Hoje, estais com o Governo, amanhã, sereis Governo”. Pois não é que um operário de carne e osso – bem verdade que, por tempos, tutelado como ícone por um grupo de intelectuais onde não faltavam os elitistas, que torcia o nariz ao nome de Getúlio, chegou ao Governo. Lá, lá, ao seu jeito e nas suas circunstâncias, entendeu o que foi o velho, ao ponto de repetir seu gesto sujando a mão de petróleo, de praticar uma política de valorização do salário-mínimo que e muito mais forte do que aquele discurso de “conquista da categoria organizada” e de entender que modernização do país e crescimento econômico só podem existir, de verdade, quando há ascensão do nosso povão. Em um artigo que li, do professor Emir Sader, ele pergunta: - Como isso foi possível, depois de 21 anos de ditadura militar e de mais de uma década de governos neoliberais? Qual o fio condutor que articula o movimento popular brasileiro desde suas origens contemporâneas, na Revolução de 30, passando por estas oito décadas de acontecimentos tão significativos – progressivos e regressivos – até chegar ao complexo período que vivemos? Foi, professor, o fio da História, aquele que é tecido por gente e por fatos, por sonhos, por conquistas e derrotas, em que cada ponto se apóia e firma no ponto anterior, e no anterior, e no anterior,até estarmos todos seguindo uma linha que podemos nem mesmo saber onde começa, mas que serpenteia inexoravelmente em uma direção, como um rio procura o mar. PS. Hoje, às 15 horas, quando fizermos uma pequena homenagem a Getúlio, em seu busto, na Cinelândia, preparei uma surpresa, uma cena que vai parecer uma brincadeira a alguns. Não me importo. A memória de Vargas é para ser lembrada com alegria, não com lágrimas. Porque a melhor homenagem que ele poderia desejar está expressa na sua própria letra, às portas do gesto heróico de 24 de agosto de 1956: que o povo de quem ele foi escravo, um dia, não mais seja escravo de ninguém. ******************* Deputado Brizola Neto
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
Há pouco mais de meio século – em 1954 -, em um dia 24 de agosto, morria Getúlio Vargas, o mais importante personagem da história brasileira no século passado. Ele havia sido antecedido na presidência do país por Washington Luis (como FHC, carioca recrutado pela elite paulista), que se notabilizou pela afirmação de que “A questão social é questão de polícia”, que erigiu como brasão de seu governo, produto da aliança “café com leite”, das elites paulista e mineira (essa que FHC queria reviver).
Getúlio liderou o processo popular mais importante do século passado no Brasil, dando inicio à construção do Estado nacional, rompendo com o Estado das oligarquias regionais primário-exportadoras, e começando a imprimir um caráter popular e nacional ao Estado brasileiro.
Um país que tinha tido escravidão até pouco mais de quatro décadas – o último a terminar com a escravidão nas Américas - , que significava que o trabalho era atividade reservada a “raças inferiores”, passava a ter um presidente que interpelava os brasileiros no seu discurso com “Trabalhadores do Brasil”. Fundou o Ministério do Trabalho, deu inicio à Previdência Social, fazendo com que a questão social passasse de “questão de policiai”, a responsabilidade do Estado.
Começou a aparelhar o Estado para ser instrumento fundamental na indução do crescimento econômico que, junto às políticas de industrialização substitutiva de importações, deu inicio ao mais longo ciclo de expansão da história do Brasil. Promoveu a expansão da classe operária, criou as carreiras públicas no Estado, impulsionou a construção de um projeto nacional, de uma ideologia da soberania nacional, organizou um bloco de forças que levou a cabo o processo de industrialização, de urbanização, de modernização do Brasil.
Getúlio pagou com sua vida a audácia da fundação da Petrobrás, no seu segundo mandato. Foi vítima dos tucanos da época, com o corvo mor Carlos Lacerda como golpista de plantão. Tal como agora, detestavam tudo o que tivesse que ver com o povo, com nação, com Estado. Resistiram à campanha “O petróleo é nosso”, como entreguistas e representantes do império norteamericano aqui. A direita nunca perdoou Getúlio.
Os corvos daquela época – tal como os de hoje – desapareceram na poeira do tempo. Seu continuador, FHC, afirmou que ia “virar a página do getulismo”, porque sabia que o neoliberalismo seria incompatível com o Estado herdado do Getúlio. Fracassou seu governo e o projeto de Estado mínimo dos tucanos.
A figura de Getúlio permanece como referência central do povo brasileiro e se revigora com o governo Lula. Com a consolidação da Petrobrás, com a retomada do papel do Estado indutor do desenvolvimento econômico, da afirmação dos direitos sociais dos trabalhadores e da massa da população.
São Paulo, que promoveu uma tentativa de derrubada do Getúlio em 1932 – movimento caracterizado por Lula como uma tentativa de golpe -, promove Washington Luis e o 9 de Julho (de 1932), com nomes de avenidas, estradas e ruas, mas não tem nenhum espaço público importante com o nome do Getúlio. Não por acaso São Paulo representa hoje o ultimo grande bastião da direita, das forças e do pensamento conservador, no Brasil.
Getúlio foi um divisor de águas na história brasileira, como hoje é Lula. Diga-me o que pensa de Getúlio e de Lula e eu te direi quem você é politicamente. O dia 24 de agosto encontra o Brasil reencontrado com o Estado nacional, democrático e popular, com a soberania na política externa, com o regaste do mundo do trabalho, com mais uma derrota da direita. O fio condutor da história brasileira passa pelos caminhos abertos e trilhados por Getúlio e por Lula.
“Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.” (Rio de Janeiro, 23/08/54 – Getúlio Vargas)
Postei lá no brizolaco.com o discurso que fiz hoje, num ato simples, mas cheio de sinceridade e sentimento, junto ao busto do ex-presidente Getúlio Vargas, na Cinelândia. Nele, procurei fazer um paralelo entre a situação que Vargas enfrentou e a onda conservadora que hoje se levanta contra Lula e que, felizmente, encontra o lado popular com mais acesso à comunicação, para desmistivicar as infâmias, calúnias e mentiras que levaram aquele grande brasileiro ao isolamento e à necessidade de um gesto extremo para vencer politicamente a reação que, hoje vamos vencer pelas urnas. Foi legal que neste ato, usei pela primeira vez o “Lulão”, um boneco inflável “tripulado”, que vai participar de minhas atividades de rua. Assim, mesmo numa alegoria, foi possível juntar ali os dois, Vargas e Lula, numa imagem que ajuda a despertar as reflexões sobre a semelhança de seus papéis para o nosso povão.
O significado histórico da eleição de Mercadante (PT) no estado de São Paulo, precisa ser melhor melhor dimensionado, e melhor compreendido, para dar a verdadeira importância histórica.
Na superfície, vemos os 16 ou 24 anos de governo do grupo demo-tucano que está aí, deixando um legado de pedágios extorsivos, alagões, cracolândias, PCC's, crise na educação, engarrafamentos e escândalos de corrupção abafados, com polpudas contas bloqueadas na Suíça.
Mas o buraco é bem mais embaixo e tem impactos em todo o Brasil.
Os governos demo-tucanos paulistas tem a visão imperialista sobre os demais estados brasileiros por um lado, e a visão subalterna de colonizados diante dos países ricos, por outro lado.
São Paulo não deve ficar entrando em guerra fiscal com estados mais pobres do Brasil, impedindo seu desenvolvimento, como fizeram Serra e Alckmin.
Quando os outros estados se desenvolvem, São Paulo também ganha com o crescimento do mercado interno, vendendo produtos fabricados em solo paulista.
Por isso São Paulo precisa entrar em outro patamar, na fase que o presidente Lula inseriu o Brasil internacionalmente, e pensar grande. Precisa competir com os países ricos, pelos mercados da América Latina, da África, do Oriente Médio, e também conquistar mercados dentro dos próprios países ricos.
José Serra (PSDB), como relator do capítulo tributário na constituinte, usou a lei do mais mais forte, de maior poder político e econômico, para saquear o ICMS do petróleo, prejudicando o Rio de Janeiro, Espírito Santo e Sergipe na constituinte. Saqueou também o ICMS da eletricidade de Itaipu, prejudicando o Paraná. Não precisava fazer isso, e só teria a ganhar se não tivesse saqueado. Estes estados, todos vizinhos de São Paulo, quando enriquecem, são também mercados consumidores de produtos paulistas.
Nos governos de Alckmin e Serra, eles achavam São Paulo pequeno para ter um banco como o Banespa. Venderam para os espanhóis. Achavam SP pequeno para ter companhias de energia. Venderam a Eletropaulo para a falida AES. Achavam São Paulo pequeno para ter um empresa de telefonia e banda-larga, com tarifas que dá e sobra para amortizar qualquer investimento. Deixaram vender a Telesp para os espanhóis.
Não por acaso, o PIB da Espanha havia passado o do Brasil na época de FHC. São Paulo foi submissa diante de Madri, de Nova York, se comportando como Colônia diante da Metrópole.
Nos anos FHC, o escritório da GM para a América Latina, chegou a fechar em São Paulo e atender em Miami, sem qualquer reação dos governadores demo-tucanos.
Empresas de informática saíam de São Paulo e iam para o Chile atender toda a América Latina. Alckmin, Serra e FHC, não tinham coragem de taxar os produtos e serviços vindos do Chile, destas empresas, mas Serra se fez de "macho" para sobretaxar os produtos da Zona Franca de Manaus, barrando sua entrada em São Paulo.
A Argentina já foi um dos países mais rico do mundo, e por acomodação e relações carnais com o neoliberalismo, empobreceu, enquanto outros países enriqueceram. Se São Paulo quiser viver do passado, se acomodando com a tradição de locomotiva do Brasil, também acabará ficando para trás, porque o Brasil tem muita riqueza para ser desenvolvida em todos os estados, e comporta várias locomotivas.
São Paulo com Mercadante, crescerá de dentro para fora, como o Brasil de Lula e Dilma, sem ser imperialista sobre os demais estados brasileiros, pelo contrário, aproveitando as oportunidades de crescimento do mercado interno.
São Paulo, com Alckmin, continuará pensando pequeno, com guerrinhas fiscais com estados do Nordeste, com o Amazonas, com o Espírito Santo, com Santa Catarina, e com a visão submissa diante dos países ricos, vendo o Brasil e América do Sul crescer em torno de si.
Até para a reforma tributária sair, é mais viável um pacto nacional com Mercadante. Ele não deixaria São Paulo sofrer perdas, mas não teria a visão tacanha de obstruir o desenvolvimento de longo prazo. Com Alckmin, será repeteco das discussões que já foram emperradas por ele e Serra, durante o governo Lula.
São Paulo, com Alckmin, será como aquele vizinho de família rica, que recebeu uma boa herança e, em vez de trabalhar e estudar para prosperar também, fica revoltado com os vizinhos que enriquecem, e quase tem um ataque quando vê seu vizinho operário, no fim da rua, comprar um carro parecido com o dele.