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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 24, 2010

O Brasil têm dono Os Brasileiros






Terras no Brasil não são mais para dar e vender

Desde o ano passado que eu estou aqui batendo na tecla da concentração de terras no Brasil, dizendo que, enquanto a oposição segue reclamando das ações do MST, as terras do país continuam sendo vendidas para o capital estrangeiro.

A manchete de hoje do Valor Econômico mostra que o presidente Lula assinou o parecer da AGU que restringe e regulariza a compra de propriedades no Brasil por pessoas físicas estrangeiras e por empresas que usam cidadãos brasileiros como “laranjas” para a aquisição de propriedades agrárias. A assinatura de Lula torna obrigatório o cumprimento do parecer da AGU em todo a administração pública.

De acordo com o jornal, a nova interpretação da lei que limita esses negócios vai fixar uma área máxima para o tamanho das propriedades compradas por capital estrangeiro, seja por pessoas físicas ou jurídicas. Além disso, o projeto pretende criar uma autorização especial para aumentar a fiscalização sobre essas transações, através de registros separados nos cartórios.

A medida não tem nada de xenófoba e é estratégica diante do avanço de estrangeiros sobre terras brasileiras, motivados pela valorização das commodities agrícolas e pelo desenvolvimento dos biocombustíveis. O mercado já chiou, como mostra outra matéria do mesmo Valor, dizendo que a medida afugenta o investidor, mas a decisão de Lula foi acertada para conter uma preocupante invasão estrangeira em terras brasileiras.

Segundo os índices do IED (Investimento Estrangeiro Direto) publicados pelo Valor em dezembro do ano passado, 25% dos municípios do Brasil tem propriedades agrárias compradas com capital estrangeiro. Em 124 destes municípios, as terras compradas por estrangeiros já somam mais da metade de todas as grandes e médias propriedades.

Claro que as novas regras não incluem os estrangeiros residentes no país. Seu objetivo não é excluir o direito à propriedade dos imigrantes que aqui estão. A lei é uma questão de soberania nacional e visa reduzir a presença do capital especulativo na agricultura familiar e na compra de grandes agroindústrias como usinas de cana.

No setor canavieiro, por exemplo, o capital estrangeiro investido vai chegar a 20% do total do mercado no ano de 2010, graças especialmente à compra de uma série de usinas Santelisa Vale pela empresa francesa Louis Dreyfus.

Se somarmos a região Sul, a região Centro-Oeste e os estados de São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Amazonas, Bahia e Pará, o capital estrangeiro já soma 3.6 milhões de hectares, ou três vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. Em todo o país, o número chega a 4.3 milhões de hectares.

A nova regra já poderá incidir sobre situações mal esclarecidas como a venda, noticiada hoje no Valor, dos ativos florestais da empresa Bardella Indústrias Mecânicas, para um comprador não identificado, no valor de R$ 119 milhões, pagos à vista, segundo o diretor de Relações com Investidores da empresa, José Roberto Mendes da Silva. Não se sabe se os novos detentores da terra serão estrangeiros, mas, se forem, terão que atender às novas limitações, que passaram a vigorar imediatamente após a assinatura.

dotijolaço

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